Até pouco tempo, Jaqueline Ramos dos Santos, 33, e os quatro filhos figuravam na lista das 6,9 mil famílias caxienses com renda per capita entre R$ 70 e R$ 140 _ uma categoria acima da extrema pobreza. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Há oito meses, Jaqueline perdeu o emprego e a família despencou para a categoria dos miseráveis, onde estão listadas outras 5.535 famílias de Caxias do Sul, segundo o Cadastro Único. A situação, porém, piorou.
Até então, a mulher e os filhos sobreviviam com R$ 4,26 por dia. A grosso modo, cada um deles tinha à disposição 0,85 centavos para se virar. Era dinheiro público, arrecadado em forma de impostos pelo governo federal e repassado para quem vive na extrema pobreza por meio do Bolsa Família.
Contudo, a doméstica perdeu o benefício de R$ 128 porque a filha mais velha, Talia, 15, faltou aulas na escola para acompanhar a mãe ao médico: Jaqueline tem depressão e anemia severa. Agora, a família não tem renda alguma e depende da ajuda de vizinhos e da cesta básica da Fundação de Assistência Social (FAS).
A história de Jaqueline é um dos contrastes da rica Caxias do Sul. O município ostenta o terceiro maior PIB entre as maiores cidades gaúchas. Mas abriga milhares de pessoas privadas de recursos como é o caso da doméstica, além de moradores de rua que catam lixo para comer.
Jaqueline e os filhos vivem em uma casinha de madeira sem pintura e de janelas sem vidros no loteamento Portinari, no bairro Cruzeiro. Tudo que há na moradia veio de doações. De roupas a brinquedos. Um micro-ondas, um refrigerador e um televisor pequeno estão entre os bens mais valiosos.
Dá rua dá para avistar uma antena de TV por assinatura, só que o equipamento pertencia ao antigo morador. Como falta espaço, a família improvisa: durante o dia, o sofá puído fica perto da pia para receber visitas. À noite, o móvel se abre para abrigar duas pessoas. Uma das adolescentes estende um colchão ao lado da pia. Jaqueline se deita na única cama com o filho menor Luís Fernando, 2. É simples e apertado, mas poderia ser pior.
Neste sábado, a mulher deve dar entrada em um hospital da cidade para tratar a anemia. Não sabe quantos dias ficará internada. Pediu a vizinhos que olhassem pelos filhos. Quando sair, acredita que a situação do Bolsa Família estará resolvida, já que uma assistente social do município está envolvida no caso.
Se tudo der certo, ela tem expectativa de voltar a receber o benefício em maio. Então, poderá ficar mais tranquila.
Para ajudar Jaqueline: (54) 9223.4681.
Miséria sem fim
Família conta como é sobreviver com menos de R$ 5 por dia em Caxias do Sul
Mulher não pode trabalhar por problemas de saúde e depende da ajuda de vizinhos para sustentar quatro filhos
Adriano Duarte
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