A maioria de nós já ouviu (cometeu?) comentários jocosos a respeito dos senegaleses que andam interferindo com força na paisagem da cidade. Fácil detectar, muitos desses comentários vêm carregados de preconceito e, sem exageros, de racismo.
Os rapazes senegaleses são inequivocamente pretos, muito mais pretos do que os pretos que os branquelos daqui estão habituados ver. A intensidade do preto na cútis senegalesa certamente tem ensejado tristes comentários. Um fato, porém, é inegável mesmo para o mais renhido defensor de territórios e contrário à miscelânea de culturas, sangues, gentes: os senegaleses não se metem em confusão, não frequentam páginas policiais dos jornais, não brigam, não armam rolezinhos, não engordam bondes, não matam, não roubam, não ameaçam, não.
Eles são da paz, pois.
Fator que pode explicar esse caráter pacífico dos senegaleses é a religiosidade. Muitos, a maioria segue a religião islâmica. São muçulmanos, portanto (e aí pode morar outra fonte de preconceitos).
A tranquilidade com que os pretos senegaleses religiosos levam seus dias pode ser comparada à tranquilidade com que um brasileiro religioso de qualquer cor leva seus dias: na paz, na boa, com respeito. Não é comum lermos nas páginas policiais que um bandido era assíduo frequentador de algum templo religioso, seja qual for a orientação dessa fé. Por que seria diferente com os senegaleses?
Os senegaleses estão fazendo o que todos (TODOS) nossos antepassados fizeram. A busca por uma vida digna é direito universal.
Sugiro nos ocuparmos com nossos próprios pecadilhos antes de profetizar a maldição senegalesa. A diversidade, tão em alta, poderia respingar em alguns de nós que resistem a largar o osso da impossível exclusividade. Deixemos o egoísmo de lado
Alô, patrulha: chamar alguém de preto deixou de ser politicamente incorreto. Pelo contrário, o termo negro carrega muito mais nuvens pesadas do que o termo preto. O IBGE classifica o povo brasileiro em pretos, pardos, brancos, amarelos e indígenas. Tudo isso junto dá uma paleta e tanto, hein?
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Os 17 leitores da coluna talvez tenham lido a crônica acima, publicada em abril. Republico-a não porque a preguiça bateu, mas para marcar o Dia da Consciência Negra (20 de novembro). Originalmente intitulado Os Pretos, nesta semana o texto abiscoitou o certame local do Prêmio RBS de Jornalismo e Entretenimento - Categoria Crônica. É Nóis!
Opinião
Gilberto Blume: Os pretos
Os 17 leitores da coluna talvez tenham lido a coluna abaixo. Republico-a não por preguiça, mas...
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