O ano de 2020 pode ter sido de crise para inúmeros setores mas, ainda assim, em Caxias do Sul, motoristas parecem não ter deixado de trocar de carro. No final de 2019, os números indicavam um crescimento no comércio de automóveis, caminhões e motos em Caxias do Sul, algo que já era constante desde 2017. Ainda que os resultados não tenham sido como o esperado, gerentes de concessionárias da cidade afirmam que as vendas de 2020 foram praticamente equivalentes às de 2019, com uma única diferença: um alto índice de migração para o consumo de seminovos ocasionado, principalmente, pela dificuldade das montadoras nas entregas de veículos zero quilômetro.
— Sofremos um pouco de março a maio, com uma queda de 40%, mas de junho em diante voltamos à normalidade, retomamos os 40%, e dezembro foi praticamente igual ao de 2019. Hoje, se for comprar Fiat Zero, não tem pronta-entrega, é preciso aguardar cerca de três meses, enquanto antes demorava, no máximo, 40 dias. Demora um tempo, mas a falta de produto novo reflete na procura por seminovos — afirma Maicon Schmaedeke, gerente de vendas da Betiolo, concessionária de automóveis seminovos em Caxias, que também tem unidades com venda de carros novos, da Fiat e da Jipe, em municípios da região.
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) demonstram que 2020 começou com a produção de autoveículos montados um pouco abaixo do normal, com 191,7 mil unidades — em janeiro de 2019, por exemplo, foram 199,1 mil unidades — e teve uma queda brusca, logo em seguida, paralela às medidas de restrições adotadas como forma de minimizar os efeitos da pandemia no Brasil.
A queda de abril em relação a março foi de 99,05%, passando de 190 mil para 1,8 mil autoveículos montados em todo país. Uma tabela divulgada pela associação com dados até novembro de 2020 demonstra que, a partir de maio, houve retomada gradual, porém os números ainda mantiveram-se significativamente abaixo da produção de anos anteriores.
Na concessionária caxiense consultada pela reportagem, a média mensal de vendas tem se mantido em 110 veículos. O estoque de seminovos, que costumava girar em torno de 300 unidades, baixou para cerca de 160, em função do aumento da velocidade do giro, outro reflexo do aumento pela procura dos modelos "não tão novos".
O acumulado de veículos emplacados no RS em 2020 foi 23,92% menor em relação a 2019, diminuindo de 196.047 para 149.159 veículos. Em nível nacional, a redução de emplacamentos na comparação de 2020 com 2019 foi de 21,63%. Para seminovos e usados, no acumulado do ano, a queda foi de apenas 12,32%.
FONTE: FENABRAVE
— Vendemos carros nacionais, que variam de R$ 10 mil a R$ 200 mil, e houve um aumento nos importados, também, que ficam na faixa de R$ 300 mil. Neste caso, por conta do aumento do dólar, que elevou bastante o preço do carro importado novo — complementa o gerente, que também atribui a baixa do estoque à redução das negociações feitas a partir de troca.
Em estabelecimentos que comercializam novos e seminovos, o aumento da procura pela segunda alternativa ficou ainda mais evidente. Ainda assim, de acordo com Marco Antonio Hartmann, diretor executivo da DGSul — que vende novos da Chevrolet e seminovos multimarcas — os carros zero quilômetro não ficaram muito pra trás.
— Com a queda dos juros, as aplicações acabaram rendendo muito pouco, o que motivou as pessoas a adquirirem bens duráveis, entre eles os veículos novos. Também ficou mais evidente que os consumidores consideram o veículo particular mais seguro neste tempo de pandemia, acarretando maior procura — afirma o diretor.
Sem previsão para normalizar
A disponibilidade de veículos zero quilômetro nas concessionárias, hoje escassa, ainda não tem previsão para ser normalizada. A projeção é de Paulo Siqueira, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv) no Rio Grande do Sul.
— A falta de automóveis novos no mercado deve persistir por um bom tempo em 2021. Muitas fábricas fecharam ou estão lidando com o fechamento de seus fornecedores, com a falta de componentes importados... Isso vem causando um déficit de produção que ainda vai demorar para ser normalizado e que depende de uma regularização de todo o mercado — explica o representante da entidade.
6.491 veículos novos foram emplacados em Caxias do Sul ao longo de 2020.
FONTE: FENABRAVE
Analisando dados divulgados na terça-feira (5) pela Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), entidade à qual o Sncodiv é ligado, Siqueira afirma que, no cenário nacional, a queda de veículos novos emplacados em 2020 foi de 26,16% em relação a 2019, impactando profundamente o setor.
— O mercado automotivo conseguiu romper a barreira de 2 milhões, algo que era fundamental neste momento, e ficou acima da queda de 30% esperada. Ainda assim, os números refletem um desempenho semelhante ao de 2016, sendo assim a pandemia nos fez retroceder quatro anos — lamenta.
Retração de novos chegou a 44,43% em Caxias
De acordo com o Termômetro de Vendas, indicativo mensal da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) que demonstra a movimentação econômica em diferentes áreas do comércio de Caxias do Sul, o desempenho de vendas no nicho de automóveis, caminhões e autopeças novos teve importantes baixas ao longo de 2020, chegando a uma retração de 44,43% em abril, um dos meses mais críticos do ano. Em maio a recuperação foi significativa, mas os índices voltaram a cair, ficando novamente negativos em outubro, último mês divulgado até o momento (veja tabela 2020 abaixo).
Mesmo sem o fechamento completo, 2020 tende a ficar abaixo do ano anterior no desempenho em questão. 2019 teve um crescimento acumulado de 31,74%; somente em dezembro, o aumento foi de 13,62% em relação a novembro, e 22,37% em relação a dezembro de 2018.