* Raquel Fronza (interina)
O tipo de câncer que aparece com mais frequência no Brasil é o de pele. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) é que ele corresponda a 25% de todos os tumores malignos registrados no país. É uma doença com chance grande de ser curada, se for detectada precocemente. Detectada precocemente... Mas não seria mais fácil prevenir?
Só Deus sabe o quanto essa cena me incomoda: perto do meio-dia, quando começo a enrolar o guarda-sol, fechar as cadeiras de praia, molhar os pés na água para calçar o chinelo e ir embora dali, começam a chegar famílias na beira-mar. Famílias inteiras. Pai, mãe, filhos, sobrinhos, amigos. Turmas de guris e gurias, carregando caixinhas de som gritando "quero ver se tu aguenta", fazendo fotos, se divertindo. Nem é esse furdunço que me incomoda. É o horário. Eles chegam, na beira-mar, ao meio-dia.
Por que? Todos gostam de dormir um pouquinho mais na praia. É nas férias que conseguimos reprogramar o despertador, nos desligamos do Bom Dia Rio Grande, temos esse luxo todo de esquecer do mundo. A Rádio Gaúcha? Só para saber a previsão do tempo. Por isso, perto das 9h, quando faço minha aparição à beira-mar, tenho espaço de sobra para me esparramar na areia. Eu adoro. Quando saio dali, o povo se espreme.
Tudo bem, vá lá. Você tem toda a liberdade - e culpa - por preferir se banhar ao sol quando a radiação ultravioleta é muito forte e, ainda por cima, existe uma grande quantidade de raios infravermelhos. Você quem sabe. Esses raios não bronzeiam, só queimam a pele, li na SuperInteressante. Mas não precisa arrastar as crianças para esse sol tão árduo, tão triste, tão forte. Elas farão isso depois, mais velhas. Meus pais me ensinaram que devo ir para a beira no começo da manhã e nos fins de tarde. Ok, talvez seja por isso que seja do tipo de veranista que volta da praia e escuta, em tom de piada:
- Mas tu não estava na praia, Raquel?
Tudo isso pelo meu bronzeado-palmito. Sou muito, muito branca. Translúcida, como já me chamaram. Transparente, já escutei também.
Pensei que talvez isso mudasse com o tempo. Que minha pele se acostumasse ao sol, que um dia eu conseguisse mostrar que eu passei pela praia e, vejam só, me bronzeei. Quando era criança, eu respondia às provocações:
- Fui para a praia brincar, e não me bronzear.
Hoje, quando perguntam, já emendo uma piada e rio da minha cor. Paciência. Sou assim. Aos 15 anos, passei quase 30 dias na praia. Um desbunde. Pela primeira vez, estava bronzeada. Não via a hora de voltar para Bento e exibir minha cor. Logo que desembarquei na Capital do Vinho, em fevereiro de 2005, fui para uma aula de inglês.
Que ansiedade em ouvir os comentários. Era meu grande dia. De fato, nunca esqueci o que escutei.
- Bah, Raquel. Que estranha tu fica bronzeada. Nem parece tu, nossa.
Estranha branca, estranha bronzeada. Então, prefiro protetor 30 e pele saudável.
* O colunista Gilberto Blume está em férias.