Um dos piores defeitos de fabricação do ser humano é a sua tendência à passividade. Gostamos que façam as coisas pela gente; preferimos delegar compromissos e atribuições a fazermos por conta própria o mundo andar como de fato desejaríamos. É por isso que precisamos tanto de líderes, sejam eles quem forem, desde que demonstrem possuir disposição para administrar os poderes, as tarefas e as atribuições que entregamos a eles.
Liderar um grupo, uma comunidade, um povo, uma nação, requer, além das características acima expostas, também certa dose de abnegação, que se traduz pela disposição em ceder seu próprio tempo, seu próprio suor, seu próprio ser, em favor do fardo de assumir a frente de demandas comuns outorgadas por aqueles que depositam sua fé na atuação desse líder para a resolução de seus problemas.
É assim que vemos surgirem e se perpetuarem as lideranças e não me parece que somos muito exigentes quanto à necessidade de detectarmos nos perfis de nossos líderes a manifestação de atributos como honestidade, moral, ética, confiabilidade, coerência, abnegação, disponibilidade, senso de justiça. Desde que liderem, desde que assumam a frente, enfrentem os compromissos e tomem as decisões, para nós, está bom, porque assim podemos seguir vivendo nossas vidinhas sem nos incomodarmos com nada.
Gostamos de nos fazer de indignados com a corrupção que corre solta pelo país; gostamos de latir e esbravejar, mas jamais ousamos morder de verdade. Odiamos os maus políticos, mas continuamos elegendo-os, afinal, nós, que somos honestos, é que não temos disposição para irmos lá tentar mudar as coisas. Perceber que as coisas não estão indo bem é um passo importante para que se possa ter esperança de que a situação venha a mudar para melhor. Saber que as coisas vão mal, resmungar pelos cantos e não tomar atitudes, porém, é uma postura que belisca perigosamente a fronteira da conivência.
Saber e nada fazer pode ser uma decisão que garanta tranquilidade e conforto momentâneos, mas o preço que essa postura cobrará no futuro pode ser alto demais para a sua consciência. Está na hora de pensarmos seriamente sobre qual é o tipo de líderes que de fato queremos e arregaçarmos as mangas em favor deles desde já.
Opinião
Marcos Kirst: odiamos os maus políticos, mas continuamos elegendo-os
Afinal, nós, que somos honestos, é que não temos disposição para irmos lá tentar mudar as coisas
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