Os primeiros resultados deste ano das análises da deriva do herbicida 2,4-D no Rio Grande do Sul, utilizado em lavouras de soja, apontam que propriedades em três municípios da Serra foram atingidas pelo produto. Conforme a Secretaria Estadual da Agricultura, foi atingida uma lavoura de maçã e pastagem de uma propriedade de Pinhal da Serra, uma lavoura de maçã em Bom Jesus e uma lavoura de produção de uvas em Protásio Alves.
Ao todo, foram concluídas 76 análises no Estado até agora, relativas a propriedades de 23 municípios, e todas tiveram laudo positivo. Faltam ainda os resultados de outras 73 amostras coletadas. No ano passado, de 53 amostras analisadas, 52 tiveram laudos positivos.
Produtores de frutas têm relatado prejuízos em função do impacto deste produto aplicado na soja, quando a substância migra para outras lavouras com o vento. A partir de laudos técnicos de que a deriva de fato provocou esses impactos, o governo do Estado publicou instruções normativas para aumentar o controle sobre a venda e aplicação do produto. Na Serra, há três municípios onde vigoram regras de cadastro e venda orientada: Ipê, Monte Alegre dos Campos e Vacaria. A partir do ano que vem, as restrições se estenderão para todo o Estado.
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Produtores de três municípios da Serra que aplicam herbicida na soja deverão fazer cadastro
O chefe da Divisão de Serviços e Insumos Agropecuários, Rafael Friedrich de Lima, afirma que a Secretaria da Agricultura tomou todas as medidas e vem desenvolvendo atividades de fiscalização constantes, com objetivo de penalizar o mau produtor que tenha provocado a deriva. Conforme Lima, além das autuações da secretaria, que variam de R$ 2 mil a R$ 19 mil, os produtores rurais podem sofrer sanções nas esferas civil e criminal.
— Muitos produtores não declararam o uso do agrotóxico hormonal no sistema da secretaria, mas é possível identificar quem comprou e tomar ações mais enérgicas.
Para o presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), José Sozo, as instruções normativas do Estado são burocráticas e não têm potencial de resolver o problema. Ele ressalta que não quer que o Rio Grande do Sul produza menos soja, reconhecendo a importância econômica do cultivo, mas defende a criação de um fundo para ressarcimento dos produtores com prejuízo, e questiona a possibilidade de se descobrir a origem do herbicida em alguns casos, tornando muito difícil identificar os responsáveis. Também chama atenção para os prejuízos que podem ser causados em rotas de turismo rural devido ao impacto na fruticultura e para o desemprego que danos à atividade possam vir a gerar.
— Se esses produtores de frutas forem inviabilizados, onde vão ter emprego hoje? Em 1960, quando acabou o corte das araucárias, parte da mão de obra da região foi para Caxias do Sul. Mas, naquela época, uma pequena parte dos funcionários da indústria era especializada, e a exigência de formação para contratar era menor. Hoje, a situação é diferente — observa.
A Secretaria da Agricultura afirma que já identificou produtores que realizaram aplicação do herbicida 2,4-D sem assinatura da receita e aplicador cadastrado. Identificou também revendas comercializando agrotóxicos sem exigir a declaração do produtor e a certidão do aplicador, além do profissional não ter colocado na receita agronômica o termo de responsabilidade e de risco. A pasta destaca que já está sendo possível autuar os infratores com as instruções normativas, o que era mais difícil no ano passado pela falta de um regramento específico.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks, diz que ainda não teve acesso aos dados oficiais e que o corpo técnico está analisando essas situações para ver as circunstâncias exatas em que os problemas aconteceram.
— Precisamos ver se isso está concentrado ou se é disperso, se é minifúndio ou se é área maior; também é interessante saber em que época do ano aconteceu. Estamos analisando e vamos escutar o pessoal da secretaria para ver o que eles estão constatando in loco — comenta.
Fucks afirma que, a partir das instruções normativas e treinamentos de aplicadores, esses problemas não deveriam acontecer.
— O problema é que, no caso herbicida hormonal, um só produtor que tenha aplicado errado, em um dia de muito vento, pode causar um grande prejuízo.
Municípios com laudos positivos
Bom Jesus, Cacequi, Cachoeira do Sul, Candiota, Dilermando de Aguiar, Dom Pedrito, Ibiaçá, Jaguari, Jari, Maçambara, Mata, Minas do Leão, Pinhal da Serra, Piratini, Protásio Alves, Ronda Alta, Santana do Livramento, Santiago, Santo Ângelo, São João do Polêsine, Silveira Martins, Toropi, Viadutos.
Municípios onde vigoram instruções normativas de cadastro e venda orientada
Alpestre, Bagé, Cacique Doble, Candiota, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Hulha Negra, Ipê, Jaguari, Jari, Lavras do Sul, Maçambara, Mata, Monte Alegre dos Campos, Piratini, Rosário do Sul, Santiago, São Borja, São João do Polêsine, São Lourenço do Sul, Santana do Livramento, Silveira Martins, Sobradinho, Vacaria.