O assassinato de seis taxistas no Estado nas últimas horas reavivou nos cerca de 900 profissionais que atuam em Caxias uma certeza antiga: a de que não é possível confiar somente nas forças de segurança pública para voltar para casa vivo, após uma jornada de trabalho.
Segundo eles, as forças policiais estão tão desacreditadas, principalmente para quem atua à noite, que a categoria precisou redigir, informalmente, uma "lei própria" para garantir a sobrevivência.
Na maior cidade serrana, eles usam medidas e códigos para fugir dos assaltantes, caloteiros e outros criminosos. Os motoristas são unânimes em afirmar: o perigo está presente em qualquer horário, seja à noite ou de dia, e os ameaça em qualquer endereço da cidade. Mas há situações mais preocupantes, como as que envolvem trabalhadores da madrugada.
Aos 48 anos e há 13 fazendo corridas à noite, um taxista auxiliar do ponto da estação rodoviária, na Rua Ernesto Alves, resume:
_ Tarde da noite é sofrido trabalhar, porque estamos mais sujeitos a lidar com assaltante, prostituta, travesti e bêbado sem dinheiro. Podemos ser assaltados, ou tomar calote de passageiro. Aí, temos de tirar do próprio bolso, porque o nosso patrão não quer ficar no prejuízo.
Pela aparência e modo de falar do passageiro, o taxista supõe se a pessoa que embarcou no carro é "do bem ou marginal".
_ Se dá bom-dia, boa-tarde, conversa com educação, logo vemos que não haverá problema. Agora, se o cara chega dizendo: "aí meu, vamos fazer um correrio?, pode saber que é encrenca _ explica o motorista, que nesses casos cobra a corrida antecipadamente.
Na avaliação de profissionais, a maioria dos assaltantes são drogados. Eles roubam dinheiro, GPS e celular e logo vão a um ponto de tráfico comprar crack e cocaína.
Embora a ligação de taxistas com o tráfico seja cogitada no meio policial, profissionais dizem que ela se resume a "um ou dois" colegas que fazem tele-entrega de drogas. Porém, não negam a prática de corridas aos endereços de venda de entorpecentes.
_ Se o cara entra no táxi e pede um bate-volta no 1º de Maio (conhecido ponto de tráfico), já sei o que ele quer e aviso que só levo. De lá, o cara tem de se virar. Não quero ser parado pela polícia na rua e ter droga no meu táxi _ revela um taxista de 45 anos e 10 de serviço.
Categoria unida, os profissionais admitem que eventualmente fazem justiça por conta própria. Quando um deles é assaltado, imediatamente passa pelo rádio aos colegas informações sobre o ladrão.
_ Em cinco minutos, têm 20, 30 táxis atrás do ladrão. Se acharmos, o cara tá ferrado, apanha mesmo, e muito. Já teve caso de arrastar vagabundo com o carro _ conta um taxista do Centro.
Em Porto Alegre, há uma suspeita de que o autor das três mortes seja um passageiro criminoso surrado por taxistas.
Acessório comum na maioria dos táxis de Caxias, a cabine de proteção gera divergências. Enquanto alguns motoristas se dizem seguros trabalhando dentro dela, outros a consideram ineficaz.
_ Se a cabine está fechada, o passageiro não pode nos atacar _ comenta um taxista, logo rebatido por um colega:
_ Não adianta. Quando chegamos no destino final, pode aparecer um comparsa do passageiro e nos ameaçar com revólver por fora, pela janela do motorista. Aí, não temos o que fazer.
Insegurança
Taxistas adotam código de sobrevivência em Caxias
Com falta de segurança pública, motoristas tomam medidas próprias
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