As mudanças de comportamento provocadas pela pandemia fizeram o setor de self storage — serviço de armazenamento de bens — ganhar espaço no último ano. Empresas de e-commerce sem espaço para armazenar produtos, estabelecimentos que fecharam as portas e não tinham onde deixar seus materiais e até mesmo famílias que adotaram trabalho e escola remotos – o que forçou uma reorganização da casa — precisaram recorrer ao serviço.
— Tem também muita gente se mudando, estudantes voltando a morar com os pais, e aí não têm onde deixar os móveis. Tem lojas de locação de roupas para festa deixando as peças aqui. Empresas que fecharam. Tenho restaurantes que fecharam e deixaram as coisas aqui — conta Adão dos Santos, gerente comercial da unidade da Guarde Mais em Caxias do Sul.
Santos está na empresa, com matriz em Curitiba, há oito meses e estima que a procura pelo serviço da filial aumentou cerca de 50% neste período. A unidade, com seis anos em solo caxiense, tem 160 boxes que podem ser alugados por valores que variam de R$ 99 a R$ 550 por mês. Segundo o gerente, a maior busca é por boxes de nove metros quadrados. Também há interesse por espaços menores, como os boxes de 1,5 metro quadrado. Dos 160 boxes, pelo menos metade estava ocupada até quinta-feira (15/4).
Na unidade da Guarda Brasil em Caxias, o cenário é similar. Muitas empresas de e-commerce e estabelecimentos que encerraram as atividades no último ano procuraram a empresa para deixar seus móveis e mercadorias. A busca, conforme Anderson Cardoso Possamai, supervisor da filial, se intensificou no final de 2020. A empresa não divulga números, mas confirma crescimento.
— Foi até uma surpresa, porque no início a gente achou que o faturamento ia cair, mas não — diz Possamai.
São quatro andares com 200 boxes que têm de 1,5 metro quadrado a 100 metros quadrados. Os valores variam de R$ 165 a R$ 1,8 mil mensais. Além de boxes para armazenamento, a unidade oferece aluguel de salas que podem servir como escritório. A Guarda Brasil tem também espaço de coworking, fechado no momento. A empresa é de um grupo de investidores americanos e está em Caxias desde 2018.
No Rio Grande do Sul, há 10 empresas de self storage em atuação e 16 unidades, conforme a Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass). Em Caxias, são pelo menos duas operações em funcionamento.
"Bombril do mercado imobiliário"
Popular nos Estados Unidos, onde cresce desde 1960 de 6% a 7% ao ano, o self storage chegou ao Brasil na década de 1990. O serviço vinha em crescimento e registrou um aumento expressivo desde o início da pandemia. Pesquisa da Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass), realizada em 80 cidades brasileiras, identificou 169 empresas no país em 2020, totalizando 325 operações (unidades).
O total de boxes foi de 81.575, em uma área bruta locável, ou seja, a metragem em oferta disponível para aluguel, estimada em 561.925 metros quadrados. Em 2019, eram 160 empresas em 74 cidades pesquisadas e um total de 60.536 boxes.
Para o presidente da Asbrass, Rafael Felix Cohen, a tendência é de crescimento mesmo após a retomada das atividades econômicas. As vantagens oferecidas pelo serviço, como não ter gastos como energia e água, são motivos para acreditar na continuidade dos bons resultados.
— Você só paga o que usa. Você recebeu de herança, por exemplo, um piano e não sabe o que fazer com ele. Pode deixar no box até pensar melhor. Vai fazer uma reforma em casa? Guarda seus móveis ali. Para as empresas, a vantagem é a troca do custo fixo por um custo variável. O self storage é uma espécie de bombril do mercado imobiliário — diz Cohen.
A PESQUISA
2019
160 empresas em 74 cidades pesquisadas.
60.536 boxes.
2020
169 empresas em 80 cidades pesquisadas.
81.575 boxes.
2020
Vacância de área bruta locável: 23,9%.
Concentração em box: 36,2% até 3 metros quadrados.
Preço médio do metro quadrado: R$ 103.
Rio Grande do Sul
Empresas: 10 (4,8% do país).
Operações: 16 (4,9% do país).
Operações por região no Brasil
Norte: 1,5% (5 operações).
Nordeste: 10,8% (35 operações).
Centro-Oeste: 10,5% (34 operações).
Sudeste: 60,6% (197 operações).
São Paulo: 43% (139 operações).
Sul: 16,6% (54 operações)
Saiba mais
:: A vacância média no Brasil foi estimada em 23,9%.
:: 83,2% das operações de self storage iniciaram as atividades há mais de 37 meses; 8,4%, de 25 a 36 meses; 6,3%, de 13 a 24 meses; e 2,1% em até 12 meses.
:: Nota-se que as operações iniciadas há mais de 37 meses possuem menor vacância (21,7%), e ficam em primeiro lugar com o maior número de boxes (84,8%), enquanto as operações iniciadas em até 12 meses, que possuem apenas 2,1% das operações, apresentam o menor volume de boxes (0,7%) e vacância de 28,3%.
:: 36,2% dos boxes ofertados apresentam metragens de até 3 metros quadrados; essas metragens possuem 26,1% de vacância.
:: As metragens de 4 a 6 metros quadrados e de 7 a 15 metros quadrados compreendem 56,5% do total de boxes, e apresentam o menor percentual de vacância, 21,9% e 22,7% respectivamente.
:: Os boxes com metragens de até 3 metros quadrados apresentam o preço médio do metro quadrado de R$ 116, o que é 13% acima do preço médio dos boxes no Brasil, que é de R$ 103 o metro quadrado. Já os boxes com metragens de 4 a 6 metros quadrados apresentam preço médio do metro quadrado de R$ 102, ou 1% abaixo da média Brasil.
:: O preço médio do metro quadrado da metragem até 3 metros quadrados varia de R$ 30 a R$ 222. Quanto maior a metragem média, menor é o preço do metro quadrado, em geral.
:: Em relação aos atributos gerais das operações, nota-se que os três mais frequentes nas regiões do Brasil são: câmeras de vigilância, controle de pragas e alarmes.