A questão do número de participantes em protestos sempre gera controvérsia. O número passa a ser mais importante que o ato em si, que a qualidade da manifestação, que o objeto do protesto, que os resultados obtidos. Números, mais do que tudo, são relativos. Sabendo dessa relatividade, os organizadores dos atos tendem a jogar a participação lá nas alturas, como se pouca gente significasse fracasso e muita gente, sucesso. Com razão, a PM e a BM logo tratam de reduzir essa massa exagerada a um número mais real, ainda assim sempre relativo.
A controvérsia dos números ficou escancarada nos protestos de domingo. Em raríssimos casos os organizadores dos protestos e as autoridades da segurança pública divulgaram números semelhantes. Um desses raros casos em que houve acordo foi em Manaus: o protesto reuniu 600 almas segundo todas as estimativas.
Exemplos em que o tal número esteve longe de bater:
Em Fortaleza, 50 mil segundo os manifestantes, 15 mil segundo a PM.
Porto Alegre, 70 mil x 30 mil.
Brasília, 80 mil x 25 mil.
Belém, 10 mil x 5 mil
Caxias, 25 mil x 7 mil.
Alô, patrulha: para evitar conclusões ligeiras acerca das posições políticas do colunista, eis os números da concentração no Instituto Lula (SP) a favor de Dilma: Os manifestares defenderam público de 5 mil. A PM contou 1,5 mil.
É natural que os manifestantes puxem o número para cima, mas esse debate numérico deveria ser acessório, não se transformar num cavalo de batalha mais importante que o próprio protesto.
Não importa o que defendem ou o que critiquem, mas quando organizadores de manifestos políticos inflacionam escancaradamente o volume de adeptos estão repetindo exatamente o que dizem combater: a falta de transparência, a manipulação, os interesses.
Um leitor muito consciencioso e ativo na comunidade escreveu:
"(...) Fiz parte deste teatro no domingo. Será que conseguiremos alguma mudança a partir de agora? Acredito que será muito duro.
Lembra da frase ame-o ou deixe-o? Pois estou chegando à conclusão que a nova frase seja: os incomodados que se retirem...pois este é o país que temos a oferecer aos brasileiros".