Aliar crescimento econômico com redução de impacto ambiental, preservação de recursos naturais e ainda ajudar a melhorar a qualidade de vida da comunidade. Esses são os pilares do desenvolvimento sustentável, tema de discussão mundial e meta de muitas cidades brasileiras. Caxias do Sul é uma delas. Está nos objetivos descritos pela administração no plano de governo municipal. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Por aqui e em outras cidades da Serra existem bons exemplos, contudo, as iniciativas ainda são pontuais partindo das empresas. Além disso, o setor considera que falta incentivo por parte do poder público. Existem as ações municipais, mas elas estão mais voltadas a recuperar projetos para a cidade.
O professor Rafael de Lucena Perini do Centro Universitário FSG, é administrador de empresas, especialista na área, com atuação e pesquisa em sustentabilidade, gestão ambiental e desenvolvimento de cidades. Ele tem acompanhado de forma mais aprofundada esse tema desde 2009 e pondera que o movimento em direção à sustentabilidade tem se tornado mais frequente nos últimos anos. Basicamente, depois da consolidação dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) na Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2015, a chamada Agenda 2030.
— O que vemos em Caxias é que existe sim esse movimento. Ele é bastante pontual em algumas áreas específicas. Não é homogêneo e generalizado porque a consciência ambiental, apesar de ser trabalhada há muito tempo, agora, que está mais em evidência. Mas vemos mais pessoas prestando atenção nisso, mais empresas se organizando. Mas o desenvolvimento sustentável, a gestão ambiental, ainda não chegou em um patamar de fazer parte da estratégia da maioria das empresas — considera.
O professor explica que esse é um tema que vem amadurecendo de muito mais tempo. Desde 1972 se discute o papel das indústrias na relação com meio ambiente. A diferença é que atualmente existem dados, informações e evidências de que o comportamento humano e o desenvolvimento a qualquer custo têm impacto direto no ambiente.
— No mundo globalizado, as empresas dependem negociações multilaterais e acabam surgindo algumas exigências para exportações, por exemplo. Existe uma pressão internacional e as empresas que estão se dando conta disso, acabam se engajando nesse movimento — observa o pesquisador.
Os empresários que já aderiram aos conceitos de ESG concordam que a discussão está mais avançada no âmbito mundial do que no Brasil. Na região central do país, mais do que na Sul e no Rio Grande do Sul mais do que na Serra. Mas dizem que é um movimento crescente, que depende de uma mudança de cultura. Parte dela, vem da mudança na percepção que se tinha até há alguns anos de que investir em sustentabilidade representava um alto custo que não tinha retorno. Os empreendedores passaram a enxergar que o "verde" pode ser lucrativo. Exemplos disso são o uso de energia fotovoltaica, reaproveitamento de água e reutilização de resíduos. Medidas estas que já foram adotadas por algumas empresas em Caxias do Sul.
— Existe este espaço em que o desenvolvimento sustentável também é utilizado como uma forma de redução de custo, de otimização de processos. Esse é um caminho que se vê para empresas que têm foco no lucro, que é o óbvio do setor. Elas veem uma oportunidade de contribuir com a sociedade a partir de uma redução de consumo. É o tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental — constata o professor Perini.
A professora Renata Cornelli, coordenadora do curso de Engenharia Ambiental na Universidade de Caxias do Sul (UCS) diz que temos bons exemplos na Serra, de grandes empresas que se de um lado geram impacto na área ambiental, por outro lado, se preocupam em ter ações voltadas à minimizar esses impactos.
— Algumas organizações aqui estão mais avançadas nessa cultura de sustentabilidade, que visam o pilar o econômico, mas não só isso, também têm a preocupação ambiental e social, de estar poluindo menos, degradando menos o ambiente e também preocupada com a sociedade na qual ela está inserida — aponta.
Contudo, segundo a especialista, grande parte das empresas menores ainda não desenvolveram essa cultura e não enxergaram a possibilidade de aproveitar esse nicho que está crescendo bastante, porque ainda enxergam a área ambiental como um custo.
Impacto social
Outro movimento que tem ganhado força é o do valor compartilhado. A base está em operar negócios lucrativos e, ao mesmo tempo, ter impacto social positivo na comunidade em que estão inseridas. Ainda, é crescente a discussão sobre o capitalismo consciente que deve evoluir nos próximos anos.
— O que eu vejo, mais como uma esperança do que como uma constatação, é que, talvez, em um futuro não muito longínquo, tenhamos a questão da sustentabilidade incorporada aos negócios como a qualidade foi nesse processo. Como uma parte fundamental, estratégica e natural. Que nenhum negócio seja autorizado, aceito pela comunidade, se não tiver essa questão ambiental bem resolvida — projeta o pesquisador.
Tanto especialistas quanto empresários consideram que o consumidor é parte fundamental nesse processo. Quando as pessoas, de fato, passarem a optar por produtos vindos de empresas comprometidas com o ambiente, as indústrias entenderão que se não se adaptarem perderão mercado.
— Está começando aqui na Serra agora a se falar mais em ESG, mas quando chegar no consumidor, a velocidade será muito maior — pondera o diretor de Operações da Soprano, Valter Sonda.