Até o próximo dia 20, empregados com carteira assinada vão receber a segunda parcela do 13º salário. A primeira foi paga nesta quarta-feira (30). Em Caxias do Sul, são pouco mais de 151 mil beneficiados, conforme o Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), o equivalente a cerca de 29% da população, considerando a projeção mais recente do IBGE para a cidade (523 mil habitantes). Em média, cada trabalhador recebe R$ 3.191, somadas as duas parcelas. Embora esteja na previsão anual de funcionários de empresas, é comum que o dinheiro seja visto como um extra. E isso faz com que muitos trabalhadores tenham a percepção de que não é preciso aplicá-lo dentro do planejamento financeiro da família. Essa avaliação pode se tornar uma armadilha.
— Normalmente, a gente tem um recurso a mais e, se a gente não segura um pouco e não reflete, a gente tende a consumir mais, a gente tende a esbanjar, por acreditar que é um extra que se extrapola ao contexto do mês. Mas ele é sempre uma chance importante para várias possibilidades, seja para investimentos, seja para equilibrar as contas ou até aquela viagem que a gente espera, mas tudo isso é voltado para uma reflexão familiar junto com um bom planejamento — sugere o professor da área de gestão financeira Oderson Panosso, coordenador do curso de Tecnologia em Processos Gerenciais e da Especialização em Inovação e Gestão do Campus Farroupilha do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).
O pagamento de dívidas atrasadas, por exemplo, é uma recomendação de especialistas, com prioridade para aquelas com maior taxa de juros.
— É importante analisar principalmente a questão das dívidas, onde se tem juros mais altos, como cartão de crédito, cheque especial, e buscar sempre uma melhor negociação, por mais difícil que isso seja. Também pode-se buscar a renegociação de empréstimos em atrasos que possuem taxas, encargos, multas, mas também muitas vezes o 13º pode ser usado por uma antecipação de contas. Um exemplo: de automóveis, de imóveis aonde você possa fazer uma liquidação até antecipada buscando um desconto — aconselha Gustavo Bertotti, professor da FSG Centro Universitário e economista-chefe da Messen Investimentos.
É possível ainda pensar em investimentos, que estão favorecidos no Brasil devido à alta taxa de juros, inclusive para aporte em renda fixa. O pagamento de impostos e seguros que vencem no início do ano é outra demanda para o benefício. Mas, claro, parte desse dinheiro também pode ser aproveitada para compra de presentes e atividades de lazer. O psicólogo Mateus Darol, que tem atuação e especialização na área de economia e finanças comportamentais, recomenda que a prioridade seja começar o ano de 2023 com as contas ajustadas e, para isso, ele diz que é preciso colocar tudo na ponta do lápis, para saber quanto sobra para gastos para presentear e se divertir:
— A gente tem uma certa dificuldade de criar cenários de realidade do futuro. Então, quando a gente começa a colocar isso no papel, escrever, desenhar, dar uma forma, “um nome e sobrenome” para isso, fica mais fácil para o nosso cérebro se ajudar à demanda que a gente tem.
Foco na própria realidade
Com as redes sociais, é comum acompanhar recortes das vidas alheias. Nas viagens, postagens recorrentes fazem com que seguidores possam acompanhar o passo a passo em tempo real. Nas festas, as trocas de presentes fazem parecer que todo mundo está muito bem servido neste quesito. Então, fica difícil para o "espectador" não se frustrar se estiver em uma situação diferente. Nessa hora, parar para pensar sobre as próprias prioridades pode ajudar a definir um uso mais racional do 13º salário.
— O 13º acaba sendo visto como bonificação, quase como um presente, um dinheiro extra que a pessoa está recebendo. Então, já que é um “prêmio”, vou usar com algo que me faça feliz. A gente passa por um momento que parece que o ano inteiro a gente está sofrendo. Dinheiro tem uma conotação, parece, um pouco de sofrimento. Então, quando vem o 13º, parece que ele vem como uma luz no fim do túnel e as pessoas querem que essa quantidade seja aumentada ao máximo. Então, foca em tudo que não é o necessário. Tem um prazer um pouquinho maior, mas é muito momentâneo.
Como utilizar o 13º salário
- Fazer uma avaliação da vida financeira da família;
- Parar para definir quais são as prioridades e quanto aplicar em cada uma;
- Quem está inadimplente deve priorizar o pagamento de contas com maiores taxas de juros;
- Quem tem contas em dia, como financiamentos para imóveis ou veículos, pode avaliar o uso de parte do benefício para adiantar parcelas ou quitar a dívida. Para isso, é importante fazer uma negociação para obter melhores condições com o credor;
- Lembre-se que o início de ano tem cobranças regulares, que oferecem descontos para o pagamento em cota única, como IPTU e IPVA. Também pode ser a hora da renovação de seguros de casa e carro.
- Para quem tem filhos, é preciso planejar a compra de materiais escolares
- Parte do 13º salário pode ser utilizado ainda para atividades de lazer, como viagens de final de ano, e compra de presentes para as festas natalinas. Nesses casos, é importante levar em consideração a situação financeira atual da família e adequar os gastos à realidade de cada uma. Por exemplo, uma família sem contas pode usar uma cota maior do 13º para presentes, enquanto outra endividada terá de cuidar para não extrapolar.
- Considere fazer uma reserva de emergência. Esse é o dinheiro que fica parado para períodos em que ocorrem gastos imprevistos;
- Por fim, também é possível usar uma parte do recurso para fazer investimentos. Com a taxa de juros alta no país, essa alternativa é benéfica para a população, inclusive para quem tem aversão ao risco. É que investimentos de renda fixa também podem ter boas opções.
Fontes: Oderson Panosso, Gustavo Bertotti e Mateus Darol
Redução na injeção na economia de Caxias
O pagamento do 13º salário vai injetar R$ 482,3 milhões na economia caxiense. O valor é menor que o do ano passado, quando foram 488,9 milhões. A estimativa de queda aparece na Carta Especial 13º Salário, produzida pelo Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul. De acordo com o documento, a redução pode ser explicada pela diminuição da força de trabalho e dos rendimentos. A Carta aponta 1.345 carteiras assinadas a menos que em 2021 e a renda média caiu R$ 15,24.
Para utilizar de diversas formas
O 13º salário é um respiro na conta bancária do brasileiro e sua utilização movimenta a economia assim que disponível. Na quarta-feira (30), último dia para o pagamento do benefício, a Avenida Júlio de Castilhos, no centro de Caxias, pulsava com a presença de consumidores com dinheiro no bolso e comerciantes atentos ao movimento. Entre a oferta de itens alusivos à Copa e ao Natal, rescaldos da Black Friday também incentivavam o consumo.
Foi em um pinheiro de Natal e um boné para o filho que a soldadora Patrícia Camargo Ferreira, 29 anos, gastou os primeiros R$ 50 do 13º salário pago ainda pela manhã.
— Um dinheirinho extra é sempre bom. Gasto com uma coisinha ou outra e o restante guardo porque todo final de mês tem conta, e a próxima parcela virá menor — lembrou Patrícia.
A garantia de um dinheiro a mais no final do ano torna possível outros investimentos. Em uma loja de móveis e eletrodomésticos, Leila Rabelo Aires, 32, adquiria camas novas para os filhos, mas diz não ter pago com seu 13º, há meses já planejado.
— Já espero desde a metade do ano. Dessa vez vai pagar a conta dos móveis planejados que instalamos em casa — contou.
E há também quem prefira usar o dinheiro para criar memórias com a família. A sorte de Davi, segundo a avó, foi nascer em dezembro junto da chegada do benefício. E é com ele, que a mãe Luciane Casagrande, 35, gastará o seu. O garoto fará 11 anos no sábado e uma programação especial, financiada pelo 13º, foi planejada.
— Sobrou um pouco, mas grande parte gastei na festa de aniversário dele e em um passeio à Gramado que faremos nesse domingo — contou a auxiliar de laboratório.