A falta de matéria-prima segue desafiando as empresas de Caxias do Sul. A indústria metalmecânica tem sido afetada há meses pela baixa disponibilidade e aumento no preço do aço. Agora, falta de outro insumo, os semicondutores, prejudica a indústria local. A Marcopolo, líder no mercado de ônibus no Brasil, decidiu conceder cerca de um mês de férias coletivas para os funcionários da produção. A época incomum para este tipo de medida chamou a atenção, mas a decisão empresarial foi embasada em dois motivos: a escassez de semicondutores, um dos principais insumos, e um menor número de pedidos na carteira.
— Nossos clientes de ônibus estão sem receita no setor de turismo, no setor de transporte escolar, que voltou as aulas recentemente. Estão ainda pagando contas e em dívidas, e não voltaram os clientes 100%. Então, por não voltarem os clientes 100% e não ter uma receita assegurada, eles estão retardando a compra. Ao retardar a compra, a demanda caiu praticamente 45% em relação ao ano passado, que já foi ruim. A Marcopolo está com poucos pedidos e, os pedidos que temos não conseguir fazer porque está faltando componentes —detalha Ruben Bisi, diretor de relações institucionais da Marcopolo e também diretor institucional da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-Caxias).
A decisão também levou em consideração outro aspecto. A Marcopolo venceu a licitação para fornecer uma parte dos veículos do programa Caminhos da Escola, que tem o objetivo de renovar, padronizar e ampliar a frota de veículos escolares da rede pública de educação. De acordo com o diretor de relações institucionais da Marcopolo, a empresa irá fazer 3,9 mil unidades para o governo federal. As entregas, conforme Bisi, estão previstas para começar em outubro e novembro, mas devem avançar 2022 adentro.
As férias coletivas na Marcopolo estão previstas para começar a partir de 23 de agosto. As unidades de Ana Rech, em Caxias do Sul, e de São Mateus, no Espírito Santo, terão 30 dias de interrupção. Já a San Marino, também em Ana Rech, terá 20 dias de férias.
"Pagando preços abusivos para não parar as empresas"
O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), Paulo Spanholi, conta que a entidade tem participado de reuniões com as siderúrgicas e com o Ministério da Economia em busca de uma solução para a falta de aço e também para a redução de preços, que ele classifica como abusivos nos patamares atuais. A projeção, segundo ele, é de que o fornecimento dos insumos em geral fique próximo a 90% do normal até o final do ano.
De acordo com Spanholi, as férias antecipadas da Marcopolo poderão, sim, ter impacto sobre as empresas com negócios diretamente relacionados ao grupo, mas ele pontua que não existe uma previsão de férias coletivas generalizadas nas plantas produtivas das indústrias caxienses.
— É muito pontual essa questão das paradas, porque as empresas, mesmo tendo de pagar mais caro e comprando da distribuição, principalmente os aços que são as nossas matérias-primas principais, tanto aços planos quanto longos, a gente está ainda pagando preços abusivos, mas tendo que pagar para não parar as empresas.
Setor automotivo é maior impactado
Segundo Ruben Bisi, a maior dificuldade está hoje nas empresas de Caxias que fornecem para o setor automotivo, porque a falta de semicondutores fez as montadoras pararem a produção. No entanto, ele ressalta que outros mercados, principalmente ligados ao agronegócio, estão aquecidos.
— As empresas que dependem de semicondutores, a indústria automotiva em geral, está sofrendo muito, porque esses semicondutores foram direcionados, em função da pandemia, para a fabricação de televisores, celulares, computadores, games, e faltou semicondutores no mundo. Além disso, queimou uma fábrica (Renesas Eletronics, no Japão), muito grande, de semicondutores no mundo. Então, a indústria automotiva como um todo está se ressentindo com a falta desse insumo.
A expectativa, diz Bisi, é que, se a pandemia continuar a reduzir o impacto sobre a vida das pessoas, principalmente após a chegada da vacina, ocorra a redução do tempo em casa e, com isso, um interesse menor pelos eletroeletrônicos. Então, será possível uma readequação no fornecimento para o setor automotivo, mas isso não deve ocorrer antes do final deste ano.