A sobretaxa do aço em 25%, aprovada nesta terça-feira (23) pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex), pode causar aumento de preços em toda a cadeia industrial da Serra. A mudança pode modificar desde o custo de produção até o consumo dos produtos finais, seguindo uma possível tendência esperada para o restante do país segundo a coalizão de 16 entidades, que esteve contra a medida.
A alteração, incentivada pelas siderúrgicas nacionais, causa o aumento do imposto na importação do metal que vem de fora para o Brasil, e foi definida para estar em vigor por pelo menos um ano. Em nota, publicada após a aprovação, o Gecex/Camex pontuou que, durante os 12 meses de sobretaxa, o governo estará monitorando o comportamento do mercado, para avaliar possíveis impactos na cadeia produtiva.
De acordo com o vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Ruben Antonio Bisi, que esteve na coalizão das 16 entidades contrárias à sobretaxa, em virtude do aumento, a região serrana do Rio Grande do Sul, que é majoritariamente movida pela indústria, pode enfrentar desafios como a perda de competitividade externa.
— Em âmbito mundial, nossos competidores macros são os chineses, eles estão exportando e tomando os mercados internacionais de produtos acabados, como ônibus, caminhões, automóveis, eletrodomésticos, e eles exportam para o mundo inteiro. Quando nós estamos importando o aço chinês, temos um aço barato e por isso a nossa produtividade nos permite competir em alguns mercados, não de igual para igual, mas conseguimos competir. Com o aumento para 25%, o aço, que é um grande componente para a produção da nossa região, vamos acabar exportando um produto com mais custo, e assim perdemos a competitividade na exportação — explica Bisi.
Conforme o vice-presidente, ainda é difícil mensurar a longo prazo o que a sobretaxa pode provocar na Serra, entretanto, a exportação dos produtos industriais produzidos principalmente em Caxias do Sul pode enfrentar dificuldades.
— Somos o segundo polo metalmecânico do país, atrás apenas do ABC paulista, então nós dependemos do aço. O aço é nosso maior alimento. Quanto a Estado, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior importador de aço do país. Essa mudança causa impacto direto nas empresas daqui, como automóveis, eletrodomésticos, cutelaria, implementos, e é um impacto bastante grande. Entretanto, como vai ser uma medida para o Brasil inteiro, não vamos perder competitividade para outras regiões, mas perdemos para outros países e hoje os produtos feitos em Caxias do Sul chegam em países do mundo inteiro. Neste momento ainda não dá para dimensionar se vai cair a nossa produção ou não, porque temos que ver se as indústrias nacionais vão aumentar os preços na mesma proporção que vai aumentar o imposto de importação, mas é algo que nos preocupa — conta o vice-presidente.
Até o momento, a sobretaxa foi aprovada para 11 NCMs - que são a Nomenclatura Comum do Mercosul, para a categorização de mercadorias, utilizada em todas as operações de comércio exterior dos países do Mercosul - e, conforme a nota publicada, estabelece cotas de volume de importação para os produtos. Dessa forma, a tarifa só terá o aumento quando as cotas determinadas forem ultrapassadas. Outras quatro NCMs ainda devem ser avaliadas e também podem receber o aumento.
Esse aumento da taxa de importação do aço foi concedido após análises de equipes técnicas, que verificaram que, em 2023, o volume de compras externas superou em 30% a média das compras dos mesmos produtos feitas entre 2020 e 2022.
— Temos uma questão quanto a esse período, porque de 2020 a 2022 o mundo enfrentou a pandemia da covid-19 e, por causa de várias restrições, o mercado consumiu um número muito inferior de aço. Ou seja, os índices de importação eram baixos. Para avaliar melhor essa questão do consumo de importação, queríamos que a cota considerasse os anos de 2022 e 2023, porque aí teria uma média mais justa relacionada à quantidade de aço importado para o Brasil — pontua Bisi.
Até esta terça-feira, a importação do aço de outros países tinha o custo médio de 12%. O governo não determinou se a mudança estará valendo já a partir de quarta (24). Segundo a nota, a expectativa é de que a decisão de aumento contribua para reduzir a capacidade ociosa da indústria siderúrgica nacional.