Quando surgiu no Brasil, em 2010, a Black Friday apresentou resultados concentrados. Idealizada pelo portal de cupons online Busca Descontos, a iniciativa foi importada dos Estados Unidos, onde tradicionalmente demarca o início da temporada de vendas do final do ano. No Brasil, no entanto, teve uma tímida adesão, com exploração inicialmente restrita a redes de e-commerce.
— Nos Estados Unidos, abre qualquer porta e na primeira escrivaninha vai ter talão de cupons de descontos. Aqui, o brasileiro não tem esse costume, ele gosta é de desconto mesmo. Em 2010 e 2011, nos dedicamos a difundir o conceito (da Black Friday), e em 2012 explodiu. Foi o primeiro ano de grande adesão — relata um dos idealizadores do evento no Brasil, Ricardo Bove.
Na época, ele comenta que o faturamento no país foi de R$ 250 milhões, somente por vendas online e exclusivamente na sexta-feira (dia alusivo ao "friday" da data). Sete anos depois, a previsão em 2019 é de que o desempenho ultrapasse a casa dos R$ 3,1 bilhões no dia da promoção, celebrada na última sexta-feira de novembro. Desse valor, estima-se que em Caxias haja movimento de R$ 9 milhões no comércio digital.
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul (CDL) não divulgou projeções consolidadas do desempenho do comércio neste ano na Black Friday. Porém, para o presidente da entidade, Ivonei Pioner, todos os indicadores sinalizam para uma boa prospecção:
— Cerca de 70% dos consumidores já conhecem a data e têm expectativa se os produtos que querem vai ter desconto. Efetivamente, 80% desse público vai estar analisando as ofertas. Temos perspectiva de crescimento e o tíquete médio já costuma ser alto, normalmente os valores são acima de R$ 600. É uma data que as pessoas gostam "de se presentear". Diferente de outras datas em que o motivador é presentear outras pessoas.
Embora se celebre há menos de uma década, a Black Friday já ganha patamar de grande relevância no calendário do comércio, inclusive superando, em alguns casos, números da maior data do setor, o Natal. No segmento de bens duráveis (eletrônicos, vestuários, eletros), por exemplo, desde 2016, novembro registra faturamento maior do que dezembro em nível de país. Em 2017 e 2018, foram cerca de R$ 3 bilhões a mais de rendimento no mês em que se celebram as promoções da Black Friday. O cenário se repete em Caxias, conforme o Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) da cidade.
Conforme o Sindilojas, um dos fatores que deve contribuir de forma positiva é a liberação do FGTS.
— Tanto as duas parcelas do 13º quanto os R$ 500 do FGTS vão poder contribuir para que a Black Friday seja ainda melhor neste ano. Estimamos que tenhamos aumento de 12% a 15% — comenta Idalice Manchini, presidente do Sindilojas.
Pesquisa sobre a projeção de vendas para o final de ano divulgada pela Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do RS (Fecomércio-RS), informou que 24,4% de consumidores que têm direito ao saque do Fundo de Garantia informaram que pretendem gastar o valor em compras. Em nível de país, a expectativa é de que R$ 1,5 bilhão do saque sejam dedicados ao consumo.
O varejo é o principal beneficiado. Algumas lojas, inclusive, trabalham com horário diferenciado. Em Caxias, a Colombo abrirá uma hora mais cedo e está preparada para oferecer atendimento especial aos clientes.
— Nossas metas são batidas em quatro vezes geralmente na Black Friday. Aumentamos em torno de 300% o movimento da loja. Vamos dispor coquetel para os clientes, tentar oferecer uma experiência diferenciada — adianta o gerente da unidade central de Caxias, Davison Correa.
Não há certeza sobre a origem do termo "black friday" (sexta-feira negra). Uma das teorias, no entanto, diz que se refere ao trânsito caótico gerado após o feriado de Ação de Graças, mais especificamente na Filadélfia, nos Estados Unidos. A mesma lenda (ou não) sugere que lojistas aproveitavam os congestionamentos para divulgar promoções e atrair quem passasse por lá.
A data do "eu mereço"
Da perspectiva de potencial de faturamento, quanto mais dias de incentivo ao consumo, melhor. Porém, há um dilema natural quando a data de maior expectativa do comércio pode ser interferida.
Enquanto o crescimento da Black Friday é comemorado, há alguns reveses quando se trata do perfil de vendas. Se por um lado a data gera movimento, por outro, o consumidor é atraído justamente pelos altos descontos. Com isso, produtos que normalmente seriam vendidos a preços "normais" para o Natal, acabam sendo comercializados antes a valores promocionais. Assim, 43,9% de público entrevistado para a pesquisa de vendas de fim de ano pela Fecomércio admitiram que pretendem antecipar as compras de Natal na Black Friday.
— É claro que influencia, porque barateiam os produtos e o consumidor aproveita para antecipar a compra do presente. Mas não vejo que prejudique, para o lojista interessa vender mais — ressalta a presidente do Sindilojas Caxias, Idalice Manchini.
Para um dos idealizadores da Black Friday no Brasil, Ricardo Bove, as duas datas se diferenciam no propósito do consumidor:
— Não gosto muito de comparar as datas porque são bem distintas, mas um dado interessante mostra que 97% das pessoas pretendem comprar para si mesmas na Black Friday. A gente brinca que é data do "eu mereço", enquanto o Natal são compras direcionadas para terceiros.
Conforme pesquisa divulgada pela Google neste ano, 72% dos consumidores alegam que fazem compras para si mesmos na Black Friday.