Revisitar a década no campo tecnológico passa, necessariamente, pelo chão de fábrica. Desde 1784, quando ocorreu a mecanização dos teares, que passaram a trabalhar à força do vapor, não ocorria um movimento tecnológico tão intenso, rápido e transformador. A Indústria 1.0, movida a vapor, recebeu nos últimos 10 anos o impulso de sistemas cibernéticos, entre eles a internet das coisas e a inteligência artificial.
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— Em um paralelo com a Indústria 3.0, que inseriu a automação nas fábricas, a Indústria 4.0 veio para fazer a conexão entre as máquinas, os equipamentos e o homem, em que a participação do trabalhador, nesse sentido, será cada dia mais importante na análise dos dados — explica Fábio Tiburi, 42, engenheiro mecânico e diretor da divisão de Automação e Robótica da Sumig.
Mais tecnologia não pressupõe apenas uma mudança no sistema de produção, mas também na perspectiva de emprego. Tiburi é taxativo em defender que o trabalhador precisa estudar e especializar-se.
— O comportamento do trabalhador precisa mudar, porque os trabalhos laborais estão com os dias contados. Não é a automação que gera o desemprego, porque no final das contas, ela gera mais oportunidades e melhora a qualidade de vida das pessoas, porque termina com o domínio do homem em atividades que a maioria deles nem sequer deseja, que é operar máquinas — defende.
Na China ou na Coreia, cita Tiburi, há cerca de 370 robôs para cada 10 mil trabalhadores. No Brasil, enfatiza, não chega a 4 robôs, na mesma comparação.
— Para entrar definitivamente na Indústria 4.0, o Brasil precisa passar pela Indústria 3.0, com uma automação massiva. Em nível manual, 50% da produção é ainda manual – revela.
Aqui no Brasil, nesta última década, Tiburi destaca que os melhores exemplos de empresas que estão no mesmo compasso da Indústria 4.0 são as do setor de alimentos e bebidas, além de algumas montadoras. Em Caxias, observa Tiburi, ainda há uma grande resistência na aplicação efetiva da automação.
— No nosso setor metalmecânico, essa realidade é ainda muito pequena. Se vende mais automação para as empresas de fora de Caxias do que para as da cidade. Esse é um ponto a ser observado, porque se viu nessa década pouca iniciativa de automação. As empresas precisam entender que não se trata de investimento, mas de implementar uma cultura.