Para identificar o quanto a população foi e está sendo afetada por causa da crise da pandemia, a Assembleia Legislativa (AL), em parceria com o Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), realizou uma pesquisa cujo resultado foi apresentado na última quarta-feira, em Porto Alegre.
Os números mostraram que 76,8% dos gaúchos reconheceram ter sido impactos financeiramente pela pandemia. Desses, 45% das famílias recebem até dois salários mínimos, as quais tiveram que conviver com um menor poder aquisitivo, fruto de demissões ou restrições de atuação profissional.
Para obter esses resultados, o IPO ouviu 1,5 mil pessoas, em 40 municípios e em oito regiões, além de Porto Alegre. A Serra Gaúcha recebeu respostas de moradores de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Vacaria, representando assim, 10,3% dos entrevistados no geral. Em relação a diminuição de renda, na região de Caxias, 68,1% dos entrevistados revelaram que ainda sentem no bolso o peso da crise econômica.
Essa dura realidade tem feito parte da família Castilhos, que mora em Caxias. Em casa, moram quatro pessoas, sendo três adultas e uma criança de 5 anos. O casal é autônomo e tem visto suas rendas caírem para menos da metade. Segundo Volnei Rodrigues de Castilhos, 49 anos, a situação piorou ainda mais quando ele e a esposa, Marta Rodrigues de Castilhos, 46, acabaram infectados pela covid-19.
— A pandemia acabou com a gente. Estamos sobrevivendo, empurrando como podemos. Estamos devendo bastante. Nós dois tivemos covid-19 faz uns 8 meses – revela Volnei, ao explicar que a esposa acabou sendo dispensada pela pessoa para quem ela prestava serviço, em virtude das sequelas da doença.
Para enfrentar a situação, a família está recebendo acompanhamento da Fundação de Assistência Social (FAS), com a entrega de benefício eventual de cesta básica. O que ajuda a amenizar de alguma forma enquanto Volnei se dedica na venda de botijões de gás, para ganhar sua comissão e pagar as contas atrasadas.
— Eles ajudam com a entrega de uma cesta básica, que é excelente, não temos no que reclamar. Conforme vou ganhando algo durante o dia, recebo R$ 5 de cada botijão vendido. Quando sai legal a gente compra algo ou paga uma conta de água, luz, vamos levando desta forma — ressalta.
Ainda segundo Volnei, eles receberam o auxílio emergencial do governo de R$ 150, o que para ele não amenizou muito a situação da família.
— Sou sincero, a esperança é Deus nos ajudar ou vir algo do governo. A situação é bem ruim, não está fácil — desabafa, ao revelar a realidades por trás das estatísticas.
Confira a seguir, os principais pontos da pesquisa
“Todos nós nos percebemos mais pobres”
Para a economista e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, o resultado da pesquisa está de acordo com o cenário vivenciado por ela por meio do Observatório do Trabalho.
— A gente sabe que essa crise da saúde impactou muito na economia e isso já vinha sendo notado. Quando se relaciona com o mercado de trabalho, mesmo com retomada dos empregos formais, a renda dos trabalhadores está mais baixa. Além disso, tem o aspecto educacional, pois quanto menor a escolaridade, maior é o impacto, pois se tem dificuldade para se recolocar no mercado — explica.
Outro apontamento da pesquisa é que muitos gaúchos estão se reconhecendo mais pobres. Em números gerais essa percepção aumentou em 32%, na comparação de como as pessoas se sentiam antes da pandemia e agora. O fenômeno também é observado na região de Caxias, em que 18% dos entrevistados se dizem mais pobres atualmente.
— Todos nós nos percebemos mais pobres, não só pela pandemia, mas por conta do aumento dos preços, da inflação, taxas de juros. O salário não aumentou na mesmo proporção, então, isso aumenta o sentimento de perda do poder aquisitivo — sintetiza a economista.