O tempo é um problema para nós porque exige que façamos escolhas intertemporais para nossas vidas, constantemente. Navegar entre o presente e o futuro é um exercício permanente para as pessoas e nisso há muitas implicações. Pensar: esforço agora para colher depois? Ou viver só o presente? O tempo é universal e está em toda atividade humana, no esporte ainda mais dentro de sua esfera.
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Do iniciante no esporte de base até o atleta com pretensões olímpicas, essa escolha precisa ser pesada na balança constantemente. Avaliar o quanto de sacrifício, energia e recursos precisam ser deslocados do presente para o futuro e saber lidar com oportunidades e incertezas são desafios embutidos na sua escolha de vida. Fazer parte da elite do esporte é um sonho da maioria dos atletas. Nesse afã, a tentação de antecipar recursos físicos é grande, porém depois pode se tornar uma dívida impagável para o corpo. Buscar atalhos pode ser desastroso e ilícito. A impaciência é faca de dois gumes.
Na escolha intertemporal do esporte, estão incluídos os clubes formadores de atletas. A Confederação Brasileira de Clubes (CBC) lançou há cerca de dois anos um programa que tem permitido aos clubes a realização dos seus projetos esportivos, por meio de repasses de dinheiro da Lei Pelé. O programa chegou próximo da Olimpíada, mas totalmente válido porque os valores do presente também serão transferidos para o futuro e os próximos ciclos olímpicos.
O apoio material é fundamental, mas não é tudo. Unir dirigentes e atletas numa mesma vontade orientada para o futuro não é tão simples assim, pois pode haver conflitos, ilusões ou falta de consistências nos projetos. Outro fator é o grau de impaciência nos indivíduos. Sabemos que os humanos gostam mais do que podem ver de perto, pensar numa carreira ou projeto não é atraente.
Cada sociedade tem seu horizonte de tempo particular, o povo brasileiro está entre os que têm forte preferência pelo presente, uma tendência cultura que vemos na nossa história e em nossos governantes, como assinalada o filósofo e economista Eduardo Gianetti. Não dá para subestimar nem superestimar o futuro, é preciso marcar uma latitude neste mapa, mas vale lembrar, por mais que cuidados sejam tomados, o futuro sempre tem um elemento de aposta.
Decisões do momento até projetos para o futuro, o pêndulo deste relógio está sempre a oscilar na nossa cabeça. O sentido de valor ajuda na escolha. A vida é curta e nosso tempo indeterminado. No esporte ainda mais. Nada nos livra das questões que o tempo nos impõe. Cada um escolhe. Como diz a letra de Oração ao Tempo, de Caetano: "O que usaremos para isso/Fica guardado em sigilo".
*ZHESPORTES