É sem visto e cruzando fronteiras ilegalmente que a maioria dos senegaleses ingressa no Brasil. Em Caxias do Sul, estimativas apontam mais de 400 vindos do Senegal, a grande maioria homens.
Diversos caminhos os trazem até o Brasil. O mais comum é que os africanos voem até Equador, com escala na Europa, em geral Portugal ou Espanha, e depois sigam por terra. O aeroporto equatoriano de Guayaquil é a principal porta de entrada. O motivo é que naquele país não há exigências burocráticas para desembarcar. O único empecilho é a cobrança de propina para liberar o passageiro do aeroporto, sofrida por alguns, conta a coordenadora do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), irmã Maria do Carmo Gonçalves.
Foi pelo Equador que dois senegaleses que aceitaram contar a trajetória ao Pioneiro iniciaram a saga até Caxias. Eles não falam abertamente sobre a ação de coiotes (atravessadores), responsáveis por facilitar a entrada ilegal de um país a outro, mas confirmam que existem. Os dois, ambos de 25 anos, narraram a saga com a ajuda de um compatriota que fala português, mas não aceitaram ser identificados por ainda estarem em situação irregular.
Um deles, após entrar no Equador, cruzou o Peru até chegar à Bolívia. Ainda na fronteira, teve de entregar a mala e todo o dinheiro que carregava. Pediu esmola por mais de um mês e alimentou-se de lixo pelo país. Há cerca de uma semana, ele está em Caxias.
- Fiquei com medo de morrer - disse, por intermédio do tradutor.
Apenas com a roupa do corpo, restou a ele e a outros três que compunham o grupo pedir dinheiro pelas ruas bolivianas. Ele conseguiu ingressar no Brasil ao se juntar a outros 10 compatriotas. A travessia ocorreu por um rio em Corumbá, no Mato Grosso do Sul.
O outro senegalês que aceitou contar a trajetória perdeu dinheiro na fronteira entre Equador e Peru. A polícia (ele não sabe explicar de qual dos dois países) exigiu US$ 100 de cada um do grupo.
Após cruzar o Peru, o africano entrou no Brasil pelo Acre. Para cruzar a fronteira, pagou US$ 25 a um taxista. Entre a chegada ao Equador e a entrada em terra brasileira, foram seis dias. O trajeto foi percorrido parte de ônibus, parte a pé. Ele conta que chegou a caminhar sete quilômetros.
Ao ingressar no Brasil pelos estados do Norte ou Centro-Oeste, o trajeto é praticamente o mesmo: os senegaleses embarcam em ônibus até São Paulo e, de lá, até Caxias do Sul. Outros preferem descer até a Argentina e atravessar a fronteira com o Rio Grande do Sul.
Leia a matéria completa no Pioneiro deste final de semana.
Migração
Senegaleses que estão em Caxias do Sul narram o caminho percorrido entre o Senegal e o Brasil
Caminho mais comum é tomar avião até o Equador e seguir até a região sul de ônibus e a pé
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