A preocupação e os cuidados com os animais crescem no país, e não é só percepção. Conforme levantamento da Euromonitor International, o Brasil se tornou no ano passado, em plena pandemia, a segunda maior indústria pet do mundo, com 6,4% de participação global. Está à frente dos Reino Unido (6,1%) e fica atrás somente dos Estados Unidos (50%).
O mercado, que engloba indústrias e integrantes da cadeia de distribuição dos segmentos de alimentos (pet food), medicamentos veterinários (pet vet) e cuidados com saúde e higiene (pet care), já representa 0,36% do Produto Interno Bruto brasileiro, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
Há 29 anos no mercado de Caxias do Sul, celebrados no dia 12 deste mês, a Clínica Estimação confirma o crescimento. Médica veterinária e proprietária do estabelecimento, Caren Zatti Corá conta, por exemplo, que uma vez era mais comum a cirurgia de retirada de tumor de cães e gatos. Atualmente, é raro, pois se faz muito mais castração.
— Hoje a gente faz muita consulta de orientação. O animal não está doente, mas a pessoa quer uma orientação. Tem os cuidados dentários também. Não se falava em escovar dentes do pet há 10 anos — diz, acrescentando que a média de atendimentos é de 20 por dia e a maior procura é por vacinação.
Maior atenção com a saúde dos bichinhos está relacionada, segundo Caren, ao reposicionamento do pet no ambiente familiar. O animal ganhou um novo espaço dentro dos lares:
— As famílias agora são multiespécie e o pet é como um membro da família.
Na casa da pedagoga Viviane Pinto Bado, 48 anos, os míni Bull Terrier Dara e Thor são como filhos e recebem todos os cuidados para terem qualidade de vida: higiene adequada na pet shop, recreação na "escolinha" e, claro, prevenção a doenças e tratamento veterinário.
— Eu brinco que eles dão mais gasto que os meus filhos. Mas como a gente vai deixar eles sofrendo? A Dara tem problema de pele e eu noto que ela sofre, porque se coça muito — conta.
Viviane, que narra a rotina da dupla no perfil @mini_bull_dara_e_thor no Instagram, garante que o investimento vale a pena.
— As pessoas que têm bichos são mais felizes — resume.
"Tive muitos clientes novos"
Caxias do Sul tem, conforme dados mais recentes da Receita Federal, 91 estabelecimentos do setor pet em operação: 68 deles são de atividades veterinárias, que incluem as clínicas.
Há também os consultórios, com oferta de serviços mais restrita, caso da Chiquita Bacana. Sob comando das irmãs Andréia e Cátia Avrela, a empresa realiza pequenos procedimentos, como a retirada de uma unha inflamada, e aplicação de vacinas.
— A maior procura é por vacinação, são cerca de 100 vacinas por mês. As pessoas se preocupam muito, até porque as doenças geram muito mais custo que a prevenção — explica Andréia.
Além do serviço de consultório, a Chiquita Bacana é pet shop e oferece hotel e recreação para os animais. Durante os primeiros meses de pandemia, foi o consultório que garantiu o maior faturamento do empreendimento.
— As pessoas deixaram de vir, e a compra por impulso reduziu. O serviço de hotel baixou 50%. Mas tive muitos clientes novos (que passaram a ter animal de estimação na pandemia). Se tivesse só o hotel e a loja, seria complicado — conta Andréia.
Apesar da baixa no movimento no ano passado, o negócio vai bem. Há 12 anos no mercado pet, Andréia se diz satisfeita.
— Nós duas trabalhávamos na indústria metalúrgica. Amamos cachorro e resolvemos abrir uma pet. Sem pensar, sem estudo de mercado, mas deu certo. O mercado estava muito propício, estava em ascensão. Além da dedicação, tivemos um pouco de sorte — acredita.
Educação veterinária a serviço da comunidade
Espaços para a prática de estudantes dos cursos de Medicina Veterinária em Caxias do Sul, os centros clínicos de universidades também prestam um importante serviço à comunidade. Inaugurado em 8 de junho, mas em operação desde abril, o centro da FSG (Centro Universitário da Serra Gaúcha) já prestou 80 atendimentos. Consultas e procedimentos são feitos pelos veterinários e alunos da instituição por valores mais em conta.
— Nosso custo está abaixo, mas dentro da média do mercado. Os médicos veterinários são professores e todos têm mestrado ou doutorado — destaca Vinicius Tabeleão, coordenador do curso de Medicina Veterinária e do Centro Clínico Veterinário da FSG.
Por enquanto, a unidade atende apenas a animais de pequeno porte, mas está prevista para o segundo semestre a abertura da unidade de atendimento a animais de grande porte.
— É um centro extremamente importante e vai valer para toda a Serra. Queremos ser um diferencial na resolução de problemas, interagir com os médicos veterinários, sentar e discutir — acrescenta Tabeleão.
Na Clínica Veterinária Escola da Universidade de Caxias do Sul (CVET), também há atendimento para a comunidade. São duas modalidades: particular e acadêmica. A diferença é que a particular é realizada por um médico veterinário como em uma clínica privada e na acadêmica, o animal é atendido durante as aulas do curso de Veterinária por professores e alunos. O atendimento acadêmico custa metade do particular.
A clinica da UCS presta atendimento de 2016. Agendamentos devem ser feitos pelo telefone 3218-2081.
Investimento: A construção da clínica veterinária da FSG teve um investimento de quase R$ 3 milhões, sendo que R$ 974 mil foram focados na obra e mobiliário e R$ 2 milhões com a implementação de equipamentos.
Atendimento mais em conta
Quando Pandora, dois anos, começou a ter convulsões seguidas no final de maio deste ano, a assistente fiscal Tamires Martini, 23, ficou preocupada e procurou ajuda. Já tinha ouvido falar bem da clínica veterinária da Faculdade Murialdo e resolveu marcar uma consulta.
A cadela de pastor alemão precisou ficar internada e sedada por três dias. Como o centro do Murialdo não tem internação 24 horas, à noite Tamires precisou levar Pandora para uma clínica particular. Mesmo assim, ela diz que compensou.
— Na clínica do Murialdo, gastei aproximadamente R$ 500 entre medicamentos, que foram muitos, exames de sangue e internação por três dias. Na gravidade que estava a Pandora, achei que sairia muito mais caro. Valeu muito a pena financeiramente, mas o que mais se destacou foi a excelência no atendimento. Por mais que seja uma clínica com fins didáticos de ensinar os alunos da faculdade a atender, os professores sempre acompanham os atendimentos —frisa Tamires, acrescentando que na clínica particular, em uma única noite, gastou R$ 320 com apenas um medicamento.
É um serviço essencial, faz parte da saúde única. É também um atendimento ao tutor e à comunidade.
RICARDO STEIN
Diretor do centro veterinário da Faculdade Murialdo
Em funcionamento desde outubro de 2019, o Centro Veterinário da Faculdade Murialdo tem duas unidades: uma atende a animais de pequeno porte e outra de grande porte. Desde a inauguração, 1,5 mil animais já passaram pela clínica. A maior demanda, conforme o diretor do Centro, Ricardo Stein, é por castrações. A maioria das consultas é de cães e gatos, mas também há procura para animais silvestres.
— Esse é um serviço essencial. O cuidado e o bem-estar animal fazem parte da saúde única. É também um atendimento ao tutor e à comunidade — destaca Stein.
Plano de saúde também para pets
Se tem consultório e clínica para eles, por que não um plano de saúde também?
O serviço é a novidade que funciona de forma muito similar aos planos de saúde dos humanos. Há diferentes tipos de cobertura e coparticipação de acordo com o procedimento que será utilizado.
A NoFaro é uma das empresas que oferece planos para cães e gatos em Caxias do Sul. É possível contratar o serviço diretamente no site. Conforme a página na internet, depois da compra do plano, é preciso fazer a microchipagem do animal. A partir daí começa a contar a carência.
São dois tipos de planos: o mais barato custa R$ 49,90 por mês e o mais caro, R$ 74,90.
Quem também atende Caxias é o plano Nestor Saúde Animal. Conforme o site da empresa, os valores por mês partem de R$ 84 e chegam a R$ 145. Consta na página a indicação de 67 parceiros do plano de saúde.
Em Caxias
- Atividades veterinárias*: 68
- Comércio atacadista de medicamentos e drogas de uso veterinário: 4
- Comércio varejista de medicamentos veterinários: 19
- Total: 91 estabelecimentos
*As clínicas veterinárias estão abrangidas nas atividades veterinárias.
Fonte: Receita Federal
O setor
- O Brasil tem a segunda maior população de cães, gatos e aves canoras e ornamentais em todo o mundo.
- É o terceiro maior país em população total de animais de estimação:
54,2 milhões de cães.
23,9 milhões de gatos.
19,1 milhões de peixes.
39,8 milhões de aves.
2,3 milhões de outros animais. - O mercado pet representa 0,36% do PIB brasileiro. Está à frente dos setores de utilidades domésticas e automação industrial.
- Em 2018, a indústria de produtos para animais de estimação faturou R$ 20,3 bilhões.
- Em 2006, esse número era de R$ 3,3 bi.
Fonte: Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).