Restaurantes mantêm média de queda de faturamento entre 70% e 90% desde o início da pandemia, como relatam empresários e entidades do setor. Para piorar, a crise do coronavírus se consolida no mês de maio, considerado uma das principais, se não a principal época do ano para o setor, uma vez que possui dois "feriados de domingo" de apelo familiar, Páscoa e Dia das Mães. A Páscoa já foi considerada data perdida, e para o Dia das Mães as expectativas não são muito animadoras.
— Está bem devagar e sem estimativas de melhora. A maioria das mesas vai ser no máximo de seis pessoas, não mais de 15, que normalmente é comum no Dia das Mães. Desta vez, as famílias estarão mais enxutas. Não resta muito o que fazer com relação a planejamento a não ser torcer que dê movimento _— avalia Vicente Perini, presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh).
O tradicional almoço com a mãe não deve deixar as dependências do núcleo familiar já reduzido em razão do confinamento, aderido por boa parte da população. Aos restaurantes cabem poucas alternativas e estratégias. Em Bento Gonçalves, por exemplo, o Restaurante Guri, no Vale dos Vinhedos, busca atrair clientes oferecendo um cardápio diferenciado, incluindo pratos que o chef do estabelecimento, Enio Valli, garante ter vínculo com a data:
— O cardápio traz pratos que aprendi com minha mãe, que trazem uma memória afetiva muito grande e que tenho um carinho especial quando sirvo para as pessoas.
Em Caxias do Sul, estabelecimentos buscam o alívio do prejuízo adotando medidas como oferta de tele-entrega e telebusca, além de sistema de atendimento ao cliente diferenciado.
— Há famílias reservando em horários diferentes dos mais comuns, que eram depois do meio-dia. Pessoal geralmente queria para o mesmo horário, mas agora querem evitar aglomerações e espera. Estamos organizando o espaço com horários espaçados. Vamos atendendo com as alternativas que der — afirma Mateus Zanotto, proprietário da Galeteria Alvorada, ressaltando que restaurantes continuam operando com restrições de ocupação de 50% da capacidade e obrigatoriedade de medidas sanitárias e espaçamento entre mesas.
Tentar adequar a tradição
Famílias que quiserem manter a tradição de "pagar o almoço para a mãe" podem buscar alternativas como:
:: Reservar ou almoçar horários diferentes: a maior demanda por mesas é entre o meio-dia e 13h30min. Fora desse período e dentro do horário de funcionamento de cada estabelecimento, é possível escolher momento com menos risco de aglomerações ou filas. Também é recomendado almoçar com mais agilidade, para permitir maior fluxo de clientes e também para não ficar por muito tempo em ambiente fechado.
:: Takeaway (telebusca): outra medida adotada por muitos restaurantes durante a crise foi o serviço de telebusca, no qual o cliente faz o pedido de sua própria casa e se desloca ao restaurante apenas para buscá-lo.
:: Delivery ou tele-entrega: Da mesma forma, pedidos por telefone, ou aplicativos se popularizaram ainda mais neste período. Confira se o seu restaurante preferido, que não oferecia esse serviço até então, pode ter aderido à modalidade.
Adaptação necessária
Por essa época, em anos anteriores, a professora caxiense Jacqueline Ferrazza Pereira se deslocava com a sua família até Santa Maria para celebrar o Dia das Mães com a mãe dela e a do esposo. Desta vez, a tradição precisou ser interrompida. O que então era celebrado em uma mesa de restaurante da cidade do centro do Estado por cerca de 15 pessoas, desta vez ficará reduzida a um almoço em casa, com seus dois filhos e o marido.
— Uma das datas que destacávamos no ano para visitar eles era essa. E sempre priorizamos levar os filhos. Mas agora estamos em contato só pelas redes sociais. Tenho uma filha que é enfermeira e está num grupo de risco e, como eles são idosos, a gente prefere não ir para não levar riscos para eles. Vai fazer o quê? Temos de preservar a saúde, especialmente de quem a gente ama, tem de ficar longe — destaca Jacqueline.
A tradição quebrada com a sua mãe, no entanto, não significa que deva ser ignorada para ela também. Para celebrar a data especial, a família cogita pegar comida em algum restaurante de Caxias, mas para consumir em casa, e com uma prerrogativa...
— Não vou fazer o almoço, por favor, vou ser a visita do domingo (risos). Alguma coisa a gente vai fazer em casa, mas são eles que vão organizar, eu não.
Expectativas
"É a nossa principal data do ano. Serviríamos 400 refeições. Para esta, é só dúvidas, as pessoas estão apreensivas em pagar almoço para a mãe e colocar ela em risco de contrair o coronavírus. Tudo é dúvida, pessoal não confirma, muita gente ligando para saber se estamos abrindo ou não. Até conseguimos fazer reservas, mas poucas. Se tivesse dois salões, em Dia das Mães normal, lotaria os dois." Nolvy Luiz Zanotto, proprietário Galeto Brasile
"Movimento deve ficar 50% abaixo de um Dia das Mães normal, mas o que é bastante considerando ser a nossa principal data. Estamos oferecendo desconto de metade do valor da refeição para a mãe. Nos anos anteriores, dávamos rosa, bombom, mas neste ano vamos dar desconto que é o que vai mais ajudar a família. E também para motivar a ida das pessoas ao restaurante, que continua com pouca frequência. Estamos com média diária de 10% do normal." Paulo Geremia, proprietário da Di Paolo
"É a melhor data do ano para nós, mas neste ano projetamos queda de 70%. Além da baixa movimentação foi reduzida a capacidade, temos só 17 mesas agora. Também não estamos reservando, pois já temos poucas mesas, se reservarmos e a pessoa não vir, estamos mais ralados. Torcer que o tempo colabore e que o público venha." Rogério Rizzi, proprietário da Churrascaria Imperador
"Até temos algumas reservas, mas são poucas e números pequenos de pessoas. Geralmente tínhamos números grandes, de 10 a 15 pessoas por mesas. Para este teremos mesas de quatro, cinco, no máximo seis pessoas. Páscoa e Dia das Mães atendíamos 300 pessoas, quando não passava disso. Não teria reserva desde o início da semana. Hoje, a gente tem em torno de 40, 50 pessoas reservadas, que é metade da nossa capacidade atual. Como podemos trabalhar só com 50% da capacidade, que seria em torno de 100 pessoas, se conseguirmos atrair esse número no domingo vamos nos considerar felizes" Mateus Zanotto, proprietário da Galeteria Alvorada
"Tá feia a coisa. Não sabemos nem como trabalhar no domingo. Em épocas normais, fazíamos uns 400 rodízios, agora a nossa torcemos para ter 100 pessoas, ninguém procura... Calculamos que teremos uma queda de 70%. Tem as entregas que podem amenizar um pouco a situação, que é o sistema que está nos ajudando nesse momento." Elton Bettio, sócio proprietário da Churrascaria Laço de Ouro