Assim como a Enxuta, crescer, chegar no cenário nacional e desativar o time foram as rotinas de Vasco e Juventude no futsal de Caxias do Sul. O primeiro, teve seu auge em 1996, exatamente no ano em que a Enxuta encerrou as atividades. A equipe alvinegra herdou a vaga da ex-rival na primeira Liga Nacional de Futsal e terminou a competição na segunda colocação.
Leia Mais:
Ex-diretor se diz orgulhoso por história vitoriosa do futsal da Enxuta
Inativo por falta de recursos, futsal de Caxias viveu fase de glórias nos anos 90
De novo fora da elite, handebol de Caxias segue com trabalhos de base
Equipes de vôlei da Serra acabaram com equipes adultas por falta de patrocinadores
– Eu estava na Enxuta, mas o Vasco mostrou interesse em 1996, as diretorias entraram em acordo e aceitei por ser um desafio novo. Fomos vice-campeões da Taça Brasil e vice da Liga Nacional. Lembro que o treinador era o Paulo Mussalém. Era um projeto audacioso, mas fiquei apenas um ano. A Enxuta já havia fechado, em abril de 1996. Fiquei até outubro no Vasco e fui emprestado para o São Paulo. Depois o Vasco foi se desfazendo e eu fiquei por São Paulo mesmo – relembra Serginho, que na época era conhecido por Serginho Bigode.
No mesmo período, surgia o Juventude, com a mesma equipe técnica da Enxuta. A ascensão foi meteórica com títulos nas competições estaduais e término entre os oito melhores da Liga Nacional em 1998.
– Seguimos o trabalho com a comissão de pais, que havia se criado durante o período da Enxuta. Essa comissão se mobilizou para manter um time adulto junto com o Esporte Clube Juventude. Ficamos durante três anos e ganhamos a Série Bronze em 1996, a Prata em 1997 e disputou a Ouro em 1998 – conta Ênio Aguiar, que trabalhava na comissão técnica do Ju.
O término foi justamente no ano seguinte, quando a UCS entraria no cenário:
– Assim como a Enxuta, o Juventude acabou porque tinha acabado o patrocínio. Na época tivemos patrocínio da Dal Ponte, depois Colombo e no último ano eram várias empresas, mas só deu para tocar o ano de 1998. Nossa sorte é que a UCS estava começando um projeto olímpico para 2004 e conseguimos que fosse criado um time de futsal. Na época, em 1999, surgiu a UCS/K2. A partir daí esse projeto seguiu com time principal e categorias de base. A UCS ficou com a vaga do Juventude na Ouro e foi jogando, até participar por um longo período da Liga Nacional.
O Juventude ainda voltaria ao futsal em 2014, em parceria com a Atcel. O projeto durou como o anterior: título da Bronze, da Prata e o Ju se retirando em 2016. A Atcel seguiu sozinha até ano passado, quando foi rebaixada na Liga Ouro.
Década de Caxias e Farroupilha
A chegada dos anos 2000 foi de consolidação da UCS como time de futsal. Em 2004, o time caxiense chegou à final da Série Ouro, derrotada pela ACBF, potência desde o fim dos anos 1990.
– Eu quebrei alguns recordes. Joguei até os 45 anos. Em 2006 joguei a Liga Nacional pela UCS. A parceria já estava se encaminhando e me convidaram para ser auxiliar do Miltinho, técnico da época, e tocar o sub-20. Foi quando assumi, em agosto de 2006. Até fomos campeões estaduais no sub-20. Em março de 2007 assumi o time adulto, quando o projeto migrou todo para Farroupilha – lista Serginho Schiochet, que na UCS trocava os tênis e as caneleiras pela prancheta de treinador.
Já em 2006, iniciava a parceria da UCS com a Associação Farroupilhense de Futsal (AFF), que já era patrocinada pela Cortiana. A parceria chegou, inclusive, a ser vice da Série Ouro, em 2007.
Em 2008, talvez a melhor temporada, com o terceiro lugar na Liga Nacional e no estadual. Tudo sob o comando do técnico Vander Iacovino.
– Recebi o convite no começo do ano através do Flávio Cortiana. Já tinha uma equipe montada, vinham há dois anos com um time qualificado. Aquele foi o melhor ano. Foi muito bom disputar também o Campeonato Gaúcho, que é muito forte e é diferente de outros estados. Como treinador foi uma ótima experiência e um ótimo trabalho. Não posso falar que tive momentos ruins porque a equipe conseguiu chegar nas finais das competições, que eram nossos objetivos. Quando perdemos eram para equipes muito fortes, como Malwee, Carlos Barbosa, Ulbra. Foi um projeto muito bacana do Flávio e que, infelizmente, teve seu fim. São ótimas recordações. Não marcamos porque não conquistamos títulos, mas fizemos uma ótima Liga Nacional naquele ano – enaltece o técnico, hoje no Joinville.
De Valdin, Rogério e cia o futsal da Cortiana migrou para Santos em 2011, já com Falcão como astro e um dos organizadores da equipe, na sua volta ao Brasil.
Por fim, saudades...
Não foi por um pênalti perdido, um tiro livre chutado para fora ou um erro do goleiro-linha. O apito final do futsal caxiense/farroupilhense se deu por falta de investimento. Seja por opção da marca, como no caso da Enxuta, ou por escassez de patrocínios, uma das maiores cidades do Rio Grande do Sul fechará mais um ano sem uma equipe entre as grandes do estado, quiçá do Brasil.
Quem perde? Todos. Principalmente as crianças que sonham em viver do futsal.
– Os atletas que vinham jogar em Caxias eram os melhores do Brasil. A Enxuta era a base da seleção. Fazíamos o treino antes e depois ficávamos olhando os treinos dos profissionais. Queríamos ser aqueles atletas ali. Nossos heróis jogavam no nosso time. Eu brinco com o Jorginho que eu queria ser ele. Hoje o pessoal quer ser o Neymar, nós queríamos ser aqueles caras que jogavam no nosso time. Eles eram até nome de tênis – recorda Índio, criado na Enxuta.
O “ídolo” de Índio, o pivô Jorginho ganhou o mundo, mas estão em Caxias suas principais recordações:
O que mais sinto saudade é das carreatas de quando ganhávamos títulos. A cidade parava pelas ruas do centro, todos nos aplaudindo. Isso marca. Era demais. Fui muito feliz nessa época. Ganhávamos tudo. Lembro que o ginásio enchia tanto que colocavam telão na rua para o pessoal poder assistir às partidas.
O camisa 13 também lembra de um dos momentos mais tristes de sua vida: o fim da Enxuta:
– Mais triste que isso só quando perdi meus pais. Nesse dia, muitas pessoas foram na minha casa com abaixo-assinado para não terminar o time e para que eu não fosse embora da cidade. Já tinha mais de três mil assinaturas naquele papel. Uma senhora com uma neta de uns 8 anos chorava e perguntava qual seria a diversão dos sábados sem futsal. Aquilo me comoveu muito. Lembro que eu chorava e abraçava elas. Mas a vida tem ciclos. Assinei o abaixo-assinado, mas sabia que era muito difícil reverter a situação.
Foi desses ciclos que viveram o futsal caxiense por mais de 20 anos entre começos, títulos e o fim.