A Serra Gaúcha já perdeu um terço das lavouras de soja e milho com a estiagem dos últimos meses, de acordo com dados levantados pela Emater/Serra, que abrange 49 municípios da região. O prejuízo estimado chega a R$ 650,4 milhões. Na soja, a perda é exatamente de um terço, calculada em R$ 459.308.667,00. Já no milho, o prejuízo é de R$ 191.088.333,00, uma perda de 35%.
A gerente regional da Emater, Sandra Dalmina, informa que estes grãos, colhidos no verão, são os que mais sofrem com a seca na Serra, embora também haja prejuízos na fruticultura e em outras lavouras. A perda geral na safra de uva é de 20% e, na maçã, de 25%. Sandra destaca que esses são percentuais gerais de média, podendo ser maiores em alguns lugares e menores em outros. A parte mais impactada corresponde a áreas que ficam entre Veranópolis e Passo Fundo, onde choveu menos. Já a região de Vacaria está começando a sentir um impacto maior agora, mas as perdas em geral são menores que em outras áreas.
Leia mais
Seca castiga o milho nos Campos de Cima da Serra
Safra da uva tem quebra de 20%, mas ótima qualidade, destaca presidente da Uvibra
Isolamento social aumenta consumo de água em época de estiagem na Serra
Segundo a gerente da Emater/Serra, em Caxias do Sul e arredores a falta de chuva ficou mais acentuada a partir do fim de fevereiro, em monitoramento que compreende o período entre os dias 25 do mês passado e 15 deste mês. Apesar disso, em Nova Petrópolis, já no início de fevereiro a Corsan precisou retirar água de poços que não estavam ativados para levar à população, diante de um quadro de estiagem desde dezembro.
Sandra explica que, de fato, desde o fim de dezembro não chove o suficiente para abastecer os mananciais. Entretanto, algumas pancadas de chuva em boa quantidade para a agricultura ocorreram em janeiro e até em fevereiro; o problema é que, com as altas temperaturas, a água não conseguiu se infiltrar tanto, sendo apenas superficial. A partir do fim de fevereiro, no entanto, a falta de chuvas se agravou.
— O que está nos preocupando muito, além da questão da estiagem, é que já há vários municípios com armazenamento de água muito baixo até para consumo humano, além das culturas irrigadas, como o tomate e outros cultivos aqui de Caxias, que já estão ficando prejudicados — explica Sandra.
Uma outra situação que preocupa é o seguro agrícola. Isso porque os produtores rurais que têm irrigação e estão vendo as reservas de água esgotarem não têm, em princípio, direito a ressarcimento por perdas pela seca, justamente por terem um sistema de irrigação. É o caso de quem cultiva tomate.
— A única coisa que se poderia fazer seria provar que a irrigação compete com a água para animais ou humanos, e aí ter um laudo municipal dizendo que foram obrigados a parar de molhar a cultura — comenta a gerente da Emater/Serra.
Por isso, Sandra defende que os seguros atuais têm de melhorar para o agricultor nesse aspecto, tanto os privados quanto via Proagro. Geralmente, as coberturas de seguro no verão são orientadas para perdas com granizo, mas não com a seca.
A gerente regional da Emater observa que, do lado dos investimentos, são necessários mais sistemas de captação, como açudes e cisternas. O investimento necessário na irrigação de grãos, que tiveram as maiores perdas na Serra, no entanto, é muito maior do que para a irrigação em propriedades de fruticultura. A gerente da Emater/Serra destaca que linhas de investimento podem ser acessadas por meio de programas do Governo Federal. No caso dos agricultores familiares, é o Pronaf Mais Alimento.
Da parte do Estado, os produtores podem contar com um programa chamado "Mais Água, Mais Renda", que proporciona apoio técnico da Emater para o projeto de irrigação e licenciamento sem custos, já que um dos desafios para os agricultores são as licenças ambientais, além de um subsídio para aqueles que contratam financiamento para executar o projeto.
Sobre o fato de muitos produtores terem ficado com problemas para irrigar as lavouras neste ano, Sandra comenta que, como os episódios de estiagem costumam ocorrer em intervalos de 4 ou 5 anos, nem sempre essa é a prioridade de investimento do produtor, que precisa arcar com uma série de outros gastos como, por exemplo, a cobertura das lavouras, o que também requer um alto investimento, além de insumos diversos e outros custos.
— A agricultura é uma atividade de risco. E o produtor precisa escolher onde vai investir, mas tem muitas coisas para contemplar. Por isso essa questão do seguro precisa melhorar — enfatiza.
Essa é uma das estiagens mais severas dos últimos anos. Só de perícias de prejuízos para o seguro do Proagro, foram feitos 1.548 procedimentos pela Emater. A gerente regional da entidade recorda que a última seca rigorosa ocorreu em 2011; de lá para cá, houve outros episódios, mas de menor proporção.
Leia também
Supermercados de Bento Gonçalves venderão produtos de agricultores que dependem de feiras livres
Feiras voltam a funcionar na terça-feira em Caxias do Sul
UAB se posiciona a favor das medidas de isolamento social em Caxias
Prefeitura autoriza funcionamento de pequenos negócios e construção civil em Farroupilha