Todas as segundas, quartas e sexta-feiras, José Adezildo Borges de Mesquita, 57 anos, tem um compromisso inadiável no Instituto de Nefrologia (Innefro) do Hospital Pompéia: enfrentar a máquina de diálise.
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Por volta de 12h30min, ele deita em uma poltrona junto à parede de vidro e fica a observar o movimento da Avenida Julio de Castilhos lá embaixo. Em seu braço esquerdo, tubos e catéteres transportam o sangue para a máquina filtrar e o devolvem ao corpo num processo contínuo que leva cerca de quatro horas.
Resignado, Mesquita enfrenta essa rotina há 25 anos. Todo esse tempo deu a ele um recorde a ser comemorado: é o paciente mais antigo do setor de hemodiálise do Pompéia. A primeira sessão na instituição foi realizada no dia 6 de agosto de 1990, encaminhado pelo nefrologista Osvaldo von Eye.
Ele descobriu a insuficiência renal em 1985, quando tratava um problema de hipertensão. Precisou largar o trabalho como pedreiro e ferreiro na localidade de Capão Grande, interior de Vacaria, onde nasceu, para se mudar a Caxias do Sul e tratar da saúde. No início, Mesquita achava que não conseguiria dar a volta. A hemodiálise era um procedimento estranho, assustador até:
- A minha filha mais nova tinha três meses quando comecei a fazer a diálise. Achei que não ia vê-la crescer. Hoje ela está aí, com a vida encaminhada, com a sua própria família - comemora.
Por tudo o que passou, Mesquita é mesmo duro na queda. Enfrentou dois transplantes, retirou a vesícula, operou uma catarata e lutou contra uma pneumonia que o deixou em coma por vários dias. Ele recebeu o primeiro rim em 1989. Ficou 11 meses com ele até que, após uma queda, um vaso sanguíneo do órgão se rompeu e ele parou de funcionar. Nova operação e diálise. O segundo rim foi transplantado em 1996, mas também sem sucesso.
- Meu organismo não suportou. Eu estava muito fraco e a minha bexiga se rompeu. A partir dali, voltei para a máquina (diálise) e nunca mais parei. Agora, eu é que não quero mais enfrentar outro transplante. Acho que não aguentaria - conta.
Entre as lições que tirou de tanto sofrimento, Mesquita diz que aprendeu a cuidar da saúde, o que inclui alimentação controlada, remédios e visitas frequentes ao médico.
- Quanto mais a gente conhecer o próprio organismo, melhor. É preciso conviver com a doença da melhor forma possível, que a vida vai indo. E o principal: não se revoltar contra Deus. Tem dias que a gente acorda depressivo, triste, mas pensa que amanhã vai ser diferente e vai. Tenho muita fé e acho que é isso que me mantém vivo e com saúde. Enquanto Deus me der força para respirar, vou continuar lutando - diz, emocionado.
Quando pergunto a ele o que mais sente falta, ele responde de pronto: água. Como não urina, Mesquita precisa restringir ao máximo a quantidade de líquidos ingerida, o que evita efeitos desagradáveis como falta de ar, vômitos e mal-estar.
- Faz muitos anos que não tomo um copão de água, daqueles de encher o estômago. Tomo aos pouquinhos e quando tenho muita sede, encho a boca, sinto a água e cuspo fora - revela.
Família
Como não se afasta de Caxias em função da diálise, Mesquita pouco sai. Diz que quando precisou viajar, sentiu-se mal e a pressão subiu. Então, hoje, ele prefere receber as visitas dos parentes, das filhas e do neto em casa, onde gosta de cozinhar.
Até pouco tempo atrás, quando o reumatismo não atrapalhava os movimentos nos braços, ele também fazia trabalhos manuais como tricô e crochê para passar o tempo, já que está aposentado. Além do convívio com a família de sangue, Mesquita diz que conquistou uma família afetiva nas sessões trissemanais de diálise no Pompéia:
- Todos são muito legais com a gente, enfermeiros, técnicos... É preciso manter uma relação de confiança com eles. Ah, e eu também já completei bodas de prata com o doutor Osvaldo (von Eye) - brinca.
Paciente mais antigo
Conheça a rotina de José Adezildo Borges de Mesquita, que faz sessões de hemodiálise todas as segundas, quartas e sextas no Hospital Pompéia
Mesquita enfrenta essa rotina há 25 anos
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