Dias de sol têm sido raros na Serra gaúcha. Em setembro, as consecutivas chuvas fizeram com que o acumulado fosse 107% superior ao esperado para o mês. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (InMet) foram 339,1 milímetros em Caxias do Sul, índice 253,2% maior que toda a chuva registrada em setembro do ano passado, quando choveu 96 milímetros.
Há pouco mais de uma semana para o fim de outubro, o mês, normalmente chuvoso, já ultrapassou em mais de 30% o esperado para o período. Até segunda-feira (23) a maior cidade da Serra acumulava 200,9 milímetros de chuva, segundo o Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPPMET).
O cenário não é animador e, segundo a Climatempo, embora a chuva tenha dado uma trégua desde a última segunda-feira (16), novas precipitações podem acontecer nesta sexta-feira (19) e principalmente no domingo (20), indicando que a próxima semana também começará chuvosa.
O clima instável tem alterado a rotina da construção civil, paralisando atividades que dependem do tempo seco e causado apreensão em agricultores que precisam de luz solar para a brotação das culturas.
No Ceasa Serra, a cotação de preços, principalmente de folhosas, tem se alterado semanalmente. O aumento não é uma regra. Nesta semana, dos 40 principais produtos comercializados, 21 chegaram a ter baixa. Entre as altas mais expressivas está a da couve chinesa, que aumentou 30% de uma semana a outra.
— As folhosas têm uma maior alta porque acabam apodrecendo ou não vindo tão vigorosas. Uma semana o morango tem alta e, na outra, baixa, em função da temperatura. É muito variável, não temos uma estabilidade já há algum tempo. Tem um delay nos preços, uma semana que esquenta o preço cai, quando esfria e chove, o preço aumenta — explica o coordenador de mercado da Ceasa, Leonardo Basso
O ciclo rápido de crescimento das verduras está sendo prejudicado pelos seguidos dias de clima nublado. Alfaces, por exemplo, podem ser colhidas em até 45 dias após serem semeadas, mas a falta de luz solar, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Farroupilha, tem feito agricultores aguardarem por uma colheita tardia de até 60 dias na expectativa de que a folha ganhe vigor.
— Falta sol, falta luz, não é só a chuva que afeta a cultura que está direto no campo, mas aquela que cresce em estufa também não consegue se desenvolver. Na fruticultura, os pêssegos teriam que começar a ser colhidos e estão muito pequenos, não se desenvolveram. E há ainda o risco de operar os tratores no terreno encharcado, que podem atolar ou até virar — revela o presidente do STR, Márcio Ferrari.
Incerteza para novas colheitas
É a impossibilidade de semear que preocupa agricultores que trabalham com legumes e verduras. São plantadas a cada mês e o ciclo de colheitas é de em média cem dias, o que significa que o atraso das semeaduras causado pelo alto volume de chuvas pode refletir em preço mais alto e falta de produtos em dezembro.
— Setembro e até agora, quase no fim de outubro, não deu pra preparar a terra, senão já teria plantado repolho, beterraba, rabanete e couve — contou Tiago Simionatto, 36.
Obras paradas
O clima úmido atrasa também as entregas da construção civil. Obras que teriam de quatro a seis pessoas trabalhando de forma simultânea se esvaziam e passam dias sem receber serviços à espera de dias melhores.
Terraplanagens, pinturas e acabamentos externos estão parados e entram na fila de uma série de trabalhos, listados pelo diretor da Eixo Empreendimentos, Silvano Andretta, para serem realizados só quando o tempo firmar.
— O início de obras na parte de escavação é inviável, carpintaria e rebocos externos também. Para aplicações de funilaria em coberturas e telhados não há material que seque, então atualmente se trabalha em poucas etapas da construção. De agosto pra cá rendeu muito pouco, está bem complicado, precisaria uma semana seguida de sol — disse.
O empresário Marco Antônio Mezzomo presta serviço com miniescavadeiras e minicarregadeiras. Com as máquinas são feitas todos os trabalhos de preparação de terreno para obras. A redução no faturamento em setembro é, segundo ele, de pelo menos 35%.
— Meus clientes baixaram o faturamento no mês passado e deixaram de investir neste mês, o que me afetou mais ainda, então o serviço reduziu ainda mais, em 45%. Quando sai um dia de sol o cliente quer tudo, quer brita, encanador, pedreiro e madeira tudo junto. Nenhuma empresa consegue atender com qualidade assim, não rende — disse Mezzomo.
R$ 8 mil a menos em lavagem de carros
São até 16 veículos lavados por dia no ponto gerenciado por Cristopher Trindade, 32, na esquina das ruas Marechal Floriano com a Os 18 do Forte, no Centro. Mas isso quando o tempo permite. Desde o início das chuvas, em setembro, o movimento reduziu em até 90%.
— Tem dias que não lavamos nenhum carro, mês passado deixou de entrar uns R$ 8 mil. Aí tem que se virar com o aluguel e o salário do pessoal — pontuou.
Por outro lado, as caixas d’água instaladas na última seca e que captam a água da chuva, chegam a transbordar:
— Faz um mês que não usamos água da rua. É uma economia, mas não adianta ter água e não ter carro pra lavar — lamenta.