Trabalhadores e donas de casas que convivem com uma rotina de medo imposta por traficantes, homicidas e assaltantes no conjunto de prédios e casas do loteamento Campos da Serra, em Caxias do Sul, estão temerosos.
Algumas famílias se mudaram após ameaças e agressões. Outras tentaram voltar e foram impedidas de ocupar a própria moradia.
Sem referências, jovens são aliciados por criminosos em condomínio de Caxias
As denúncias de violência são investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Um dos documentos recebidos pelo MPF cita inclusive a presença de supostas milícias agindo à revelia do poder público, o que não está confirmado. Os relatos abaixo foram obtidos pela reportagem.
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CONFIRA ALGUNS RELATOS:
'Jogam drogas pela janela'
- Não é fácil aqui dentro, deveria haver repercussão. Jovens usam drogas e ainda posam para câmeras para mostrar o consumo. Dos 120 apartamentos do condomínio onde moro, tem pelo menos três com tráfico de drogas. Eles não se importam muito se vão ser vistos, jogam drogas pela janela para vender. Usam no pátio, no parquinho. Acho que a polícia vai ter que agir nos apartamentos. No pátio até tentamos intervir, mas não vamos enfrentar traficantes. Muita gente quer ir embora.
'Pintam as câmeras para impedir a gravação'
- Tem uma mulher que ficou três anos presa por tráfico. Ela veio morar aqui e trouxe um genro de Porto Alegre. Eles já pintaram as câmeras de segurança com spray para impedir a gravação. Adoro meu apartamento, coloquei piso novo. É um lugar bom para morar. Mas como vou conviver com esse tipo de gente? Tenho casal de netos, como vou deixá-los na rua? Eles vendem drogas até no portão. Já vimos crianças consumindo maconha no pátio, crianças de 10, 11 anos. Estão sujeitos a se matarem entre eles e sobrar bala pra gente. Fazem gato de água e luz. A hora que receber minha escritura vou vender.
'Querem mandar nas famílias'
- Eles gritam "chuva" pra avisar quando a Brigada está no bairro. Daí todo mundo entra pra dentro dos apartamentos. Querem começar o tráfico de drogas e mandar nas famílias. As pessoas chegam do trabalho e estão consumindo drogas na frente do portão. Não querem nem saber. Querem que as pessoas se submetam a eles. Meu sonho é ir embora daqui. Crio meus filhos dentro do apartamento. Meu filho foi ameaçado porque não quis mais se envolver na turma
'Fui atacada e fui embora'
- Me agrediram numa reunião. Fui atacada e fui embora no dia seguinte. Quem bateu foram quatro pessoas, entre eles, um homem que era do presídio. Hoje, a mulher dele é quem trafica na torre. Na época, tentamos colocar câmeras, mas houve forte resistência dessa turma, não queriam "que aqui virasse um big brother". Devolvi meu imóvel e não peguei um real de volta, perdi tudo, mas estou recomeçando. Antes de ser agredida era ameaçada constantemente, quase fui esfaqueada. Tentamos cobrar a inadimplência e a convivência e somos repreendidos, mas sabemos que os motivos são outros. Essas pessoas não querem ninguém controlando, eles querem impor a lei. Sinto pelo que perdi, mas estou numa vida nova. Também teve um policial militar que não aguentou a pressão e teve que sair com a família. Já denunciei prostituição, tráfico e pouco se fez.
'Não podemos nem entrar na nossa casa'
- Minha mulher foi agredida por algo que não fez, pela vizinha de baixo. Daí ela não quis mais ficar no prédio e decidiu ir embora (no dia 28 de maio). Alugamos uma casa no bairro Kayser. Depois que saímos, íamos lá frequentemente para olhar o apartamento, para limpar. Um dia voltamos e vimos a luz acesa. Fomos com a secretaria de Habitação e ninguém atendeu a porta, tinha até grade. Agora não podemos nem entrar na nossa casa. Tem gente morando ali e nem sabemos nem quem é.