De molas para colchões a óleo de soja, passando por canos de PVC e embalagens: há escassez de produtos em diversos setores do comércio caxiense, provocada pelo impacto da pandemia de coronavírus na indústria, que reduziu ou até paralisou operações, além de mudanças nos hábitos de consumo. Embora a situação ainda não se reflita em prateleiras vazias, lideranças relatam o temor dos comerciantes ao se depararem com a demora na entrega das mercadorias por fornecedores, além da alta do preço.
O segmento de materiais de construção foi um dos que viu a demanda crescer durante a pandemia, motivada por reformas e ampliações de consumidores que passaram a ficar mais tempo em casa. Segundo o presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais para Construção de Caxias do Sul e Região Nordeste do RS (Acomac), Itamar Maino, há dificuldades no fornecimento de cimento, tijolos, telhas, vergalhões de aço, fios elétricos, canos e conexões e forros de PVC, por exemplo.
— Tudo se consegue, mas com dificuldade. Sempre tem fornecedores que zelam pela revenda, então não deixam faltar, mas como a demanda é grande e o fornecimento diminuiu, têm que dividir um pouco para cada comércio — explica.
A situação se reflete nos preços. Segundo Maino, forros de PVC chegaram a dobrar de valor, enquanto os vergalhões de aço tiveram alta de mais de 40%. Para pisos e porcelanatos, que normalmente sobravam nos estoques e motivavam promoções, os pedidos estão sendo feitos agora com previsão de entrega em fevereiro.
— A gente está "na crista da onda" agora, mas quando as coisas voltarem a normalizar e as pessoas puderem ir a restaurantes, viajar, ir às compras, elas começam a dividir mais o dinheiro e a tendência é de que o setor vá para uma estabilidade — analisa Maino.
"A falta de produtos em dezembro é bem visível"
Segundo a presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Caxias do Sul (Sindilojas), Idalice Manchini, a falta de aço tem impactado até os estoques das lojas de colchões, que dependem do material para a fabricação das molas. Ela também menciona a dificuldade de fábricas para conseguir puxadores para móveis e a falta de embalagens, seja de plástico, papel ou alumínio.
— Tem lojista dizendo "me manda o calçado sem a caixa" por causa da falta de papelão —cita.
De detalhe em detalhe, a escassez de insumos provoca uma reação em cadeia que a dirigente classifica como "comportamento temporário desorganizado". No vestuário, a alta do dólar provocou exportação recorde na safra de algodão, com escassez do produto no mercado interno e dificuldade de importação de insumos por parte dos fabricantes. Além disso, o comércio trabalha com um cronograma de compra de pelo menos um semestre de antecedência, que foi atrapalhado pela pandemia.
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— Bem na época de comprar a coleção de verão, estávamos no auge do isolamento. Quando reabriu, esvaziamos os estoques, e o fabricante não se preparou para uma nova compra. O que estamos conseguindo de reposição é agora. Se precisar de mais uma, não vai ter. A falta de produtos em dezembro é bem visível — explica Idalice, que projeta uma alta de 8% a 10% nos itens de vestuário até o fim do ano.
Com duas das principais datas do comércio pela frente, a presidente do Sindilojas afirma que os comerciantes terão que firmar parcerias com os fornecedores para garantir produtos para a Black Friday e o Natal.
_ Os pequenos vão sofrer mais do que os grandes. Não é depender da sobra, mas da produção a mais que o fabricante vai conseguir entregar. Quem tiver estoque de agora em diante vai sair na frente _ resume.
Nos supermercados, reflexos do dólar
No setor supermercadista, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Caxias do Sul (Sindigêneros), Eduardo Slomp, conta que outubro era a época de estocar produtos típicos do fim do ano, como aves natalinas, frutas em calda e chocolates. No entanto, até agora, nada disso vem sendo ofertado pelos fornecedores. Pelo contrário, itens da cesta básica passam por dificuldade de abastecimento.
— Eu tinha estoque de óleo de soja a R$ 3 e pouco e agora recebi a R$ 7,77. Essa semana vou ter que repassar a 7,99. Em uma rede do Estado, de 530 supermercados, 100 deles chegaram a ficar sem o produto esses dias. Isso não vai normalizar enquanto o dólar estiver tão alto. Tudo o que temos é exportado, e vamos importar de onde, se somos nós os produtores? —questiona Slomp.