O porto seguro do brasileiro sempre foi o investimento na poupança. E não raro, esse quinhão passava de geração em geração, quando o avô, por exemplo, abria uma conta para garantir o futuro do neto. No entanto, nos últimos anos tem-se observado uma queda significativa do rendimento da outrora chamada caderneta de poupança.
Em 2019, por exemplo, quem deixou seu recurso parado nessa aplicação viu seu dinheiro render 4,26%. No entanto, a inflação oficial no mesmo período, fechou em 4,31%. Ou seja, não é que perdeu dinheiro quem deixou suas economias na poupança, mas o ganho real foi nulo, porque esse rendimento não acompanhou o reajuste de preços nos supermercados, por exemplo. Nesse sentido, explicam os economistas e especialistas, não faz sentido aplicar seus recursos na poupança.
O cenário deve se manter ao longo deste ano, como aponta o Relatório do Mercado Focus, divulgado todas as segundas-feiras pelo Banco Central (BC). A previsão do Focus é de que a taxa Selic, que é a reguladora dos juros no Brasil, possa chegar a 4,25% ainda em 2020.
Na mesma linha, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), que regula os preços, deve ser menor do que em 2019 (que foi de 4,04%), sendo projetado a 3,61% para 2020. Ou seja, é chegada a hora de o brasileiro deixar a velha paixão de lado e passar a observar com mais carinho outros investimentos que oferecem melhores taxas de rentabilidade.
Durante o ano passado, a poupança ainda estava na liderança não apenas em número de contas ativas, mas também em estoque aplicado. No Brasil, conforme os dados até novembro de 2019, são 81,57 milhões de contas de poupança ativas, contra 1,68 milhões na bolsa de valores, por exemplo.
Em relação ao volume investido, a poupança alcançou R$ 845,46 bilhões, seguido mais de perto pelos Fundos de Investimento, com R$ 615,80 bilhões. No entanto, essa tendência deve mudar radicalmente, porque a perspectiva de melhora do cenário econômico, com juros mais baixos, inflação em queda, reaquecimento da indústria e outros setores produtivos, vai fazer com que os investidores (novos e antigos) passem a procurar por melhores taxas de rentabilidade.
E agora, como investir e em que produtos? Como fazer o dinheiro rentabilizar mais e dizer adeus à poupança?
MERCADO BRASILEIRO
Quem não está familiarizado com o contexto macroeconômico a que o Brasil está atrelado, tem mais dificuldades em perceber as sutilezas por detrás dos dados e índices que são publicados e mencionados diariamente na mídia.
– Estamos vivendo a era da informação, mas importa mais o que a gente faz com toda essa informação que recebemos – filosofa o economista Felipe Venturini Guerra, 35 anos, sócio e assessor de investimentos da Messem.
Agora, quem já investe ou anda pensando em investir precisa entender que a informação é a alma e, a educação financeira, é o corpo do negócio.
– O Brasil é um país que tem uma oscilação muito grande nos seus dados econômicos, inflação, taxa de juros, PIB (Produto Interno Bruto), crescimento e desemprego. O Brasil é um país com uma volatilidade muito grande – observa Guerra.
É volátil e oscila, porque o mundo é um mercado atrelado. Na última semana, a bolsa brasileira sofreu com a notícia do coronavírus que tem assolado a China. Até mesmo no Brasil, na última sexta-feira, o Ministério da Saúde havia reconhecido nove casos em seis estados brasileiros. Mas a Ibovespa também oscila quando o presidente Jair Bolsonaro decide abrir o verbo e patrolar o bom senso. De uma vez por todas, é preciso entender que as oscilações existem, e que alguns paradigmas continuarão a ser quebrados – desde que mantida a condução liberal da economia no Brasil.
MUDANÇA DE PARADIGMA
– Há pelo menos dois paradigmas brasileiros. Primeiro, a renda fixa se resume a poupança e, segundo, o único investimento seguro no Brasil é a poupança – brinca o economista Felipe Guerra.
Ele ainda provoca o leitor a refletir outro ponto importante. A poupança desde sempre foi a “queridinha do Brasil”, mas não é só agora que ela deixou de ser uma boa opção de investimento.
– As pessoas estão dizendo que a poupança está com uma rentabilidade negativa. Ok, perfeito. Mas, e em 2015? Em 2015, tivemos uma inflação de 11% no ano. E qual foi o índice da poupança? Foi de 7%. Ou seja, a rentabilidade da poupança já foi menor do que a inflação lá em 2015 – revela.
Guerra é didático – talvez porque esteja acostumado a palestrar com enfoque na educação financeira – e explica a relação entre perda real do dinheiro aplicado na poupança com relação à perda de valor nominal em função da inflação.
– No início do ano, eu tenho R$ 100 e vou ao mercado. Ao final do mesmo ano, tenho de gastas R$ 110 para fazer as mesmas compras. Ou seja, esses R$10 a mais é o valor que eu “perdi”. Porque eu tenho de usar mais recurso para comprar a mesma cesta de produtos. Isso se chama inflação.
E a aula continua:
– Se as minhas aplicações financeiras, que eu tenho lá desde o início do ano, não rentabilizarem de R$ 100 para R$ 110, eu perdi dinheiro. Não vai aparentar que eu perdi dinheiro, porque no extrato vai aparecer que eu saí de R$ 100 para R$ 105, por exemplo. Então, as pessoas pensam: “ah, ganhei dinheiro”. Mas na realidade, quando tu fores ao mercado vais comprar menos itens do que no início do ano.
Para Guerra, a taxa de juros menor, da Selic, atualmente em 4,50%, mas com previsão de chegar a 4,25%, vai acelerar uma tendência que vem se consolidado nos últimos anos, de os brasileiros diversificarem suas carteiras de investimento, buscando opções mais atraentes de rentabilidade.
QUAL É O MELHOR INVESTIMENTO?
A top 10 das perguntas que os consultores e analistas financeiros ouvem diariamente é:
– Qual é o melhor investimento, onde eu invisto para ficar milionário?
Guerra responde, com toda a tranquilidade, no alto do 19º andar do WTower, sede da Messem, que tem R$ 8 bilhões em custódia.
– A melhor forma de se investir é diversificando, é pulverizando. A grande questão, é entender primeiro qual é o teu perfil. Tu é um investidor moderado, conservador ou agressivo? E qual o teu horizonte de investimento? Para um, dois ou 20 anos?
Guerra explica que, entre a poupança, que é o investimento mais conservador, até a bolsa de valores, o mais agressivo, há uma infinidade de produtos.
– Os títulos públicos, por exemplo, são investimentos em que tu empresta dinheiro para o governo federal e ele paga uma remuneração. Em 2019, teve um crescimento de pessoas físicas que tiveram acesso a esse investimento. Nesse produto, com R$ 200 a R$ 300, já se pode investir.
Ou seja:
– Não é necessário um grande capital para que tu consiga investimentos melhores. É necessário, conhecimento, informação e educação financeira. Esses são os três principais pilares para que tu possa montar uma carteira de investimentos que, no longo prazo, te entregue um resultado satisfatório com o teu perfil – sintetiza Guerra.
BOLSA DE VALORES
Exceto neste período de coronavírus, que tem deixado a Ibovespa mais ouriçada, o Brasil tem visto aumentar a movimentação. No dia 23, por exemplo, bateu em 119.527 pontos. Mas, na última quinta-feira, chegou a menor média de 112.825.
– Bolsa de valores é investimento em renda variável, assim como as criptomoedas, que são investimentos que oscilam – revela o economista Guerra.
O fato é que a cada dia mais pessoas tem procurado entender como funciona o mercado de ativos variáveis para compor uma carteira de investimentos melhor, mais atrativa e mais lucrativa.
Mas, afinal de contas, a bolsa vai continuar a subir?
– Não existe nenhuma garantia de que a bolsa vá subir ou cair. O que posso te dizer é que, baseado na taxa de juros atual, na perspectiva de crescimento, nas reformas pelas quais estamos passando e no resultado das empresas que estamos acompanhando, a bolsa deve ter uma valorização. Isso é uma perspectiva. A XP Investimentos aponta a Ibovespa, no final do ano, na casa de 140 mil pontos. Ou seja, temos ainda um bom espaço para a valorização. Vai acontecer? Não sei – resigna-se.