Basta ligar a televisão ou o rádio, abrir o jornal ou sites de notícias para nos depararmos com a situação da pandemia de coronavírus no Brasil e no mundo. Um dos países mais afetados pela Covid-19, tanto em número de casos quanto de mortes, é a Itália. Diariamente, assistimos, ouvimos ou lemos informações fortes sobre tudo que está acontecendo no país europeu.
A Itália já ultrapassou 17 mil mortes e soma mais de 135 mil casos do novo coronavírus. Neste cenário devastador e perigoso, vive um atleta nascido em Pelotas, mas caxiense de coração e adoção.
O lateral-direito e meio-campista Rômulo Caldeira, 32 anos, jogador do Brescia, foi formado nas categorias de base da dupla Ca-Ju. No país, que abriu as portas para ele desfilar seu talento e apresentar seu trabalho, ele vive um momento delicado na região da Lombardia, a mais afetada da Itália.
– É uma situação muito complicada e difícil. Ninguém pode sair para absolutamente nada, a não ser ir ao supermercado ou na farmácia, e sempre com autorização. Aqui na Itália estamos passando um momento bem difícil, porque é o país mais afetado pela pandemia em proporção – disse o jogador, que fixou residência e conheceu a esposa em Caxias do Sul.
Rômulo passou pelos juvenis do Caxias, entre 2001 e final de 2004, e pelos juniores do Juventude, onde permaneceu até 2007. Depois disso, foi para Santa Catarina, onde jogou pelo Metropolitano e Chapecoense, em 2009. No ano seguinte, defendeu o Santo André-SP e acabou contratado pelo Cruzeiro-MG. Também já vestiu a camisa do Atlético-PR antes de se transferir para o futebol italiano.
No país europeu, já atuou por Fiorentina, Hellas Verona, Genoa, Lazio, Juventus e, agora, no Brescia. Há quase dez anos, mora na Itália.
Com cidadania italiana, Rômulo foi convocado pela seleção do país, em 2014. Além disso, estava na pré-lista de Cesare Prandelli para a Copa do Mundo no Brasil, mas uma lesão impediu o sonho de tentar disputar o Mundial. Agora, vive o momento mais difícil da sua vida no local em que mais se destacou.
– Nós, como cidadãos italianos, estamos tomando todos os cuidados que as autoridades locais pediram. Sempre usando máscara, luva, álcool gel, desinfetando celular, volante do carro, chaves, maçanetas e lavando bem as mãos. Devemos manter a distância de segurança, que antes era de um metro, agora são dois – afirma o atleta.
O Campeonato Italiano está suspenso desde o dia 9 de março. A competição está na 27ª rodada e o time de Rômulo, o Brescia, está na última colocação da primeira divisão, com 16 pontos. Ainda não existe qualquer certeza sobre a retomada das competições e se a temporada será concluída.
Rotina difícil na Lombardia
Com o aumento no número de mortes e casos da Covid-19, o governo italiano precisou aumentar o prazo de medidas restritivas contra a pandemia. A Itália inteira está em isolamento desde 10 de março. As pessoas estão proibidas de sair de casa, a não ser por motivos de trabalho, saúde ou para comprar comida. Os comércios não essenciais, indústrias, escolas e universidades continuam fechados.
– Todos os dias, estamos acompanhando o noticiário para ver o que as autoridades nos passam e para que possamos estar atualizados – disse o jogador, que relata as duras imagens que vivencia na Lombardia:
– Infelizmente, tivemos muitos mortos. É a região mais afetada da Itália. A cidade mais afetada é Bérgamo, que fica a 30km de Brescia. Se o mundo inteiro parou diante da Covid-19, dá para ter uma ideia na região que estamos aqui.
Em Bérgamo, durante a pandemia, houve momentos em que o cemitério local ficou completamente sobrecarregado. Foram tantos os mortos em pouco tempo que as funerárias não davam conta e os caixões se acumulavam nos cemitérios e nas igrejas. Cenas fortes.
Neste cenário triste e com as atividades restritas, a economia é diretamente afetada. Grandes clubes do planeta já anunciaram diminuição nos salários dos atletas. A Juventus chegou a um acordo e irá reduzir os vencimentos dos jogadores e comissão técnica até o final da temporada 2019/2020. O Brescia, clube de Rômulo, ainda não anunciou.
– É uma questão bem delicada. Não é porque somos jogadores de futebol que a maioria ganha bem. Nós temos que abrir mão de um valor ou não. É algo bem pessoal. Somos trabalhadores como qualquer um. Claro que estamos disponíveis em ajudar o clube – destaca.