Mayra Aguiar parecia tranquila ao chegar de chinelos de dedo, calção e camiseta verde-limão do Time Brasil para a sua última aparição pública antes de iniciar sua busca por medalha na categoria até 78kg nesta quinta-feira, contra a australiana Miranda Giambelli. A tranquilidade, porém, era só aparente. Mayra estava na verdade um pouco assustada com a Vila Olímpica. E ansiosa para pisar no tatame.
- Estou um pouco perdida aqui, embora já tenha frequentado outras Vilas. É muita gente, é tudo muito grande. Estou tentando me localizar – disse, arregalando os olhos castanhos.
Também pudera. A gaúcha medalha de bronze em Londres recém havia deixado a reclusão em Mangaratiba, a cerca de três horas do Rio. Foi na cidade litorânea e com costa recortada por penínsulas que ela fez reta final da preparação para buscar mais uma medalha. Desde sexta-feira, restringiu as conversas no WathsApp. Só as mensagens dos pais, Júlio e Leila, e o namorado, o paulista e ex-judoca Eduardo, são respondidas. Mesmo que o smartphone esteja sempre à mão.
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Nem mesmo o técnico Antônio Carlos Pereira, o Kiko, conseguiu acesso ao circuito restrito. Mandou um WhatsApp na sexta-feira e a tela de seu smartphone mostrava a mensagem como não lida.
- Ela está concentradíssima, e tem de ser assim. A Mayra chega muito bem para esta Olimpíada – elogia Kiko.
A parceria dos dois é de longa data, já dura 14 anos. Mayra chegou às mãos de Kiko com 11 anos. Esta será a terceira Olimpíada da pupila do técnico. A afinidade entre os dois é tamanha que quando a agenda permite os dois vão conferir os jogos do Grêmio. Aliás, estavam no cimento do Olímpico quando o clube ganhou seu último título, o Gauchão de 2010.
Além de Kiko no ginásio, Mayra contará com a torcida dos pais, que já desembarcaram no Rio, e de Eduardo. Ela sabe que o quarteto estará nas cadeiras em tons variados de azul da Arena Carioca 2. Mas prefere nem pensar nisso. Mesmo veterana de Olimpíada, sabe que a concentração e a cabeça arejada são fundamentais para a vitória.
- Está sossegada para entrar no tatame?
- Sossegado antes de Olimpíada nenhum atleta fica. A ansiedade bate, o nervosismo bate, é do ser-humano. Mas os adversários também estão assim – disse Mayra antes de dar meia-volta e sumir arrastando chinelos em meio à agitação da Vila Olímpica.