O retorno do Gauchão e o posicionamento da prefeitura de Caxias do Sul, que liberou os jogos na cidade e permitiu a disputa do clássico Gre-Nal no Estádio Centenário, gerou posicionamentos contrários de seguimentos e entidades caxienses. Entre posicionamentos prós e contras ao futebol no município, a tendência é que na quarta-feira (22), às 21h30min, Inter e Grêmio se enfrentem na casa grená.
Para algumas entidades, a volta das partidas de futebol em Caxias do Sul se sobrepõe a alguns setores considerados mais importantes para a economia local.
— Em primeiro lugar, temos que abrir os nossos comércios para depois começar a pensar na liberação de outros setores e de outros eventos que causam aglomeração. A gente sabe que nesses jogos não terá público, mas há uma movimentação nesse sentido. Então acho que não seria o momento nessa ou na próxima semana. Se eu pudesse escolher entre ter ou não jogos, diria que poderia aguardar um pouco mais — afirmou Idalice Manchini, presidente do Sindilojas Caxias do Sul.
Para a empresária Zeli Dambros, as partidas na cidade mostram que as necessidades do setor de eventos não são considerados pelo poder público. Para ela, um jogo como o Gre-Nal, por exemplo, gera aglomeração maior do que algumas atividades organizadas pelas empresas locais.
— Recebemos (a notícia dos jogos) com muita indignação. A liberação de eventos para nós vai ser só no final. Foi o primeiro a parar e vai ser o último a voltar. Até aí, ok, porque evento é aglomeração de pessoas. Daí vem uma delegação de Porto Alegre, mais os jogadores, vai ser um evento também, que vai juntar, no mínimo, 180 a 200 pessoas. Então me digam quais os protocolos que tenho que seguir para fazer um evento desse porte, para poder sobreviver, se têm empresas em Caxias que estão paradas desde março? E porque liberar para jogos e não para outros setores da economia que estão em uma situação deplorável? — afirma Zeli, que acredita que o impacto na cidade é menor com os jogos:
— A gente não vê o futebol como prioridade nesse momento. Acho que é importante, é um setor que também movimenta, mas é algo que não tem tantas empresas em Caxias que dependam desse setor.
Na mesma linha de pensamento, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul, Renato Corso, alerta para a aglomeração gerada com as partidas:
— Ficamos estarrecidos com a liberação de jogos de futebol profissional no nosso Estado. As partidas reúnem centenas de profissionais para a realização de cobertura esportiva, enquanto alguns setores da economia estão sem trabalhar desde o final de março. Nossa maior crítica é quanto a falta de critérios. Estabelecimentos que recebem poucas pessoas por dia não podem atender os consumidores. Muitos pequenos negócios, que não atendem nem 20 ou 30 pessoas por dia, permanecem fechados, enquanto são permitidos jogos de futebol que reúnem dezenas e até centenas de pessoas.
Favorável diante dos protocolos
Uma das entidades que tem maior representatividade na cidade, a Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC), de Caxias do Sul, se posiciona favorável às partidas no município diante das garantias do poder público e como forma de incentivo à retomada de outros setores.
— Se o secretário municipal da Saúde assegura que Caxias do Sul tem condições sanitárias de fornecer o campo para o jogo, somos favoráveis por entendermos que é uma atividade econômica. Essa decisão vem ao encontro da reivindicação feita pela CIC de que o modelo de Distanciamento Controlado do Governo do Estado dê mais liberdade aos gestores municipais sobre como melhor adotar os protocolos previstos no sistema — afirma o presidente da CIC Caxias do Sul, Ivanir Gasparin.
O presidente do Sindicato dos Médicos de Caxias do Sul, Marlonei dos Santos, acredita que, até mesmo em Porto Alegre, não há problemas de realizar os jogos com as medidas tomadas pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF) e os clubes.
— Eu não vejo problema nenhum. Não sei porque o Gre-Nal não está sendo realizado no Beira-Rio. Estão tomando todos os cuidados. Serão todos testados. Se não tiver nenhum contaminado, não vejo porque não jogar. O que não pode, por enquanto, é abrir os portões. Eu já não aguento mais ver filme, quero ver futebol também. Na Europa, o PSG jogou com o estádio lotado. Acho que é um exagero, para nós aqui não (é possível). Lá já passou da fase pior, do pico. Nós vamos chegar nisso. Se Deus quiser, mais uns 60 dias. Todos nós sabíamos que junho, julho e agosto seria isso. Todos os anos é, com gripe, pneumonia, asma, doenças bronco-pulmonares, internando em hospitais. Estão quase todos lotados, mas vai ver se é tudo da covid. É do que sempre foi. Tem que ter todos os cuidados, mas não dá para seguir com essa histeria continuada — afirma Marlonei.
O secretário da saúde de Caxias do Sul, Jorge Olavo Hahm de Castro, garantiu que a cidade tem capacidade para receber os jogos do Gauchão.
— Isso está liberado pelo governador (Eduardo Leite). Ele liberou treinamentos e os coletivos, e ninguém falou nada. Daí, quando foi para os jogos, todo mundo saiu fora, não quer. Isso (partidas) estava previsto que iria acontecer. Não houve, realmente, um entendimento técnico. Ninguém disse "nós não vamos fazer os jogos no município por essa e por essa razão sanitária". Se for ver a fala do prefeito de Porto Alegre (Nelson Marchesan Jr.), ele diz que é uma questão moral. Aqui em Caxias, nós temos condições sanitárias de fornecer o campo para eles jogarem. É isso. É uma atividade econômica, como qualquer outra — afirmou o secretário.
Até o início da noite desta segunda-feira (20), a realização do Gre-Nal, no Centenário, e do Ca-Ju, às 11h da quinta-feira (23), no Alfredo Jaconi, estavam confirmada pela FGF e pela prefeitura de Caxias do Sul.