O objetivo declarado das manifestações em Caxias era aderir à mobilização do Dia Nacional de Lutas, ajudando a pressionar o Congresso e a presidente Dilma Rousseff em torno da pauta trabalhista. Implicitamente, serviu como tentativa de retomada de espaço de entidades sindicais que, até pouco tempo, comandavam manifestações de rua, geralmente restrita a uma classe trabalhista ou outra.
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Líderes de categorias alegavam não ver novidade em protestos na rua, nitidamente incomodados com a rebeldia de quem afirmou não ser representado por essas entidades. Houve quem criticou ao Facebook, "uma ferramenta anônima e manipulada", utilizada para mobilizar a população nas manifestações de junho. Também repudiaram a violência e as máscaras, outra marca dos protestos populares.
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- Caxias parou? Parou, sim, com o trabalhador de madrugada, não como muitos que dormiam até tarde e no final do dia faziam um passeio pela cidade - disparou o presidente do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindiserv) e representante da Central Única de Trabalhadores (CUT), João Dorlan.
Bandeiras de sindicatos, movimentos sociais e partidos, repudiadas nas manifestações espontâneas de junho, voltaram às ruas: a das entidades organizadoras, como Cpers e CUT, se misturaram as do Movimento dos Sem Terra, Partido Comunista do Brasil, Partido dos Trabalhadores e até da República de Cuba.
Políticos com mandatos também circularam livremente entre os manifestantes, sem se tornarem alvos de represálias pelo descontentamento generalizado com a classe apontado na onda recente de manifestações.
Um dos representantes do Movimento Caxias Acordou, organizador de manifestações em 21 de junho e 5 de julho e que aderiu à paralisação de quinta-feira, ocupou o microfone para defender que a pauta das manifestações anteriores também era definida. Como réplica, ouviu que os trabalhadores sempre estiveram na rua.
- Hoje, sim, é um dia histórico - defendiam alguns.
A ocupação da praça Dante Alighieri, ponto de convergência das manifestações em Caxias, se deu gradativamente a partir das 8h30min. Professores estaduais foram os primeiros a chegar, reivindicando o pagamento do piso salarial pelo governador Tarso Genro (PT), seguidos de bancários, agentes de saúde, vigilantes, carteiros, metalúrgicos, que fizeram coro aos pedidos de valorização do trabalhador.
Com o movimento comunitário, representado pela União das Associações de Bairros (UAB), também surgiram pedidos de atenção a bairros da periferia. Por volta de 11h20min, a manifestação tomou corpo com a chegada do grupo que bloqueou a BR-116, liderados pelo deputado federal e presidente licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos, Assis Melo (PCdoB).
- A luta é nossa, a luta é sua. Vem pra rua, vem pra rua - cantava, numa versão adaptada do grito dos manifestantes de junho.
Em meio aos pedidos de mobilização da categoria em busca de melhores índices de reajuste salarial, Assis declarou, quase em tom de desabafo:
- Sou um parlamentar, sim, eleito pelos trabalhadores com dignidade.
Ele ainda destacou o direito de cada um de reivindicar e foi aplaudido.
- Se a gente não protestar, dizer que não concorda com as leis e decisões, todo mundo vai achar que nossa vida está boa. Ela está, mas precisa melhorar muito. E é por isso que estamos protestando.
A deputada federal Marisa Formolo (PT) e os vereadores Denise Pessôa (PT) e Rafael Bueno (PCdoB) também marcaram presença entre os manifestantes, sem discursos ao microfone. Pedro Incerti (PDT) pediu a palavra para lembrar seu tempo de militância pelo Sindicato dos Bancários. Henrique Silva (PCdoB) comandou o microfone do caminhão dos metalúrgicos.
Dia de Lutas
Manifestação em Caxias serviu como tentativa de retomada de espaço de entidades sindicais
Bandeiras de sindicatos, movimentos sociais e partidos voltaram às ruas
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