A maior feira agropecuária a céu aberto da América Latina abre os portões neste sábado (24), no Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, em Esteio. A 47ª edição da Expointer chega com uma marca de retomada e esperança para o futuro dos gaúchos depois da chuva de maio. O próprio palco do evento foi atingido e precisou passar por obras para receber visitantes de todo o Estado e do país. Como não poderia ser diferente, entre os pecuaristas há representantes da Serra, entre eles participantes oriundos de municípios como Caxias do Sul e Vacaria. Neste ano, são quase 4,8 mil animais inscritos, sendo 3.458 de argola (aqueles que vão a julgamento) e 1.344 rústicos (aqueles que vão a leilão). A feira segue até 1º de setembro.
A Expointer dá uma amostra sobre a importância da agropecuária para a economia gaúcha. Em 2023, por exemplo, a feira teve resultados recordes, com mais de 822 mil visitantes e quase R$ 8 bilhões em negócios. Como destaca a coordenadora da Inspetoria de Defesa Agropecuária de Caxias do Sul (IDA), Luíza Virgínia Caon, a feira é a principal vitrine para os animais, como bovinos, cavalos e ovelhas, e para os proprietários.
— Temos que pensar em Expointer como sendo reprodução. Não vai entrar animal para engorda, por exemplo. É reprodução. E aí, é uma grande vitrine para mostrar as raças criadas no Rio Grande do Sul e em outros Estados convidados. A Expointer é considerada uma vitrine de todos os animais — destaca a veterinária.
A coordenação, ligada ao Estado, emite a guia de transporte dos animais, o que dá autorização para ingressar na feira. Luíza lista que Caxias será representada por touros e vacas de três raças, ovelhas da raça hampshire down, e cavalos de quatro raças (árabe, paint horse, campeiro e quarto de milha).
No caso, a vitrine da reprodução passa pelo trabalho de melhoramento genético dos animais, atividade que auxilia para aumentar a produção, seja de carne ou leite, a produtividade e a qualidade dos produtos. Quem investe nesse trabalho é a Fazenda das Nogueiras, de Criúva, que trabalha com os gados gir leiteiro, um dos zebuínos com maior capacidade de produzir leite, e o girolando. O produtor José Adalmir Ribeiro do Amaral, 56 anos, que participa da feira desde 2010 e coleciona títulos, está com 27 animais na exposição.
Para Amaral, a Expointer é a principal vitrine da América Latina. Ou seja, uma oportunidade para apresentar o trabalho de melhoramento genético de touros e vacas feito há 16 anos e que tem parcerias no centro do país. O produtor lembra que a fazenda dele foi pioneira no uso da transferência de embrião do gado no Estado.
— Participamos dos programas de melhoramento genético das duas raças, tanto do girolando, quanto do gir leiteiro, onde a gente tem até um sistema de genoma, onde você genotipa todos os indivíduos quando nasce e vai aprimorando, segurando sempre os melhores indivíduos de cada raça. Então, vamos apertando esse critério de seleção — explica o criador caxiense.
A Expointer, assim, serve como uma promoção dessa genética, para que depois seja comercializada. Neste ano, por exemplo, a fazenda realizará o seu segundo leilão em âmbito nacional em novembro.
Reconhecimento
Há mais de 50 edições, o reconhecimento da Expointer se dá pelas rosetas, um tipo de medalha aos animais vencedores. Em entrevista para a colunista de Zero Hora Gisele Loeblein, o presidente do Sindicato das Leiloeiras Rurais do Estado (Sindiler-RS), Fábio Crespo, calcula que a premiação pelo menos dobra o valor do exemplar. Da mesma forma, valoriza a fazenda ou a cabanha de criação dele. É claro que para chegar ao prêmio há uma grande concorrência e trabalho árduo, já que os animais de cada raça são avaliados por jurados e especialistas técnicos.
O proprietário da Cabanha dos Bugres, Samuel Carnesella, 39, conta que o trabalho vai de Expointer a Expointer. Na propriedade em Forqueta, em Caxias, o veterinário cria ovelhas hampshire down, espécie específica para produção de carne. Na décima participação dele, Carnesella está com cinco fêmeas e um macho na exposição, sendo uma em parceria com uma cabanha de Novo Hamburgo.
— Por exemplo, os cordeiros que estão nascendo agora neste ano, a gente já procura classificar os animais melhores. E desde pequenos já são preparados, têm uma alimentação diferenciada para o propósito do ciclo. Então, geralmente, fazemos todo esse ciclo. Claro que quando vai chegando mais próximo da exposição, a gente acelera um pouco a questão da alimentação dos animais para eles chegarem um pouco mais bem preparados. Então, tem toda essa questão da nutrição dos animais e também a expectativa — detalha o criador.
A cabanha tem foco na produção de reprodutores e no melhoramento genético. O veterinário vê ainda que a participação na Expointer também auxilia na comercialização, até mesmo para uma rede de contato e, consequentemente, futuras negociações.
— O animal que é vendido na Expointer provavelmente já tem um valor agregado maior. E, consequentemente, também a cabanha ganhando premiações, ela passa a ser mais visualizada, e a gente pode agregar valor aos produtos que a gente vende — analisa Carnesella, lembrando que na feira estão os melhores exemplares de cada criador.
Apresentando raças
Com a exposição, a feira dá a oportunidade da apresentação de raças que ainda podem não ser típicas para a região. Novamente, o criador do Rancho Criúva, Joceley Trevisan, 61, levará quatro machos e seis fêmeas do gado sindi. É um zebu originário do Paquistão, acostumado ao clima semiárido. O caxiense é um dos únicos do Sul a trabalhar com a raça.
Trevisan descreve que o sindi é um gado de médio porte, com o macho chegando a 750 quilos e a fêmea a 500 quilos. O bovino é de dupla aptidão, tanto para produção de leite quanto para de carne.
— Um animal rústico, porque ele não é exigente para comida. A fertilidade dele também é alta e a conversão alimentar dele é bem boa também. Já fizemos a experiência, ele come e o que ele come ele converte em carne — conta Trevisan, adicionando que é um gado que come menos que outras raças.
Rústico como um búfalo, como define o criador, o sindi tem um custo menor de manutenção. Inclusive, em edições passadas da Expointer, colegas surpreenderam-se na quantidade de ração e silagem. Trevisan levou comida para os 12 dias e outros criadores pensaram que ele ficaria lá por apenas três dias. No fim, ainda sobrou alimento.
O trabalho do criador com esta raça começou em 2020, quando ele trouxe as matrizes genéticas. Desde 2022 participa da exposição gaúcha.
Assim como a Fazenda das Nogueiras, o Rancho Criúva faz parte do Grupo Ilhéus, de produtores rurais que mantêm parceria com órgãos públicos de assistência técnica e extensão rural. O trabalho se dá em temas como questões ambientais e sanitária, nutrição do rebanho, correção de solo e gestão de propriedades. Entre os entes está a Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa).
Dos Campos de Cima da Serra
Na Serra, Vacaria também tem representantes na Expointer. Segundo o presidente da Associação e Sindicato Rural da cidade, Luiz Alfredo Horn Júnior, 64, cerca de 10 criadores do município participam desta edição. A maior parte deles trabalha com cavalos ou bovinos. Fredo, como é conhecido, está com ovinos na feira. Ele trabalha com a raça ile de france, na Cabanha São Paulino. É a 35ª vez que participa do evento, sendo referência na criação.
Fredo lembra que a pecuária é a quarta principal atividade de Vacaria, atrás apenas da agricultura, fruticultura e silvicultura. Participar, assim, da Expointer é representar a tradição e qualidade da cidade e da própria Serra.
— Vacaria se tornou essencialmente agrícola pelo nosso clima, pelo nosso campo, pela nossa terra, muito boa, de alta produtividade, uma das melhores do Estado. Além de não sofrer tanto o impacto da seca. Vacaria, na agricultura, todas as áreas são muito disputadas e bem valorizadas — observa o criador, que também trabalha com bovino de corte.
Tratando de tradição, outro representante do município é o proprietário da Fazenda Boa Vista, Fábio Camargo, 51, que atua há 30 anos com cavalos da raça crioulo e trabalha a vida toda no campo. Como nos últimos 15 anos, a fazenda realizou leilão na Expointer. Nesta edição, foi na noite de sexta (23), em parceria com a Fazenda Santa Fé. Foram 22 cavalos para o leilão.
Por conta da chuva que atingiu o Estado, o pecuarista não conseguiu preparar o gado rústico para participar da exposição. Mas Camargo está com cavalos para disputar as tradicionais competições de Morfologia e o Freio de Ouro, modalidades de seleção promovidas pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC).
— A gente tem expectativa nos dois, agora vai depender do julgamento. Toda a expectativa do criador é andar bem ali. Nós sempre temos essa expectativa, a gente tem uma expectativa boa tanto na Morfologia como no Freio de Ouro — diz Camargo.
Produção de abelhas sem ferrão na Expointer
Os animais são a grande atração da Expointer. Mas há mais atrativos, como o Pavilhão da Agricultura Familiar (PAF), com 413 empreendimentos de alimentos e artesanatos. É a venda de produtos como embutidos, defumados, queijos e laticínios diversos, pães, cucas, biscoitos, doces, geleias, mel, entre outros. Segundo a Smapa, Caxias tem dois representantes neste espaço.
Um deles é a agroindústria Dolci Ricorddi, de Santa Lúcia do Piaí, da produtora Giovana Inês Vidor. Ela está com produção de pães, biscoitos, chimias, geleias, conservas, doces e antepasto. Já entre os embutidos, o representante é o produtor Paulo Melos da Silva, da agroindústria Santa Bárbara. O empreendimento de Parada Cristal, que se destaca pelo salame, já coleciona prêmios na exposição.
Ao mesmo tempo, a feira tem espaços destinados a outros temas, como a apicultura e a meliponicultura — a criação das abelhas sem ferrão.
Pela segunda vez, um empreendimento familiar caxiense, o Meliponário Valcir Kerber, está na Expointer. Ele tem a criação de 15 espécies de abelha sem ferrão e é comandado por Valcir Kerber, 44, que dá nome ao negócio, e pela esposa, Francislaine Ferrary Kerber, 44. Francislaine, que fica os 12 dias na Expointer, explica que a participação é para apresentar a importância dessas abelhas para o meio ambiente. Ela exemplifica que há estudos que mostram como a polinização destes insetos pode ajudar até na produção de algumas culturas, como o morango.
— Nós queremos que conservem elas. Porque até então ela ajuda na polinização e também para nós, em termos de alimentos, em termos de produção. Queremos mostrar como elas são importantes para nós — conta Francislaine.
O casal trabalha há 10 anos com as abelhas e hoje recebe até ajuda dos três filhos, as gêmeas Emely e Kristen, 12, e Klysman, 17. A criação é feita na casa deles, organizada em dezenas de caixas.
Nelas, abelhas de cada espécie constroem as colmeias e iniciam a produção do mel. O movimento de abelhas entrando e saindo das caixas é intenso. A partir do mel, que tem características diferentes conforme cada espécie, diversos produtos também surgem, como o tradicional própolis. Inclusive, hoje, até enxames de abelhas sem ferrão são vendidos.
— O mel também é sempre diferenciado. Ele nunca é igual, até porque cada abelha tem a sua fabricação. Então, eles são sempre diferenciados um do outro — reforça a produtora.
Serviço
A Expointer é aberta a todos os públicos.
- Quando: de 24 de agosto a 1º de setembro, das 8h às 20h30
- Ingressos: R$ 18, R$ 9 a meia-entrada
- Crianças de até 6 anos têm entrada gratuita
- Estacionamento: R$ 46*
*O preço do estacionamento não inclui os ingressos