Não é apenas o basquete de Caxias do Sul que se despede da elite nesta temporada. A Associação de Pais e Amigos do Handebol (Apahand/UCS) também decidiu interromper a sua trajetória na Liga Nacional feminina em 2018. O motivo é o mesmo: dificuldade para conseguir novos apoiadores.
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A luta é inglória e já dura alguns anos. A Apahand iniciou suas atividades em 1997, junto ao lançamento do projeto UCS Olimpíadas. Desde então, o técnico Gabriel Citton esteve à frente da equipe. Se dividiu entre as atividades de treinador e gestor. Ao mesmo tempo em que acolhia novos atletas e desenvolvia os jovens talentos, buscava recursos para viabilizar o time adulto em competições de nível nacional.
De fato, isso só foi possível em 2009. Na ocasião, com o apoio de empresas locais, algumas de pais das jovens atletas, o time estreou na principal competição nacional. De cara, conquistou o quarto lugar entre sete equipes. No ano seguinte, repetiu a vaga nas semifinais, naquelas que foram as principais campanhas da sua trajetória.
A equipe, que sempre teve treinos e jogos na Universidade, seguiu de forma ininterrupta entre 2011 e 2015, quando foi comandada por Isabel Spies, mulher de Citton e o preparador físico Rafael dos Santos, o Brasa. Após a desistência em 2016, o time voltou a jogar a Liga no ano passado, com os apoios da Grendene S/A e da Marcopolo, além de uma parceria com a prefeitura de Farroupilha.
– O Estado está com uma baixa no esporte de alto rendimento. No ano passado (2016), não teve participantes na liga. Fica uma responsabilidade grande. Porém, muitas cidades que têm times de handebol estão nos procurando para vir assistir aos jogos aqui na Serra – comentou Citton, em matéria publicada pelo Pioneiro em 27 de julho do ano passado.
O orçamento reduzido, algo em torno de R$ 250 mil para os quatro meses de competição, e a lesão de uma das principais atletas contratadas fez com que o time não alcançasse às semifinais. Para se ter uma ideia, as principais equipes do país gastam pouco mais de R$ 1 milhão por temporada.
O pior de tudo é que, ao final do último campeonato, Citton ainda precisou tirar dinheiro do próprio bolso para arcar com os custos. Foi a gota d’água para mudar o planejamento.
– O que acabou de vez com o alto rendimento em Caxias do Sul foi a questão do Fiesporte. Todos sabiam que podiam contar com essa verba para tocar as modalidades. O handebol seria um dos que demandariam menor recurso, em comparação a vôlei e basquete, por exemplo. Mesmo assim, não conseguimos chegar perto do valor – pondera Citton.
Em 2018, com uma filha recém-nascida e sem encontrar patrocinadores dispostos a viabilizar o projeto, Citton decidiu, pelo menos temporariamente, acabar com o sonho construído durante mais de uma década. Ficam a certeza de um trabalho bem feito e a prioridade em trabalhar com a de base para, ali na frente, retomar a caminhada.
O time que era um caminho para a seleção brasileira
Em todas as participações na elite, a Apahand/UCS teve boa parte do grupo formado por jogadoras oriundas das categorias de base. Somavam-se a elas, cinco ou seis atletas experientes, contratadas para dar suporte de qualidade. E o trabalho foi reconhecido não apenas por aqui.
Entre as atletas que foram trazidas para Caxias e hoje atuam na Europa, destaque para a ponteira Samira Rocha e as armadoras Karoline e Deonise, todas com convocações recentes para a seleção brasileira principal. A armadora Danielle Joia, que atualmente defende o Pinheiros, foi outra que defendeu o time caxiense por várias temporadas e hoje defende o Brasil.
Um caso simbólico foi o da pivô Ligia Costa. A jogadora iniciou os treinos em Caxias do Sul quando tinha apenas 14 anos. Ela chegou ao time adulto e logo chamou a atenção. Hoje, é presença frequente na seleção principal e joga no Pogon Szczecin, da Polônia.
– Vamos sobreviver. Temos de 80 a 100 jovens jogadoras na base e vamos continuar o trabalho com elas. O maior problema é não ter o espelho, não a ter a perspectiva da equipe adulta. Neste ano, algumas jogadoras se reuniram e estão jogando o Estadual, mas de forma amadora, sem a rotina de treinos. Elas se encontram e jogam – comenta Citton.