Dias de Copa do Mundo são diferentes. Quatro jogos diários que iniciam nas primeiras horas da manhã e só terminam ao anoitecer tornam-se motivos naturais para inícios de conversas. O assunto com o motorista de aplicativo, que antes tratava sobre o clima, agora dá lugar a palpites, resultados de partidas e calendário dos jogos.
Quando o dia tem Brasil em campo, a sensação de que a segunda-feira não será como qualquer outra começa cedo. Nas escolas infantis, pais vestidos com as cores do Brasil entregam crianças que são recebidas com balões em ambientes decorados.
Mas é o horário da partida que determina o quanto esse dia pode ser incomum. Na última que vez em que o Brasil foi campeão madrugamos para torcer. Dessa vez, o fuso horário do país sede foi bem mais generoso com o brasileiro, que na última partida da fase de classificação poderá vibrar pela Seleção às 16h de uma sexta-feira, de primavera.
Em cidades como Caxias do Sul, o primeiro dia da semana é naturalmente vibrante, ainda que o motivo de tal vibração não seja nem de perto pelo resultado de um jogo de futebol. Carros apressados que se acumulam nos semáforos fazem parte do cenário ordinário de um inicio de semana comum. Trânsito nas saídas de escolas e filas nos mercados, lotéricas e bancos são cenas banais da cidade, mas podem parecer piores e mais demoradas quando há um jogo do Brasil para ocorrer nas próximas horas.
Nesta segunda-feira (28), a vitória do Brasil sobre a Sérvia começou a ser construída às 13h. No início da tarde do primeiro dia útil da semana. Quem conseguiu, teve pouco tempo pra cumprir com suas obrigações e estar livre para assistir a partida.
A manhã voa, e se desvincilhar dos compromissos nem sempre é fácil para, na hora certa, poder desfrutar de uma disputa de 180 minutos que pode levar o Brasil ao Hexa. Há que não esteja nem aí pra isso tudo, e há também quem não consiga estar exatamente onde gostaria no momento do jogo.
Garçom há 23 anos, Claudio Aguirres, 47, priorizava o atendimento aos clientes em um restaurante no bairro São Pelegrino, mas sem deixar de espiar em uma das televisões espalhadas pelo salão o que acontecia no primeiro tempo da partida.
— A gente trabalha, mas trabalha com ânimo também, atendendo o cliente com o ouvido na TV para quem sabe comemorar um gol — contou.
O movimento, bem menor em comparação à outras segundas-feiras, fez com que o trabalho tenha sido mais leve. Muito antes de terminar a primeira etapa, por exemplo, às 13h15min, o restaurante já estava vazio, em uma cena que se vê, normalmente, somente perto das 14h
— Hoje foi um incógnita, não sabíamos como o pessoal ia reagir, e o que se viu foram clientes que almoçaram mais cedo para poder ir conferir o jogo — disse Rafael Erlo, proprietário do Del Grappa.
No restaurante, em vitrine de lojas que expõem TVs para a venda ou na rua, pelo celular, o jogo que definiu a classificação brasileira às oitavas de final foi visto pelos torcedores que deram um jeito de acompanhar a campanha brasileira na Copa. A autônoma Natália Montemezzo, 24, encontrou na cadeira do dentista uma forma de não perder a partida.
A manutenção no aparelho dentário era feita por Leonardo Hainzenreder Longhi, que em anos de Copa providencia uma televisão no consultório, a pedido dos pacientes. Neste ano, o dentista torce para que a história de 2014 não se repita. Nas quartas de final, entre Brasil x Alemanha, desligou o aparelho no primeiro gol dos alemães, e quando ligou novamente o jogo que acabaria nos históricos 7 a 1, já estava em 5 a 0.
A Copa está ai pra quem quiser, e puder acompanhar. Com a classificação garantida, torcedores já podem se programar para, no mínimo, mais duas partidas. A próxima ocorre na sexta-feira (2), às 16h contra Camarões.