Se dentro das quatro linhas os jogos de Caxias e Juventude mexem com a paixão de milhares de torcedores, fora delas também fazem girar a roda da economia em Caxias do Sul. Para muitos empresários e vendedores ambulantes, as partidas realizadas nos estádios Alfredo Jaconi e Centenário representam uma oportunidade de negócio. Em dia de jogo, o comércio de artigos esportivos e, em especial, a venda de alimentos e bebidas despontam como as principais atividades paralelas ao futebol.
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Não é à toa que muita gente vê nas partidas da dupla Ca-Ju na cidade uma alternativa de obtenção de renda. Somente no ano passado, os dois clubes, somados, disputaram 40 duelos entre Campeonato Gaúcho e competições nacionais. Levando em consideração uma média de 2,5 mil espectadores por partida, isso representa um potencial público consumidor de aproximadamente 100 mil pessoas ao longo de uma temporada.
No Caxias, a receita com bares e a loja dentro do estádio Centenário gera em torno de 5% do faturamento anual, que deve chegar a R$ 7 milhões neste ano. Os pontos de vendas de alimentos e bebidas são terceirizados para uma empresa, com o clube recebendo comissões que variam entre 15% a 30% das vendas. Em média, o faturamento diário dos quatro bares dentro da casa grená fica entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. Quando há partidas contra Grêmio e Internacional ou clássico diante do Juventude o faturamento da copa chega a até R$ 20 mil por jogo. O diretor comercial do Caxias, Roberto Delazzeri, acredita que se houvesse liberação do consumo de bebidas alcoólicas durante os eventos, a receita da copa subiria 20%.
Enquanto isso, o comércio de camisas e outros artigos esportivos rende em torno de R$ 30 mil mensais ao Caxias, durante o período do Gauchão. No entanto, nos meses sem jogos, a loja administrada pelo próprio clube chega a faturar menos de R$ 2 mil. Delazzeri destaca que a fase do time é determinante para levar público e aumentar o ingresso de recursos.
– Tudo depende dos resultados, da campanha. Estamos em uma ótima campanha neste ano, então pode ser até que falte produto na loja (em jogos decisivos) – aponta o diretor comercial do Caxias.
Já o Juventude aluga os espaços para a venda de alimentos para empresários interessados em atuar no estádio Alfredo Jaconi. Como tem a receita de aluguel garantida, o clube não possui um monitoramento sobre o consumo nos dias de jogos. Ao todo, são oito pontos de comercialização de comidas e bebidas, geridos por cinco empresas distintas. O espaço da loja também é cedido. Na venda de artigos esportivos, o alviverde ganha royalties, que, nos primeiros três meses do ano geraram R$ 15 mil.
– Com os alugueis o clube arrecada em torno de R$ 60 mil por ano. Representa aproximadamente 0,65% da receita – afirma Marciano Almeida, diretor executivo do Juventude.
Almeida ainda ressalta que o custo de abrir o estádio para uma partida não é pequeno, ficando entre R$ 15 mil e R$ 25 mil dependendo do jogo. Desta maneira, o Juventude necessita de um público mínimo de 5 mil pessoas para não ter prejuízo na operação. Essa média costuma ser alcançada apenas em jogos decisivos, clássicos e duelos com a dupla Gre-Nal.
Boa parte da movimentação financeira que ocorre nos dias de partida, contudo, não passa diretamente pelos clubes. Isso porque nas ruas do entorno dos estádios, se acumulam vendedores ambulantes e estabelecimentos comerciais sem relação direta com as equipes. A venda de cerveja e outras bebidas e de espetinhos de carne são as atividades mais comuns.
Torcedor Ca-Ju
Se alguém perguntar para o vendedor ambulante Roberto Huff para qual time ele torce, a resposta é dada com convicção.
– Aqui no Centenário, torço para o Caxias. Lá no Jaconi, torço para o Juventude – sentencia, durante um dia de trabalho em um jogo do time grená.
A posição em cima do muro tem um porquê. Há mais de 20 anos, Huff trabalha nos jogos da dupla Ca-Ju vendendo bebidas e alimentos dentro dos estádios. Esta foi a maneira que ele encontrou para conseguir uma renda extra, que complementa o salário que obtém como porteiro.
Por isso, quanto melhor a fase dos times caxienses, mais ele vende e, consequentemente, melhor é a sua remuneração.
Assim como todos os vendedores ambulantes que atuam nas arquibancadas em Caxias, Huff trabalha para empresas terceirizadas, que são responsáveis por gerir a copa no Centenário e no Alfredo Jaconi nas partidas.
Ele pega refrigerante, água, pipoca, cachorro-quente, pastel, entre outros itens no bar do estádio e, com o isopor abastecido, sai caminhando pela arquibancada em busca de clientes. O processo é repetido diversas vezes antes, durante e até minutos depois da partida.
Segundo o ambulante, o maior volume de vendas ocorre nos minutos que antecedem o apito inicial e no intervalo. Enquanto a bola rola, o público diminui o consumo.
Ao final do dia de trabalho, Huff contabiliza quantas unidades vendeu e ganha uma comissão em cima do valor arrecadado.
Em média, ele calcula que vende entre 50 latas de refrigerante e 50 sacos de pipocas a cada jogo. Isso garante uma renda diária entre R$ 200 e R$ 250. Em um mês com até três partidas na cidade, ele consegue obter até R$ 700, o que garante fôlego ao orçamento doméstico.
Metade da renda
Há 14 anos trabalhando como vendedor ambulante em estádios de futebol, Adriano da Silva não perde uma rodada do Gauchão e de competições nacionais envolvendo Caxias e Juventude. Afinal, é das partidas da dupla Ca-Ju no Centenário e no Alfredo Jaconi que ele tira boa parte de seu sustento mensal. Em torno de 50% da renda é obtida comercializando pipoca, amendoim, batata frita e bebidas.
– Trabalhamos contratados pelo pessoal da copa e ganhamos comissão. Para cada produto vendido (a R$ 7) ganhamos R$ 1,50. Em um jogo sai, em média, de 70 a 100 peças – comenta Adriano.
Eventualmente ele também trabalha dentro da Arena e do Beira-Rio, estádios de Grêmio e Internacional, em Porto Alegre. No entanto, apesar do público ser menor em Caxias, a disputa pela venda com outros ambulantes também é menos intensa, o que pode influenciar no resultado final das comissões.
Na última rodada da primeira fase do Campeonato Gaúcho, quando trabalhou no duelo entre Juventude e Avenida, havia apenas ele e outro vendedor percorrendo todo o Alfredo Jaconi em busca de consumidores. Adriano ficou responsável pelos alimentos, enquanto o colega comercializava as bebidas.
Com apenas duas pessoas na venda de alimentos e bebidas, Adriano transitava em todos os setores do estádio Alfredo Jaconi. Ele perdeu as contas de quantos quilômetros percorreu entre arquibancadas e cadeiras. Isso sem contar quando tinha de ir até o bar reforçar o estoque.
Em um mês, Adriano consegue entre R$ 1 mil e R$ 1,3 mil de renda em cima das comissões obtidas nos dias de futebol. A quantia se soma aos recursos obtidos no trabalho em outros eventos, festas e na montagem de palcos de shows.