O 25 de outubro é lembrado como o Dia do Sapateiro, uma homenagem aos santos Crispim e Crispiniano, padroeiros da profissão. Conforme a Igreja Católica, os irmãos de origem romana e que viveram no século 3, além de pregarem o cristianismo, também atuavam na atividade. Muitos séculos depois, apesar de ser o segundo maior município do Rio Grande do Sul, Caxias do Sul conta com apenas 13 profissionais com CNPJs registrados na Receita Federal. Ou seja, um para cada 35,6 mil habitantes, de um total de 463.338, segundo o IBGE. Apesar da baixa quantidade, quem se manteve neste ofício histórico garante que a paixão pela atividade é o combustível para manter vivo este trabalho artesanal.
Além do gosto pela atividade, quem continua na tarefa também está contente com os resultados dos negócios e com a evolução da tecnologia, que ajuda bastante no trabalho. Um exemplo é o sapateiro Tailor Antonio Vedoy, de 59 anos, que tem mais três décadas de experiência e é proprietário da Sapataria Paris, na Rua Antônio Prado, no bairro Exposição. Aprendeu a profissão com um conhecido e, no início, dividia a atenção com outras atividades. Mas acabou pegando o gosto e migrou definitivamente para a função.
Atualmente, além do conserto de calçados, faz trocas de fechos em bolsas e mochilas e outros trabalhos em geral relacionados ao couro. Para Vedoy, o mix de serviços proporciona um bom fluxo de clientes diariamente.
— Tem serviço de janeiro a janeiro. Eu começo cedo e paro apenas à noite, sempre trabalhando bastante.
Os 30 anos de experiência na profissão lhe permitiram acompanhar muitas mudanças no cenário das sapatarias. Atualmente, percebeu que a concorrência diminuiu e, por outro lado, observou uma melhora na execução das tarefas, até mesmo por conseguir utilizar máquinas que facilitam o trabalho. Está no espaço atual há pouco mais de três anos. Antes, possuía outra empresa do ramo, que agora está sendo tocada pelo filho Yago Vedoy. A nora Bianca Vian Dannenhauer também tem auxiliado no empreendimento.
— Hoje em dia está bem mais dinamizado. Eu já tenho máquinas eletrônicas, utilizamos a pintura com pistola, saltos não são mais com pregos, se usa a parafusadeira. Então, dinamizamos o nosso trabalho, até para dar rendimento. Evoluiu bastante, como tudo.
Vedoy acredita que o trabalho de um sapateiro segue sendo essencial, e o incremento das plataformas digitais tem feito a procura pela empresa crescer. Desde o início da pandemia da covid-19, começou a divulgar o serviço pelas redes sociais e percebeu que pessoas de outras cidades, como Flores da Cunha e Nova Petrópolis, por exemplo, começaram a procurá-lo para o conserto de calçados e bolsas.
Paixão de pai para filho
E claro que também há quem tenha seguido o ofício familiar. É o caso de Mauricio dos Santos da Silva, 33 anos, que decidiu dar continuidade ao trabalho do pai, Paulo Clair da Silva, que fundou a Sapataria Trevo no ano de 1976. Quando criança, Mauricio ia junto para brincar nas dependências do estabelecimento. Com o passar dos anos, foi aprendendo a executar a atividade.
— Dizem que é paixão — brincou o sucessor da sapataria.
Com a aposentadoria de Paulo no ano de 2011, Mauricio assumiu o controle da loja, que está localizada na Rua Irma Zago, no bairro Sagrada Família. Conforme o profissional, o início foi um pouco complicado, até porque o pai já era conhecido pelos clientes e concorrentes, mas, com o passar do tempo, foi pegando o ritmo. Como o serviço de sapateiro requer uma confiança e garantia de boa execução, decidiu iniciar a graduação em Marketing na Universidade de Caxias do Sul (UCS), até mesmo para aprimorar a relação com os clientes.
— Foi um jeito que eu achei de buscar um conhecimento para ajudar a melhorar a sapataria.
O conhecimento sobre as plataformas digitais o levou a divulgar a Sapataria Trevo nos mecanismos de buscas, como o Google. Segundo Mauricio, é uma das ferramentas que mais tem auxiliado aos clientes a chegarem até a empresa, uma vez que basta pesquisar com as palavras-chave "sapataria em Caxias do Sul" que lá estará o endereço da Trevo.
Outra melhoria proposta por na empresa foi a implementação de um sistema em computador para cadastrar os serviços executados. Isso trouxe melhores respostas para a parte financeira, como, identificar que o tíquete médio é de R$ 36,45. São 360 consertos por mês, com as colagens de solas e línguas de calçados e as costuras em couro sendo os trabalhos mais procurados.
O Pioneiro tentou ver com a Receita Federal um comparativo do número de profissionais nos últimos anos, mas a estatística não estava disponível. Apesar de haver apenas 13 CNPJs registrados na Receita nesta função em Caxias, pode haver outros profissionais informais ligados ao ramo atuando na atividade.