Quando as luzes começam a se apagar no Estádio Aquático Olímpico, acendem-se com força no Engenhão. O atletismo é o carro-chefe da programação da segunda semana olímpica do Rio, o que motiva a pergunta: os recordes mundiais cairão nas pistas com a mesma frequência do que nas piscinas?
Há uma diferença importante entre as duas modalidades que impede que o atletismo registre tantas marcas históricas em Olimpíadas. Em provas de longa distância de circuitos como a Liga Diamante, por exemplo, há o interesse da organização em ver um recorde quebrado. Por isso, cria-se o ambiente ideal para o atleta ultrapassar o tempo anterior. As facilidades incluem "coelhos", corredores que ditam o ritmo para que o fundista tenha o desempenho necessário para o recorde.
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Por isso, dificilmente cairão mais marcas de distâncias acima dos 3 mil metros, como a quebrada pela etíope Almaz Ayana, logo na primeira disputa por medalhas do atletismo, nos 10 mil metros feminino. Nessas modalidades, o foco único dos atletas deve ser o ouro. Correm com estratégia, controlam os adversários e, assim, garantem o lugar no degrau mais alto do pódio. Mas não olham para o cronômetro.
– É raro ver, nos últimos 20 anos, um recorde mundial quebrado em Olimpíadas nos 5000m, 3000m, maratona. Para isso, precisa do lugar perfeito, com o clima perfeito e os coelhos perfeitos. Os Jogos Olímpicos são mano a mano, volta a volta, na briga pelo ouro – explica o comentarista de atletismo do SporTV, Lauter Nogueira.
Mas e o multicampeão Usain Bolt? A luta do jamaicano é pelo tricampeonato dos 100m, 200m e revezamento 4x100m, mas será uma surpresa se ele quebrar suas próprias marcas nessa Olimpíada. Bolt teve uma preparação tumultuada por conta de lesões recentes. Além disso, não é mais um menino. Aos 29 anos, não tem a mesma forma de 2009, quando estabeleceu os recordes dos 100m e 200m.
– Em Londres ele também teve problemas com lesões antes da Olimpíada. Chegou bem fisicamente, mas sem ritmo de competição. Usou as eliminatórias para isso, e foi correndo mais forte a cada bateria – lembra Lauter, que completa:
– Ele vai ter dificuldades nos 100m. Além do (Justin) Gattlin, há pelo menos mais três atletas fortes nessa prova. Se ele ganhar, pode ter certeza que leva o ouro nos 200m também. Mas bater o recorde é mais complicado.
Nos 400m, é bom ficar de olho no americano LaShawn Merritt, líder do ranking, que já foi comparado à lenda Michael Johnson (campeão olímpico dos 200m e 400m em Atlanta 1996). Há possibilidade, também, de cair a marca de 1993 estabelecida pelo cubano Javier Sotomayor no salto em altura. Um grupo de elite composto por seis atletas tem se aproximado do recorde.