Gilberto Blume: caixinha de surpresas

A política dá voltas, às vezes sequer conseguimos nos refazer de uma surpresa e pá!, somos surpreendidos de novo.

A morte de Eduardo Campos.

A nação foi sacudida pelo desastre e se mostrou socialista. Confesso que me surpreendi sobremaneira com a revelação de que a pátria é socialista. Jamais imaginei que o brasileiro era tão assumidamente socialista. Também me surpreendi com a comoção generalizada, visto que até morrer Eduardo Campos, combinemos, ainda era desconhecido em grande parte dos rincões brasileiros.

Os dias seguintes à morte foram acelerados. Até a viúva foi cogitada para vice de Marina. Uma chapa com Marina e Renata seria deveras surpreendente. Alguns dirão que seria deveras oportunista, pois a missa de sétimo dia de Eduardo Campos sequer fora rezada e a viúva já estava com um pé no palanque.

Em nome da dignidade humana, fico feliz em saber que a viúva recuou.

Os dois primeiros dias de propaganda eleitoral gratuita (e obrigatória) foram generosos em loas ao candidato morto. Propostas praticamente sequer foram anunciadas, mas os elogios dos ex-adversários ao socialista morto roçaram o exagero e, de novo, o oportunismo.

Agora temos um candidato a vice gaúcho.

Beto Albuquerque, quem diria, pode ser vice-presidente do Brasil.

Na eventualidade de Marina vencer a eleição, o vice será gaúcho.

E daí?

Daí que Beto Albuquerque pode ser presidente da República.

Para que Beto Albuquerque vire presidente da República basta que Marina viaje, entre em férias, renuncie, morra. A história recente registra dois vices que foram levados a morar no Palácio do Planalto. A possibilidade do feito se repetir existe, é real. Quem te viu, quem te vê: Beto Albuquerque vice-presidente do Brasil!

O homem que até pouco tempo atrás era enviado à Serra para empurrar com a barriga promessas de obras nas estradas agora concorre a vice-presidente. Nada mal.

Creiam, nada é improvável neste Brasil em que a política costuma se movimentar aos sobressaltos, ao sabor das conveniências, de acordo com as "bases", essas entidades político-partidárias que trafegam numa via paralela e  absolutamente estranha à vida real do cidadão.

Dizem que brasileiro não vota em vice, vota no candidato principal. Mesmo assim, para o bem ou para o mal, calha lembrar sempre que na chapa de Marina Silva concorre o gaúcho Beto Albuquerque.