Senegaleses e ganeses estão repetindo o que sempre fizeram: estão saindo do berço humano na África para buscar melhores condições de vida.
Resumidamente, é a jornada humana cuja largada, há milhares de décadas, resultou na ocupação do que hoje é a Europa, a Oceania, as Américas, o Oriente Médio.
Os homens pré-históricos não saíram da África para curtir outras paisagens em excursões turísticas. Eles se aventuraram pelo mundo por necessidade, por fome.
Mais recentemente, cerca de 4 mil, 3 mil anos para cá, as andanças adquiriram outras motivações.
O homem se fixou, desenvolveu instrumentos e ferramentas e saiu mundo afora para conquistar, desbravar, geralmente mediante guerras.
O atual vaivém humano não é muito diferente. Os africanos, inegavelmente tão gente quanto todos nós, estão novamente abandonando seus berços por necessidade.
Eles não estão vindo somente para cá. Todos sabemos, a massa que desembarca na Itália, na França e na Inglaterra é incomparavelmente maior.
É desumano adotarmos cegamente a cartilha geopolítica desenhada por meia dúzia de poderosos que lotearam a Terra e que nos encurralaram em quadradinhos dominados por, pasmem, gente humana igual nós, igual aos senegaleses, aos ganeses, aos haitianos.
Hoje, quem pragueja contra os imigrantes deveria olhar para trás e recordar que nossas origens italianas, alemãs, americanas não passam de evoluções cuja origem é a mesma África que tantos abominam. Se os ganeses e senegaleses deveriam voltar para casa, aconselho que os insatisfeitos com sua presença façam a trouxa e partam junto.
Mas sugiro que encarem de verdade as próprias origens, mergulhem de fato no barro primeiro, sem escalas nos portos europeus que concederam o salvo-conduto para que peregrinássemos pelo mundo até encontrarmos o ponto ideal.
Não é saudosismo, nem revanchismo, mas não podemos esquecer jamais que todos nós somos resultado de uma espécie que já andou muito por aí e que continuará andando enquanto não houver justiça social para todos.
Quimera, delírio do cronista?
Seja.
Opinião
Gilberto Blume: todos nós somos resultado de uma espécie que já andou muito por aí
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