Na mitologia romana, Vênus é a deusa do amor e da beleza. Vênus era tão adorada por seu encanto, que além do marido, Vulcano, ela teria fascinado Marte, o deus da guerra. A traição teria resultado na concepção de Cupido, o pequeno arqueiro que enfeitiçava apaixonados. No rol de amantes, Vênus teria atraído ainda a atenção de outros deuses, como Mercúrio, Adônis e Baco, este último, o deus do vinho. Se o nome da variedade de uva Vênus vem dessa analogia com a deusa mitológica, não se sabe. Curioso é perceber que os cachos dessa variedade são frondosos e, quando madura, a uva é bastante saborosa.
Afora toda essa viagem mitológica, a informação é a de que os vinhedos de Vênus são os primeiros a maturar, por isso são os primeiros a serem colhidos. A expectativa da Emater/RS-Ascar é a de uma safra de 975 toneladas, em 65 hectares plantados, apenas da variedade Vênus. Os cinco municípios que mais produzem são Farroupilha, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Cotiporã e Vale Real.
— A Vênus é uma uva americana muito precoce, por isso, é a primeira a ser colhida no estado. Aqui na região, é cultivada nos vales dos grandes rios, Taquari, Caí e Antas. Começamos a colher a Vênus, no estado, há uns 10 dias. Ela é uma uva de mesa, preta e porque não tem sem sementes exige mais cuidados — explica Enio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar.
Embora a primavera e outono tenham sido estações de clima seco, Todeschini diz que a chuva dos últimos dias têm favorecido os vinhedos. Para ele, a safra que começa a ser colhida agora com a Vênus, e segue até o início de 2021, com outras variedades pode ser ainda melhor do que a última.
— Com relação à safra deste ano, de outras variedades, temos percebido que, embora o número de cachos seja bom, eles acabaram perdendo bastante bagas. Mas este fator será compensado com outros dois. Estamos verificando um número alto de cachos nas plantas e, as bagas que permaneceram, ganharam em peso e tiveram um crescimento maior — pondera Todeschini.
Apesar de esperançoso, o engenheiro agrônomo diz que ainda é cedo para especular a respeito da quantidade da safra geral deste ano.
— Até aqui está excelente. Temos uma maior preocupação com o início da maturação de outras variedades. Ainda há muitas bagas sendo abortadas, em contrapartida, o retorno das chuvas fez com que elas voltassem a crescer. Temos muito fatores climáticos em aberto, mas estamos com boas expectativas.
Colheita em Farroupilha
Samuel Correa tem 37 anos, é proprietário rural, cultiva uvas e pêssegos em uma terra que fica no vale, na trilha dos Caminhos de Caravaggio, em Farroupilha. A família planta Vênus, Niágara Rosa e Branca, em dez hectares.
— Como moramos numa região mais baixa, nosso clima é propício para plantações que são colhidas mais cedo. Por isso buscamos plantar a Vênus, que é uma variedade bem precoce, há uns 18 anos. Aqui na minha região se adaptou muito bem, então conseguimos sair na frente do mercado e a venda é boa. Mas tem de colher bem madurinha — ensina Correa.
A família está colhendo os cachos de Vênus desde domingo (29).
— Estávamos com o coração apertado, porque não estavam amadurecendo por falta de água. Mas, felizmente, fomos abençoados com a chuva dos últimos dias. Então, a planta reviveu e amadureceu e se permanecer dessa forma, em 10 dias temos de colher, senão estraga — explica Correa.
Parte da sua produção de Vênus, colhida em um hectare, é vendida para a Ceasa e, o restante, ele vende diretamente no hipermercado Zaffari.
— Toda nossa mercadoria é embalada e etiquetada, porque implantamos um sistema que nos permite rastrear todo o nosso produto.
Colheita em Cotiporã
Outra propriedade que está colhendo essa variedade, desde a semana passada, é a da família de Andrei Lazzarini, na comunidade de Nossa Senhora dos Navegantes, em Cotiporã. Além da Vênus, ele também cultiva Niágara Branca e Rosa, Isabel, Rúbia, Violeta, Clone 30 e Carmen, em uma área de aproximadamente 5,5 hectares. A safra na propriedade se estenderá até o fim de fevereiro.
Além da sua produção, Andrei e a família também auxiliam na propriedade dos pais Jorge e Ivani e do irmão Leonardo. Todos trabalham juntos nas áreas que somam em torno de 13 hectares de vinhedos. A expectativa é de colher em torno de 300 toneladas de uva, sendo que aproximadamente metade será destinada para consumo in natura e a outra metade será para industrialização em cantinas da região. Da variedade Vênus, estimam colher aproximadamente 12 toneladas, em uma área de cerca de 0,6 hectares.
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