Há 10 anos, a menina Mariane Neumann assistia aos pais acordarem cedo, para tirar leite das vacas, na propriedade da família, em Nova Petrópolis. Gérson Henrique Neumann e Joana Beatriz Kreisig Neumann precisavam de pelo menos 3 horas a 4 horas pela manhã e, ao final da tarde, para ordenhá-las. Não raro, era preciso a ajuda de outras pessoas da família.
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Mariane, hoje com 15 anos, cresceu vendo a mesma cena e, quanto mais mocinha ficava, menos interesse tinha em dar continuidade ao modelo de negócio dos pais. Tanto é que Gérson e Joana cogitaram abandonar a atividade leiteira que já mantêm há 25 anos, porque percebiam que a filha não tinha interesse. Pois, apesar da mecanização do processo, era preciso colocar a mão na massa.
Mariane trabalha hoje com os olhos fitos na tela do computador ou do celular. É assim que ela ajuda os pais a acompanhar a produção de leite das 53 vacas da propriedade da família. Ela pode fazer isso até na hora do intervalo na escola.
– Quem é o jovem, hoje em dia, que vai querer ficar no campo se tiver de fazer tudo de forma manual? Ninguém, né! Nem eu! – brinca Mariane, aluna da Escola Técnica Bom Pastor, que fica na Linha Brasil, em Nova Petrópolis.
Na última década, a inovação tecnológica deixou de ser uma perspectiva de futuro e passou a ser uma arma para manter-se vivo na cadeia produtiva. Seja através da internet das coisas, com aparelhos conectados uns aos outros, enviando informações e dados que melhoram a performance dos objetivos e a vida das pessoas, seja por meio da revolução tecnológica da Indústria 4.0, vive-se hoje uma nova perspectiva na relação entre as marcas e os consumidores. Especialistas são taxativos: quem não percorrer a trilha da inovação e seguir fazendo os mesmos produtos e oferecendo os mesmos serviços no mesmo modelo do século passado, vai sucumbir.
Mariane, por exemplo, só mudou de ideia – e enxerga hoje uma nova perspectiva na vida no campo – porque a tela de um computador abriu um mundo de possibilidades diante dos seus olhos. Desde o início de 2019 está matriculada no curso de Técnico Agrícola, mais por interesse acadêmico do que perspectiva profissional, reconhece. Mas a vida dela mudou quando foi instalada na propriedade da família uma ordenhadeira robotizada.
– Mesmo no início do curso, eu batia o pé e dizia que não queria ficar no campo. Mas quando colocaram em funcionamento o robô, me abriu os olhos e aí decidi que ia trabalhar com isso – revela.
Mariane é o exemplo de uma nova geração que nasceu em um ambiente digital, com internet em todos os cantos, e com mentalidade tecnológica e sustentável.
– Na minha idade, qualquer jovem pensa assim: “Quanto mais tecnologia melhor.” É por causa da tecnologia que muitos jovens vão permanecer no campo. Só que ainda tem muitas propriedades familiares que, por falta de incentivo dos pais, os jovens estão indo para a cidade – argumenta.
A robotização teve um investimento de R$ 1 milhão à família Neumann, que poderá pagar em até 10 anos, em uma proposta de financiamento através da Sicredi Pioneira. Essa iniciativa fez com que os Neumann ampliassem a produção de leite para 1,5 mil litros diários, com 53 vacas em produção. E será ainda maior, depois que for superada essa etapa de adaptação. Esses desafios tecnológicos são a diversão da geração de Mariane, que está sempre buscando estar atualizada nas inovações tecnológicas. No entanto, mesmo sendo uma geração inovadora, não perdem a sustentabilidade de vista.
– Depois de dar um tempo para que as vacas assimilem essas mudanças, e depois de nos adaptarmos a essa nova maneira de trabalhar, queremos colocar placas solares e cisternas para usar melhor os recursos naturais – defende Mariane.
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