A falta de mão de obra treinada é uma condição que tem afetado diversos setores. Na indústria, primeiro segmento a começar a recuperação mesmo com a pandemia, o problema tem sido recorrentemente apontado por empresários e setores de recursos humanos de Caxias do Sul e região. Diante disso, mais que esperar que a solução ocorra espontaneamente, indústrias da Serra têm feito o próprio treinamento, além de parcerias para qualificação, como o Senai, que leva os cursos para dentro de 62 empresas em Caxias.
Um estudo da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) mostra que o problema da falta de profissionais qualificados afeta 64% das empresas no Estado, sendo que 86% delas usam a qualificação própria para contornar o desafio. É uma medida para tentar reduzir o impacto da falta de mão de obra qualificada, já que a tendência é de que o país continue a exigi-la em larga escala. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que, até 2025, o Brasil precisa qualificar 9,6 milhões de profissionais para atender as necessidades de mão de obra projetadas pelo setor em todo o país.
— À medida que a indústria se recupera, ela começa a gerar novos empregos. Nós temos, também, a chegada do 5G no Brasil, mudanças na cadeia produtiva, nos processos logísticos, um avanço no e-commerce... Então temos uma expansão muito forte na área de tecnologia da informação e a necessidade de dados para aprimorar a produção — explica a especialista em Mercado de Trabalho da CNI, Anaely Machado.
Na região, uma das empresas que encontram dificuldades para contratar é a Zegla Indústria de Máquinas para Bebidas, de Bento Gonçalves.
— Parte elétrica falta, automação falta muito. Hoje todas as máquinas necessitam de muita automação — confirma a diretora da empresa, Gládis Stringhini.
Parcerias com o Senai
Para driblar a dificuldade, empresas fazem parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que em Caxias do Sul teve, de janeiro a setembro, 6,1 mil matrículas de estudantes. Para se ter uma ideia, em 2019, antes da pandemia, eram 4,4 mil no mesmo período. É um aumento, de lá para cá, de 38,6%. Além dos cursos oferecidos na própria instituição, há empresas que preferem o treinamento dentro da própria estrutura — são os chamados cursos in company. O Senai tem contato direto com 62 empresas com esse tipo de necessidade.
— As nossas empresas investiram bastante em tecnologia. Todas as máquinas hoje são automatizadas e isso exige do operador que ele tenha um conhecimento bastante aprofundado, principalmente na área das exatas, como matemática — afirma gerente de operações do Senai de Caxias do Sul, César Augusto Modena.
O Senai mantém ainda parceria com empresas que fornecem bolsas para a jovens aprendizes. Hoje, são 496 envolvidas com essa iniciativa. Em 2019, eram 402. Isso representa um aumento de 23,4%.
— Tem sido muito proveitoso. Acho que foi uma idade boa pra eu começar na área profissional, porque com certeza vou utilizar muito isso lá na frente, aqui na empresa e até em outras também — resume a jovem aprendiz Vitória Correa Mendes, 16 anos, que obtém treinamento de diversas áreas da produção.
Marcopolo oferece treinamentos
Uma das maiores empresas do país, a Marcopolo, que durante a pandemia viu cair a demanda por ônibus, agora está em um mercado reaquecido. No primeiro semestre, um Feirão de Emprego teve 1,3 mil inscritos. Só que muitos candidatos não tinham formação para as vagas disponíveis. Assim, o grupo se mobilizou para convidar 400 candidatos para participar de cursos profissionalizantes realizados em parceria com o Senai e já contratou 250 deles.
— A gente faz uma prova no final e eles falam se você passou ou não. Eu tive a chance de passar de primeira — comemora o soldador Bruno Bonetto, contratado há cerca de um mês para a área de produção de carrocerias de ônibus.
Por meio do programa de qualificação, atendemos nossa demanda interna e também colaboramos com as pessoas que estão em busca de um novo posicionamento no mercado de trabalho
JEISON BECHELIN LEMOS
Gerente de Gestão de Pessoas da Marcopolo
Quem também ganhou a oportunidade foi a montadora de acabamentos Camila Pereira dos Santos, que conta que tentava uma oportunidade no mercado de trabalho há meses.
— Foram alguns meses de espera, muitos "nãos", e aqui eu consegui. O curso ajudou muito também.
O programa de capacitação profissional da Marcopolo tem cursos nas áreas de solda, pintura, elétrica e montagem. Todos os treinamentos foram estruturados com aulas teóricas e práticas por profissionais especializados. Os cursos têm duração de quatro semanas e carga horaria de 72 horas. Além da capacitação técnica, foram realizados treinamentos de segurança e dinâmicas comportamentais com foco nos valores e cultura da Marcopolo.
— Por meio do programa de qualificação, atendemos nossa demanda interna e também colaboramos com as pessoas que estão em busca de um novo posicionamento no mercado de trabalho. Entendemos que essa é uma forma de auxiliar a comunidade, pois desenvolvemos as pessoas para as oportunidades que a indústria local pode oferecer — explica o gerente de Gestão de Pessoas da Marcopolo, Jeison Bechelin Lemos.
Saiba mais
Os treinamentos oferecidos pela Marcopolo são nas áreas de solda, pintura, elétrica e montagem. No momento, não há inscrições abertas, mas a empresa diz que divulgará amplamente quando houver disponibilidade de novas vagas. Para os próximos cursos, além da inscrição prévia, existem requisitos básicos, como ser maior de 18 anos e ter o Ensino Médio completo.