Durante a série de entrevistas realizadas para esta reportagem, todos os consultados, sem exceção, citaram o nome do gramadense Natanael Moschen Lahnel como a referência para a compra de mudas de lúpulo. Ou seja, quem desejar começar sua jornada como produtor de lúpulo vai precisar conhecer o Natanael. Assim como a maioria das pessoas envolvidas nessa cadeia, ele é jovem, tem apenas 29 anos, mas carrega na bagagem muita experiência, a ponto de alguns produtores reconhecerem que aprenderam muito mais conversando com o Natanael do que em workshops na Patagônia (Argentina).
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Natanael era um desses tantos caras, apreciadores de cerveja que resolveram se arriscar na alquimia de fazer sua bebida, em casa. Isso foi lá em 2011. Três anos depois, em 2014, já havia plantado algumas mudas e resolveu testar o produto, fruto da sua colheita.
– Não tínhamos como fazer análise em laboratório, mas o sensorial já dava a ideia de que era um produto muito bom. Passei a ver que havia ali um mercado em potencial, passei a fazer uma plantação maior, e o viveiro acabou sendo uma consequência – explica Lahnel, da empresa Lúpulo Gaúcho, de Gramado.
Atualmente, Natanael tem um dos únicos viveiros legalizados no Rio Grande do Sul. Por ser um mercado ainda em formação, o gramadense disse que foi muito complicado formalizar o viveiro.
– O mais complicado é a burocracia para legalizar. Na época, os órgãos do governo ainda estavam tentando entender o que era a cultura do lúpulo no Brasil. No entanto, de lá para cá tem sido mais simples. Ainda é burocrático, mas é bem menos demorado. Porque da mesma forma que eu vi potencial desse mercado, o pessoal do Ministério da Agricultura também viu – revela.
Natanael diz que é perceptível a expansão da produção de lúpulo nos últimos três anos e que tem sido inevitável os governos passarem a olhar com mais carinho e atenção para essa cadeia em constante evolução e com excelentes expectativas comerciais futuras.
– Tem sido importante essas parcerias com esse projeto do governo do Estado, por exemplo, porque temos muitas informações para compartilhar também. De três anos para cá, muito por conta da criação da Associação Brasileira dos Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo), tivemos uma maior representatividade junto aos órgãos. Temos visto que eles abriram os olhos para o potencial dessa cultura. Um produto que tem bilhões de importação, tem muito potencial, mas é preciso evoluir, como ocorreu com outras culturas, como a soja, em que hoje o Brasil é o maior exportador. No caso do lúpulo, é só uma questão de tempo – avalia.
Aos poucos, o mercado começará a se abrir, acredita Natanael. Ele justifica:
– Primeiro, porque lançar novas receitas é um diferencial do mercado cervejeiro. E segundo, pelo paladar, que lembra frutas amarelas – explica.
Para a próxima colheita, que ocorre em meados de março, Natanael diz que já existem encomendas de cervejarias da Região das Hortênsias.
– Uma delas quer usar o lúpulo fresco, e como a cervejaria fica a 40 minutos daqui, colho de manhã e à tarde eles já poderão usar. Não tem mais frescor do que isso. E outra marca quer usar uma espécie que resgatamos com pessoas aqui da região, que foi trazida por imigrantes alemães, que faziam cerveja nos anos 1950. Hoje somos o único viveiro que produz essa planta. Usando esse lúpulo, não é apenas pela qualidade do produto, mas pela história que carrega – justifica.