Parece que o churrasco neste final de ano nem precisará de tempero, porque já vem salgado lá do campo. Quem revela a variação de preços no Estado é o Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS. Entre outubro e novembro, os 10 cortes acompanhados sofreram aumento. Os maiores reajustes foram na picanha (59,5%), filé mignon (49,3%) e alcatra (44,4%).
– Todo final do ano tem um aumento entre 10% a 15%, mas neste ano chegou a 40%. O repasse para o nosso consumidor foi de 25%, mas eu não sei como vai ser na semana seguinte – revela Sidnei Zanandrea, 38 anos, sócio gerente do Shopping das Frutas, há 12 no mercado.
Esse aumento, constatado pela reportagem em todos os sete locais visitados em Caxias do Sul, se refere a um reajuste que vem sendo crescente há pelo menos 15 dias.
– O preço muda toda semana. Os frigoríficos não fazem mais um preço fechado para o mês, agora eles têm uma tabela que varia semanalmente – diz Zanandrea.
Esse choque de preços ocorre em todas as etapas da cadeia produtiva da carne, mas são mais impactantes em certos tipos de corte. A expectativa é de que mercado volte ao equilíbrio apenas no primeiro trimestre de 2020.
– O boi subiu demais. Muito mais do que nos anos anteriores. No campo, foi de R$ 5,20 para R$ 7,20 o quilo, em poucos dias. Os cortes que mais sobem são picanha, costela, maminha, alcatra e entrecot. Acredito que em janeiro deve voltar a equilibrar. Eu sei que tem açougues que tiveram mais impacto, mas aqui pra nós, meu custo está 15% maior – explica Luiz Barea, 63, há 30 anos no mercado com o Super Bareinha, que vende carnes especiais.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o valor da arroba do boi fechou no preço recorde de R$ 231,35, no dia 29 de novembro. No acumulado de novembro, o indicador do boi gordo Esalq/ B3 teve alta de 35,5%, ou seja, de R$ 61,80.
APESAR DISSO, INVESTIR
É fato que no final do ano a carne sempre sobe, mas a avaliação dos empresários do setor caxiense é de que o reajuste nunca foi tão elevado.
– Um dos fatores é que aumentaram muito as exportações, principalmente para a China. Mas, por detrás disso, tem os fazendeiros que seguram o boi gordo na fazenda porque querem faturar mais ainda lá na frente – defende Barea.
Mesmo em meio a essa instabilidade do preço da carne e da escassez no mercado interno, por conta do aumento das exportações, o empresário arrisca em um novo nicho.
– Abrimos uma agroindústria para fazer hambúrguer, sushi e linguiças campeiras temperadas. Faz um ano que a empresa estava pronta, mas faz apenas 15 dias que começamos a operar – revela, Barea, na esperança de emplacar um incremento nos negócios.
REAJUSTAR OU NÃO?
Como fazer para não repassar o reajuste aos clientes? Simone da Rocha, 42, administradora da Hamburgueria Jaime Rocha, no mercado há 18 anos, tem negociado mais com fornecedores.
– Nos últimos três anos, o filé mignon não passou dos R$ 42. Este ano, eu cheguei a comprar filé a R$ 33. Nos últimos dias, a muito custo e com muita negociação, comprei a R$ 47, e nesta semana, a R$ 49 e me disseram que pode chegar a R$ 54 na próxima segunda-feira. Eu nunca vi uma variação tão absurda assim – desabafa Simone.
Além do filé, a hamburgueria utiliza muita carne moída.
– Nesses últimos 15 dias, a carne moída passou de R$ 19,60 para R$ 22,50 e deve chegar a R$ 24. Por semana, nós usamos cerca de 150 quilos de para fazer hambúrguer. Ainda não repassamos o custo ao consumidor, mas estamos perto do nosso limite – revela Simone.
FATOR CHINA
O surto de peste suína africana que atingiu parte do rebanho chinês é a principal razão para que os asiáticos tenham intensificado o apetite pela proteína animal brasileira. Devido ao problema, a China passou a buscar cortes de carne no Exterior.
Entre janeiro e outubro deste ano, segundo o Ministério da Economia, as exportações de carne de gado do Brasil totalizaram US$ 5,7 bilhões, 7,6% a mais frente ao mesmo período de 2018. Com crescimento de 36,6% no ano, a China foi o principal destino, respondendo por US$ 1,6 bilhão.
Aqui no RS, conforme o Departamento de Economia e Estatística da Secretaria Estadual de Planejamento (DEE/Seplag), houve queda de 1,5% no volume geral de embarques, que totalizaram US$ 195 milhões. Entretanto, as vendas para a China saltaram 104%, ficando em US$ 55,1 milhões.
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