Se, em outros anos, a Black Friday era sinônimo de alavancar vendas e garantir boa margem de lucro, em 2020, ela chega com outra missão: recuperar, gradativamente, parte dos prejuízos no comércio, provocados pela pandemia desde o mês de março. O movimento em Caxias do Sul, até esta quinta-feira (26), se mostrava aquém do esperado, segundo a presidente do Sindilojas, Idalice Manchini. Mas a boa notícia é que as vendas da Black Friday devem seguir ao longo do final de semana, abrindo caminho para as compras de fim de ano, que começam com a chegada de dezembro, na próxima quinta-feira.
Leia mais
Black Friday: saiba o que fazer para não cair em golpes na internet nesta sexta-feira
Móveis e eletrodomésticos lideram intenção de consumo dos caxienses na Black Friday
– Os comerciantes estão buscando alternativas para fechar 2020 com um pouco menos de perda. Oferecem pagamento em 10 vezes sem entrada e sem juros, primeira parcela para fevereiro e descontos de até 70% – destaca Idalice.
Para o gerente administrativo financeiro da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias, Carlos Alberto Cervieri, a expectativa é de que a data vai ser expressiva, considerando o cenário de pandemia:
– Não é a Black Friday que vai tirar as empresas do vermelho. Mas em seguida vem o Natal, que é a data mais importante do comércio. O importante é que é uma retomada. Sendo gradual, pode até ser mais sedimentada. Vemos essa recuperação gradativa e uma sinalização positiva para 2021.
Embora o público interessado em aproveitar a Black Friday tenha diminuído em relação a 2019, o valor do ticket médio aumentou em 12%, subindo para R$ 749,38, segundo dados da pesquisa realizada pela CDL. De acordo com Cervieri, o otimismo gira, também, em torno do valor represado pelos consumidores, que vem se acumulando ao longo do ano. No entanto, as projeções variam de acordo com o segmento, como explica Idalice:
– Alguns lojistas acreditam que vão recuperar as vendas, outros falam em redução de 15 a 20% em relação ao ano passado. O setor infantil parece um pouco mais aquecido, moda feminina, por exemplo, nem tanto. Mas toda a cadeia envolvida precisa tomar esse fôlego. Esse é o momento de buscar recuperação, até o final do ano. Não é em janeiro ou fevereiro que vamos conseguir.
Conforme a presidente do Sindilojas, há expectativa de maior movimento no setor, especialmente para a sexta-feira (27) e o final de semana. Para aproveitar o momento, algumas lojas do comércio de rua estão atendendo até as 20h e devem abrir, inclusive, no domingo. Quanto às preocupações com os protocolos sanitários, Idalice reforça que, como constatado pela entidade, os comerciantes estão engajados em ofertar álcool gel, exigir o uso de máscaras dentro das lojas e controlar o número de clientes dentro do estabelecimento.
Além disso, para fazer frente às promoções na internet, as lojas físicas precisam praticar descontos justos, segundo observa o gerente administrativo financeiro da CDL:
– O consumidor não é mais bobo. Ele busca na internet e chega na loja sabendo se aquele produto está mesmo com desconto ou se é algo maquiado. Se o lojista quer aproveitar a Black Friday, ele vai ter que fazer de verdade.
Competir com a internet usando o calor humano
Gerente de uma loja de artigos para viagem no Centro de Caxias, Vanessa Smiderle acredita em renovação, em vez de reinvenção. Para a lojista, que atua na Esquina Boa Viagem desde sua fundação, em 1992, o ano vai deixar ensinamentos, como investir nas redes sociais e o planejamento de um e-commerce. Crescimento das vendas, segundo ela, só depois da vacina. Mas Vanessa não pensa em trocar de ramo; em vez disso, quer buscar novidades dentro do segmento:
– Não consigo usar o termo reinventar, porque não conseguiria fazer outra coisa, além de vender artigos de viagem – diz, entre risos.
Para a lojista, o 13º salário deve ajudar a movimentar os negócios, mais até do que a Black Friday. Nesta semana, ela oferece descontos para todos os itens da loja, que variam de 20 a 50% conforme o número de produtos adquiridos. O maior diferencial, segundo Vanessa, é levar os produtos para o cliente escolher em casa, sem custo e sem compromisso, mediante horário marcado. A venda a domicílio vale para toda a região da Serra. Apesar do reajuste dos preços do fornecedor, a gerente garante não repassar o aumento para o cliente e aposta na experiência diferente para potencializar as vendas:
– Em vez de ter a compra fria, através da tela de computador, a loja vai até tua casa. Tem sido uma maneira de deixar um pouco mais de calor no atendimento. Ainda sou da moda antiga – revela a comerciante.
Observar o mercado e apostar na estratégia certa
Depois do sucesso com a implantação de um catálogo virtual durante as promoções de inverno, o Grupo Brisa segue investindo nas negociações digitais para se manter em alta – e tem dado certo, conforme o diretor comercial do grupo, Thiago Dal Pizzol. Puxado por um crescimento de até 30% nas vendas de artigos esportivos, o mês de novembro deve fechar, em todo o grupo, com resultados 10% acima do registrado no mesmo período no ano passado. Para o diretor, a explicação está na forte procura por itens esportivos, mais confortáveis e versáteis, especialmente em um ano em que as pessoas ficam boa parte do tempo em casa.
– A Black Friday é uma data muito forte no online. Agora, a gente adotou novamente o catálogo virtual, primeiro para evitar que as pessoas venham até a loja só para procurar as promoções, circulando desnecessariamente. E, segundo, como forma de também nos consolidarmos no online.
O material reúne as principais promoções de todos os setores, nas diferentes filiais, possibilitando que o consumidor conheça os produtos, faça reservas e até mesmo, se assim decidir, efetue a compra, via link de pagamento. O consumidor pode retirar o produto na loja ou recebê-lo em casa. Além da facilidade da compra digital, as lojas do Grupo Brisa estão dando descontos de 20 a 50%, em todos os setores.
– Acredito que, comparada aos últimos anos, essa Black Friday esteja menor. Pelo que observo, pela falta de produto em todos os segmentos – relata Dal Pizzol.
Em antecipação à falta mencionada pelo comerciante, o grupo decidiu aproveitar o período de estagnação, meses atrás, para investir nos estoques, o que garante mais opções do que as oferecidas no ano passado, fortalecendo as previsões para as vendas natalinas.
– A gente investiu no momento em que o mercado estava parado. E, com isso, tivemos nossos maiores crescimentos em meio às crises, mas é um resultado que vamos colher mais adiante – resume o diretor comercial.
Como economizar na data?
As incertezas econômicas afetam não só os lojistas, mas também muitos consumidores, que se perguntam como economizar durante a data. Por isso, o economista e professor da FSG Eduardo Santarossa reúne cinco dicas para fazer compras melhores nesta Black Friday:
:: Se você ainda não dispõe de um orçamento, invista em um, sempre levando em conta a regra de ouro das finanças pessoais: gastar menos do que você recebe.
:: Evite impulsividade, tomando cuidado com o assédio das campanhas e se perguntando "essa compra é mesmo uma vantagem ou é um gasto desnecessário?"
:: Estabeleça prioridades e preveja eventuais imprevistos. A crise ainda está por aí.
:: Compare os preços de hoje com os de semanas atrás, para evitar cair em "falsas promoções".
:: Cuidado com o excesso de compras parceladas. Observe os juros e fique atento à formação de dívidas.