Em busca de renda extra, Fabíola começa a vender brigadeiros para amigos e colegas, abre uma cafeteria e cria a rede de franquias em menos de 10 anos em Caxias do Sul. Guilherme e Matheus unem experiências e economias para abrir um restaurante com comida saudável à noite. À frente de uma empresa cinquentenária, as irmãs Adriele, Franciele e Michele levam novos ares para a gestão da malharia criada pela avó. Pioneiro no e-commerce local, Felipe desbravou o mercado chinês e hoje reposicionou o negócio para vender também produtos nacionais e próprios pela internet.
Além do fato de serem caxienses, os personagens que abrem essa reportagem possuem mais uma característica que os une: ambos empreenderam com menos de 30 anos e estão à frente de negócios que podem ser chamados de seus.
E eles não estão sozinhos: entidades empresariais de Caxias do Sul observam maior interesse entre pessoas de 18 e 35 anos a assumir o papel de empreendedores. Mais do que coragem e persistência, as duas características mais lembradas como fundamentais para quem quer ser o próprio chefe, eles também foram mais estimulados desde cedo a empreender e consideram a criatividade e as boas ideias como fiadores do sucesso em mercados concorridos e desafiadores.
Na visão da presidente do núcleo jovem da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a psicóloga Shaíze Maldonado Roth, esse maior interesse ocorre por dois motivos: há jovens que não desejam seguir uma carreira corporativa tradicional e outros que estão em processo de mudança de profissão e querem experimentar novas possibilidades de obter renda e de sucesso.
Segundo ela, ter um propósito é uma das principais metas de quem tem menos de 30 anos e deseja se posicionar no mercado de trabalho como empreendedor.
— Estamos passando por um momento em que as pessoas se perguntam muito se o que elas estão fazendo está gerando algum impacto na sociedade. No meu TCC, quando pesquisei sobre o sentido do trabalho para o jovem, me propus a descobrir o que o trabalho precisava ter para fazer sentido. E grande parte dos entrevistados afirmou que precisavam saber como o trabalho deles fazia a diferença na vida de alguém. Vejo que esse movimento está alinhado com a jornada empreendedora, que é fazer aquilo que se acredita e que pode fazer a diferença — explica.
Para Shaíze, é importante que quem deseja empreender saiba que existe uma rede de apoio que pode facilitar o processo e garantir vida longa ao projeto.
— Empreender não é glamuroso. Tem muito trabalho e o jovem precisa saber onde ele quer chegar e se preparar muito para isso. Existem diversas opções de cursos que ajudam a pensar e formatar um negócio. Além disso, networking e a troca de experiências são fundamentais. Não precisa ser feito tudo sozinho, tem pessoas dispostas a ajudar — ensina ela, que é sócia-diretora da empresa Sou - Coaching e Consultoria e que atua também na formação de novas lideranças.
O administrador Júlio César Chiappin, que está à frente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) Jovem, compartilha da mesma opinião: a rede de apoio é o melhor auxílio para quem está começando. Segundo ele, que tem 24 anos e é diretor da Rede de Ensino Caminho do Saber, as possibilidades de atuação na cidade são amplas e até mesmo os influenciadores digitais podem ser considerados empreendedores porque criaram um serviço e movimentam a economia por meio de ações nas redes sociais.
— Ter o próprio negócio é algo que os jovens buscam para trazer coisas novas para o mercado e dar a sua cara para esse trabalho. Não quer dizer que em um espaço, uma organização, ele não possa fazer isso. Percebo que esse comportamento é bastante presente, mas acaba se dividindo entre quem quer ser o próprio chefe ou quem quer usar essas ideias e essa energia em uma empresa — analisa.
Chiappin afirma que ainda que, para este ano, a CIC Jovem deve retomar ações de empreendedorismo com os jovens que foram impactadas pela pandemia e não realizadas no ano passado. Uma delas é o programa Miniempresa, que busca despertar e desenvolver o empreendedorismo em adolescentes do segundo ano do Ensino Médio da rede estadual e particular de ensino de Caxias do Sul. Acompanhados por voluntários das áreas de Recursos Humanos, Produção, Finanças e Marketing, os estudantes executam todos os passos para a criação de uma empresa.
Rede de apoio em seis entidades
Como forma de incentivar a participação dos jovens nos cargos de liderança, entidades empresariais da cidade organizam núcleos voltados para empreendedores entre 18 e 35 anos:
- CDL Jovem
- CIC Jovem
- Sindilojas Jovem
- Sescon Jovem
- Sinduscon Jovem
- Microempa Jovem
Além disso, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego (Sdete) criou a Sala do Empreendedor. O local auxilia na simplificação dos processos de abertura, baixa, funcionamento das empresas, microcréditos, palestras, capacitações, entre outros serviços para fomento do empreendedorismo no município. Saiba como contatar:
- Atendimento pelo WhatsApp: (54) 9 8407.8160
- Telefone: (54) 3218.6000 - ramais 6330 ou 6394
- E-mail: saladoempreendedor@caxias.rs.gov.br
- Atendimento: segunda a sexta-feira, das 10h às 16h. É necessário agendar.
20% das empresas caxienses possuem lideranças jovens
Entre as mais de 4,6 mil empresas associadas à CDL Caxias, nos segmentos do comércio, indústria e serviços, 4,3% dos sócios têm entre 21 e 30 anos e 16,6%, entre 31 e 40 anos. Algumas entidades consideram como jovens a faixa etária entre 18 e 35 anos, mas outras estendem essa característica para até 39 anos. O Prêmio Jovem Talento Empreendedor, promovido anualmente pela Prefeitura de Caxias do Sul, premia iniciativas de empreendedores entre 18 e 39 anos.
Dentre o segmento do comércio, isso representa:
- 21 a 30 anos: 3,2%
- 31 a 40 anos: 14,3%
Dentre o segmento do serviço, isso representa:
- 21 a 30 anos: 5,8%
- 31 a 40 anos: 21%
Dentre o segmento da indústria, isso representa:
- 21 a 30 anos: 6%
- 31 a 40 anos: 16%
fonte: CDL Caxias do Sul
De um brigadeiro a uma rede de cafeterias que quer conquistar o mundo
Com o salário de estagiária que recebia, em 2012, a confeiteira Fabíola Coppi Fadanelli comprou uma lata de leite condensado e outros ingredientes para fazer brigadeiros e vendê-los nos locais que frequentava. Um negócio informal, feito na cozinha de casa e que avançava nos períodos em que ela não trabalhava e nem estudava. O doce fez tanto sucesso com os colegas de trabalho e de faculdade que passaram a fazer encomendas e levaram a jovem a usar o lucro das primeiras vendas para comprar outros insumos e produzir ainda mais brigadeiros.
Em menos de dois anos, o que começou como uma alternativa de renda para a jovem de 29 anos ganhou dedicação exclusiva e se transformou na Dulce Amore Confeitaria Fina, que começou como uma cafeteria no bairro Exposição e, desde março do ano passado, se tornou uma rede de franquias com cinco unidades em Caxias do Sul e Gramado e com metas para chegar a 100 unidades no país e também no Exterior nos próximos cinco anos.
Uma trajetória conquistada por Fabíola, agora CEO da Dulce Amore, que tem 29 anos.
— A primeira loja teve um desempenho tão bom que permitiu a abertura de outras cafeterias, inclusive em um shopping da cidade. Chegamos a ter três unidades próprias em operação. Foi assim até o momento que descobri, há três anos, o mundo do franchising e me apaixonei. Não queria mais ser dona, mas também precisava encontrar alguém que fosse tratar o meu negócio como dono. E quando descobri as estratégias do franchising, vi que era esse o caminho — conta.
Desenvolvido com o conceito de café para levar, o formato da Dolce Amore planejado por ela é de uma cafeteria entre 6 e 15 metros quadrados com custos fixos baixos, voltada para grandes centros ou locais com expressivo fluxo de pessoas.
A meta é que os franqueados tenham retorno financeiro em até 15 meses, com uma margem de lucratividade mensal de 20%. O valor de investimento, com a loja pronta, fica entre R$ 100 mil e R$ 120 mil. Os estudos para a franquia levaram dois anos até começarem a sair do papel.
As metas de Fabíola são ambiciosas: a sexta unidade será inaugurada nos próximos meses em um bairro de Caxias - saindo pela primeira vez de áreas centrais. Outras seis cafeterias devem abrir até o final deste ano. Enquanto isso, ela ainda recupera o investimento de R$ 500 mil e prevê que a franqueadora comece a dar lucros a partir da décima cafeteria.
— Esse é outro mito das pessoas que querem empreender e acham que vão ficar ricas da noite para o dia. Não é assim. Tem muito trabalho antes dos milhões chegarem — brinca.
Para abastecer as unidades, além de oferecer o conceito arquitetônico, mobiliário, sistemas, a rede também é responsável pela fabricação dos doces oferecidos pelos franqueados. Os produtos que acompanham o café, como bolos, brownies e brigadeiros, são fabricados em Caxias por uma equipe de 20 funcionários, responsáveis também pela logística de abastecimento das unidades.
Para ela, qualquer jovem pode se tornar um empreendedor, desde que seja treinado, saiba onde quer chegar e que tenha persistência.
— Enquanto empreendedores, quanto mais crescemos, mais a gente amadurece e aprende a lidar com novos desafios. Meu primeiro passo foi aos 20 anos, sem experiência e saindo do zero. Ser jovem também acaba sendo difícil por passar pouca credibilidade, somado ao fato de ser mulher e liderar um negócio. Sempre tive muita dedicação e acho que esse é o segredo. Com o passar do tempo, ganhei experiência. Todos os passos foram grandes e desafiadores, passei por muito perrengue, mas é do meu perfil desbravar novos segmentos.
Empreender também exige gerenciar pessoas, conta empresário que abriu restaurante durante a pandemia
Mais do que um restaurante e bar para reunir os amigos no fim do dia, o empreendimento do caxiense Guilherme Ferreira, 27 anos, também foi pensado para oferecer um cardápio saudável e mais leve para quem foge de refeições pesadas e calóricas à noite. Desde agosto do ano passado, Ferreira e o sócio Matheus Quadro, 27, reuniram as economias e empreenderam juntos para inaugurar o Viela 18 Gastro Bar, que abriu na Rua Os Dezoito do Forte, no centro de Caxias do Sul.
Durante os primeiros três meses, o espaço operou somente com entregas, mas desde novembro funciona também com atendimento presencial.
— Sempre tive o desejo de empreender, mas tinha que ser algo bem planejado, conceitual e que fizesse a diferença no mercado. Não dava pra ser mais do mesmo. Por isso, exploramos esse segmento pouco difundido que oferece opções de alimentação mais saudável durante à noite, algo que é mais presente durante o dia — explica.
De família empreendedora, Ferreira afirma que decidiu ter o próprio negócio depois de uma experiência fora do país. Durante um ano e meio, ele fez intercâmbio na Irlanda, onde trabalhou no setor de alimentação e colheu experiências que foram utilizadas para planejar o estabelecimento em Caxias do Sul.
O conceito do Viela 18, segundo Ferreira, prima pela sustentabilidade e busca causar menos impacto no meio ambiente com a utilização de embalagens não descartáveis e também por priorizar a compra de insumos frescos e adquiridos de produtores locais.
Antes de iniciar as operações, ele conta que o planejamento do espaço começou em janeiro do ano passado com a elaboração de um projeto arquitetônico e também na construção da marca. Em abril, foram autorizadas as obras para adaptar o que antes era um estacionamento em um espaço com mesas e cadeiras para receber os clientes. Um trabalho que levou sete meses até ser concluído, segundo ele.
O investimento para abrir o espaço foi de R$ 400 mil, onde cerca de dois terços foram de capital próprio dos dois sócios e o restante, obtido com empréstimo. Para Ferreira, o principal desafio como empreendedor é gerenciar pessoas. O espaço conta atualmente com 12 colaboradores, entre equipes que preparam as refeições, drinks, atendimento e segurança.
— Iniciamos o delivery com três pessoas e, na inauguração do espaço, chegamos a ter 20 profissionais trabalhando conosco. Como era tudo muito novo, até todo mundo entender o cardápio e o conceito, foi um desafio muito grande. O negócio depende muito de quem comanda, mas os funcionários são fundamentais para o sucesso. Precisei aprender a gerir as pessoas e saber lidar com cada personalidade, o que era novo pra mim — conta.
Além disso, a pandemia de covid-19 também foi um obstáculo, já que algumas pessoas ainda se sentem receosas em sair de casa. O mesmo vale para o preço dos insumos e dos equipamentos, que oscilaram bastante durante o ano e exigiram atualizar as cotações em diferentes momentos para acompanhar a alta nos valores, principalmente dos alimentos.
Ferreira dá duas dicas para quem deseja empreender ainda na juventude.
— A principal lição que aprendi é que tem que ter dedicação. Não é somente o investimento financeiro, mas é o teu tempo e a tua energia que é dado para fazer as coisas acontecerem. Também penso que não dá pra empreender apenas focando no dinheiro, no lucro, no retorno daquilo que foi investido. Isso é importante, mas entendo que precisa ter uma pegada diferente, bem planejada, com um propósito para o cliente.
Irmãs de 21 e 33 anos assumem empresa cinquentenária e planejam expansão inédita
As irmãs Adriele, Franciele e Michele Ballardim podem não ter dado os primeiros passos para montar o negócio, mas hoje são elas que planejam os rumos da Ballardim Malhas, uma empresa com 53 anos de atuação em Caxias do Sul.
Criada pela avó Edith e depois administrada pela mãe Iraci, a fábrica localizada no bairro Cruzeiro é liderada, agora, pela terceira geração da família. Mais do que a familiaridade, elas compartilham uma gestão jovem à frente da empresa cinquentenária: Franciele e Michele têm 33 anos, enquanto Adriele, apenas 21.
O organograma da malharia prevê que as três irmãs ocupem cargos de direção, administrando as áreas financeira, comercial e também o marketing da empresa. Segundo Adriele, a avó e a mãe ainda estão ativas, acompanhando o dia a dia da malharia, mas aos poucos começam a deixar espaço para que as netas e filhas comandem o negócio da família e comecem a imprimir o espírito jovem na marca.
— Estão largando o doce aos poucos — se diverte.
Depois de passar a infância e a adolescência acompanhando a família junto às máquinas e fios de lã, Adriele assumiu a função de diretora aos 19 anos. Conciliou o trabalho com o curso de Psicologia, que ela iniciou para ter uma segunda opção de área de atuação, mas hoje afirma que não se vê fora da empresa da família.
A jovem conta também que foi incentivada pela avó a aprender a costurar, a saber consertar um pequeno fio que puxa de alguma peça e também a conhecer todos os passos da produção, que começam com a compra dos insumos até o momento em que as blusas e palas em tricot são entregues para as vendedoras que levam o produto caxiense para todo o país.
A Ballardim Malhas contabiliza cerca de 12 mil revendedoras, entre lojas e microempreendedoras em 600 cidades brasileiras. A atuação é focada nos meses de março e agosto, período de outono e inverno, enquanto no verão é feita a definição da nova coleção, compra de fio e outras demandas. Na equipe, em Caxias, concentra 35 funcionárias, mais 15 vagas que são abertas de forma temporária na temporada de inverno.
Com a juventude à frente do negócio, a Ballardim Malhas se prepara para um momento inédito na sua trajetória: ainda neste semestre, as irmãs planejam o lançamento de um modelo de franquias da marca para revendedoras interessadas em montar uma loja autorizada com produtos da malharia em diferentes cidades do país em shoppings ou também para montar um centro de distribuição para que elas mesmas monte a sua equipe de revendedores.
Como muitas dessas vendedoras já são empreendedoras e estão acostumadas a trabalhar com o produto feito pela Ballardim Malhas, Adriele acredita que o modelo de franquias poderá representar novas oportunidades de negócio para a empresa.
— Não encontramos nenhuma malharia no país que ofereça a possibilidade de franquia e vamos acabar vendendo o nosso segredo. É um sonho nosso (das irmãs), planejado durante a pandemia quando tivemos um tempo a mais para pensar. É algo extremamente trabalhoso, são muitos detalhes, precisa de um formato muito bem amarrado para dar certo. Mas é a nossa contribuição para a empresa — define Adriele.
Para ela, ser jovem é um ativo poderoso, porque encoraja na hora de tomar decisões.
— Sempre que posso, digo que é importante arriscar, seja em qual área que for. É preciso acreditar que vai dar certo, ser confiante e usar muito a criatividade. Não dá pra ter medo do novo. Os mais velhos têm experiência, mas nós jovens temos a tecnologia a nosso favor.
"Tem que ter sede de inovação, estar disposto a correr risco e não querer se acomodar", ensina empreendedor que criou site de compras virtual
Em 2006, quando tinha 16 anos, Felipe Kayser Guelfi queria descobrir como era a experiência de fazer uma compra pela internet. Uma prática comum atualmente, que ganhou força durante a pandemia, mas ainda vista com desconfiança em uma época onde a internet ainda engatinhava na casa das pessoas. Na ansiedade de efetuar a primeira compra virtual, ele não conferiu de onde era o fornecedor das peças de roupa que escolheu.
— Quando recebi, vi que as roupas tinham vindo direto da China para o meu endereço. Gostei muito do produto e, naquele momento, quis saber mais para entrar nesse negócio e também vender o catálogo desse fornecedor — conta ele, que foi um dos vencedores do Prêmio Jovem Talento Empreendedor em 2018, um reconhecimento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego (Sdete) de Caxias.
Foi desse ímpeto curioso e corajoso que iniciou a trajetória empreendedora do caxiense que hoje administra o site Traz Pra Cá, criado em 2009 e que é reconhecido como um dos primeiros endereços de compra pela internet. Antes de ter a própria loja virtual, Guelfi abriu uma conta no Mercado Livre e passou a revender os produtos importados e despachá-los para a casa dos clientes - um conceito chamado dropshipping, que dispensa a necessidade de ter um estoque. Tudo era feito na garagem de casa, segundo ele.
Naquela época, com o dólar custando menos de R$ 2, esse tipo de operação era mais vantajosa, onde a ação era concentrada em Caxias, mas com entrega de itens importados para pedidos feitos para todo o país. Para se especializar no segmento, Guelfi morou por três anos na China, onde conheceu de perto esse mercado. Também cursou Comércio Exterior na UCS, sendo um dos formandos da primeira turma do curso.
Atualmente, com o dólar alto e também buscando novas formas de negócio, o site de Guelfi oferece produtos nacionais, que representam cerca de 50% dos mais de três mil itens disponíveis para compra na página. A tendência é que os itens locais ganhem mais espaço ao longo dos anos.
— A realidade mudou muito. O custo do frete internacional, por exemplo, dificulta trabalhar apenas com produtos importados. Estamos falando hoje de fretes com contêiner em torno de US$ 13 mil, enquanto no passado cheguei a pagar US$ 200. Comecei a importar 100%, fui pra China, mas precisei me reinventar e procurar oportunidades no mercado brasileiro. O espírito empreendedor é isso: tem que ter sede de inovação e estar disposto a correr risco e não querer se acomodar.
Além de incorporar itens nacionais, o site também passou a ter produtos próprios e desenvolvidos em Caxias, criados sob a marca Desembrulha Presentes, criada também por ele. Segundo Guelfi, o Traz Pra Cá recebe cerca de cinco mil pedidos mensais com um tíquete médio de R$ 140.
Todos os produtos são a pronta-entrega. Para isso, a empresa conta com centros de distribuição em Palhoça (SC) e no Rio de Janeiro (RJ) que garantem mais agilidade entre a confirmação do pedido e a entrega ao cliente. O terceiro ponto será aberto neste ano em São Paulo (SP). Ao todo, emprega 20 pessoas.
Com a pandemia, Guelfi conta que, apesar de tornar o e-commerce mais conhecido e confiável, a concorrência aumentou. Ele lembra que até mesmo indústrias estão aderindo a essa modalidade de venda.
— Apenas 10% das vendas do varejo são online. Tem muito mercado para crescer. Antes da pandemia, eram 3,5%. O digital está cada vez mais forte e o consumidor mais confiante. Muitas pessoas compraram pela internet pela primeira vez nesse período de distanciamento.
Segundo ele, os jovens que possuem boas ideias não devem desperdiçar esse potencial e devem arriscar.
— Quando a gente é jovem, mora com os pais, as obrigações são menores. Não tem uma família para sustentar, por exemplo. Por isso que digo que esse tempo mais ocioso, aliado à energia de querer fazer a diferença, deveria ser usado para tirar essas ideias do papel e começar nessa jornada de empreender — ensina.