Dias atrás uma colega voltou do lanche branca, verde, roxa, pasma de incredulidade. Rozana Ellwanger ouviu uma operadora de caixa anunciando sem reservas para outra caixa sua opção de ser racista.
A caixa revelou, inclusive, que uma filhinha sua demonstrava o mesmo comportamento ("parece que ela pegou isso ainda na minha barriga"), concluiu a mãe, ignorando o óbvio.
A mulher também confidenciou que a pequena abandonou as aulas de capoeira porque o professor era negro.
Esse tipo de flagrante realmente deixa qualquer ser que se julga humano branco, verde, roxo.
De pronto lembrei da Queren, negra, grávida, coincidentemente ex-caixa de mercado. Em abril de 2011, aos 23 anos, Queren foi alvo de racismo no emprego. O ataque partiu do próprio patrão. Embora abalada em sua essência, Queren não se intimidou: registrou queixa na polícia por injúria racial. Obteve enorme apoio da sociedade. Mais, foi indenizada por danos morais.
Em entrevista ao Pioneiro, à época Queren disse estar se sentindo pequena, minúscula, ainda menor que seu metro e meio de altura.
Impossível extrair tudo o que ia na cabeça daquela mulher aos oito meses de gravidez recém-chegada a Caxias em busca de uma vida digna.
Caxias, porém, recebeu Queren com a pior faceta que a cidade se auto moldou.
A entrevista encerrava assim:
Pioneiro: Que recado a senhora daria para alguém que fere outra pessoa?
Queren: Que Deus faça justiça, primeiramente. Que essa pessoa sinta na alma o que estou sentindo por dentro. Não sei se ele (o empregador) tem sentimento dentro dele, mas se tiver, quero que sinta por dentro...
Não tapemos o sol com a peneira.
Em relação à intolerância, o Brasil vive um dos piores momentos das últimas décadas. Em plena era da informação é inexplicável, mas palpável: engatamos marcha a ré quase generalizada em relação a direitos e deveres do cidadão.
Teoria a ser carimbada por algum estudo sério: não estávamos prontos para absorver o mundo rápido, apressado e tecnológico que nos atropelou.
Opinião
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