Para o presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) e prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), o vinho brasileiro tem potencial de competir com o vinho europeu no território estrangeiro. Ele retornou na segunda-feira (23) de uma viagem à França, onde apresentou o potencial econômico e turístico da Serra Gaúcha.
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— O nosso vinho também é competitivo no velho mundo — afirma, referindo-se principalmente aos espumantes de alto valor agregado.
Em entrevista à rádio Gaúcha Serra na manhã desta terça (24), Pasin falou sobre as perspectivas com o acordo celebrado entre o Mercosul e a União Européia. Ele também abordou a saída de Caxias do Sul da região Uva e Vinho.
Ouça aqui e leia abaixo a entrevista completa abaixo:
Como foi participar deste evento na França?
Foi um momento de muita alegria e entusiasmo por sermos lembrados como um potencial de desenvolvimento do turismo e envolvimento econômico do Estado do Rio Grande do Sul. O Festival do Rio Grande do Sul em Paris foi organizado por uma entidade de brasileiros, gaúchos, que lá residem, juntamente com a prefeitura de Paris e com a Câmara de Comércio França e Brasil. Estive acompanhado do Secretário Estadual da Agricultura, Covatti Filho, e apresentamos potencialidades de investimentos na Serra e Estado. Ao contrário do que muitas dessas situações políticas mais recentes apresentam entre Brasil e França, o mercado brasileiro é extremamente bem visto pelos franceses. O nosso turismo, nossa vitivinicultura e o enoturismo, possuem muitas possibilidades de investimentos. Enxergamos potencialidades para nossos produtos também na França.
O acordo entre Mercosul e a União Europeia tem rendido muitas manifestações, por vezes contrárias. O senhor tratou disso na França?
Nós também trabalhamos essa questão na França. O acordo bilateral do Mercosul com a União Europeia está ainda muito insipiente. Se nós pegarmos, por exemplo, a posição da Áustria nesta última semana, o temor de muitos é que esse acordo não se efetive ou realize. O parlamento austríaco já manifestou que não vai ratificar isso e, se assim acontecer, a coisa não se confirmará. Então a gente tem que olhar com ressalvas para esse acordo pois ainda não aconteceu e quando ele for assinado, terá 10 anos de carência para entrar em vigor. Tudo é uma fase de transição. Esse é um ponto. A cada 10 vinhos abertos no Brasil, somente um é brasileiro. Noventa por cento dos vinhos abertos no país são importados e metade deles são chilenos. Então, numa visão prática do assunto, o temor da entrada de vinhos subsidiados a 0,8 centavos de euro no Brasil, é muito mais para o vitivinicultor chileno do que o brasileiro. Entretanto, a gente tem que respeitar bem as opiniões contrárias ao acordo Mercosul e União Europeia. Eu ainda acho que um mercado interessante está se abrindo porque nosso vinho passa a ser repensado. A gente reurbaniza a classificação do nosso vinho. Talvez entendamos que o nosso vinho precisa seguir uma linha que a França adotou, pois somos muito parecidos. O nosso vinho também é competitivo no velho mundo. Nós temos que enxergar por todos os lados e não ficarmos presos a uma situação. O vinho espumante brasileiro na França, inclusive, tem um mercado muito grande a ser trabalhado. É isso que vamos fazer agora, no decorrer da semana: apresentar esses potenciais importadores franceses para esse produto (o da Serra) que é já muito bem visto na França.
A cidade de Bento Gonçalves sediará em dezembro o encontro do Mercosul?
Sim. O local será o SPA do Vinho, no Vale dos Vinhedos, aqui em Bento Gonçalves, mas representando a Serra Gaúcha. A escolha partiu muito do Palácio do Planalto e da série de relacionamentos que estamos fazendo com os parlamentares, em Brasília. A gente tem um trabalho muito forte na divulgação da nossa cidade. Vejam, por exemplo: comitivas de Caxias do Sul e do MobiCaxias estiveram em Brasília faz pouco tempo. Nós também estivemos por lá divulgando. Então é uma série de fatores que fizeram com que Bento seja a sede desse encontro. A pauta do vinho fez com que o Planalto enxergasse aqui no sul, na região da Serra, a necessidade de passar uma mensagem, e estamos extremamente satisfeitos pela oportunidade de receber esse evento. Acredito que seja um reposicionamento da nossa região, inclusive recebendo esse convite para palestrar na França, mostrando esse potencial de desenvolvimento que nós estamos trabalhando de forma tão rápida
Como está a relação comercial entre os países europeus, como a França e a Serra? O que mais nossa região vende para eles?
Vende móveis. Está acontecendo um movimento com relação ao Brexit também, ou seja, uma oportunidade muito grande do Brasil ou do Mercosul, inclusive, de criar um novo bloco direto, um trabalho de diplomacia direto com a Inglaterra. Esse país vai anunciar, agora em outubro, sua saída com ou sem acordo. Essa é uma grande oportunidade para apresentarmos os nossos produtos. Mas a gente trabalha com móveis. O metalmecânico também é muito forte. Existem muitas vinícolas que trabalham com o mercado francês e europeu. Eu acho que nós temos que perder um pouco dessa questão de limite, pois o Brasil é um país produtor. O nosso vinho é considerado um vinho exótico. O nosso espumante é considerado um espumante exótico. Existe um mercado em qualquer lugar do mundo para nossos produtos, mas precisamos criar esses canais comerciais.
Nós vendemos ou compramos mais da Europa?
Nós compramos mais. Nós temos muitas atividades francesas aqui no Estado, principalmente ligado a agroindústria, maquinário para agroindústria e equipamentos do setor moveleiro. Também é muito grande a questão hoteleira. Um dos maiores players, grupos de hotéis do mundo, é francês e está muito forte aqui na região, inclusive é um dos pontos que nós estamos trabalhando para expansão e esperamos em um certo e curto espaço de tempo que isso se concretize. A gente nunca pode deixar de entender que as nossas culturas são semelhantes. Nós temos uma região colonizada por italianos e isso é muito prático para sermos reconhecidos.
O enoturismo está se desenvolvendo muito na Serra. Nesse sentido, como o senhor vê a saída de Caxias do Sul da Região da Uva e Vinho para a Região das Hortênsias? Isso gera algum impacto entre as cidades?
Acho que isso gera um impacto entre nós, serranos. Gera um impacto mais emocional. Lastimo a saída de Caxias do Sul por uma questão de relação. É triste ver que um irmão seu deixa a tua casa, e tu realmente sente isso de forma muito dolorida. Agora, a soberania de cada um dos municípios, ela deve ser evidenciada. Cada município sabe a forma como vai tratar situações e os seus interesses. Vejo uma potencialidade da Região Uva e Vinho tão grande que, se nós medirmos o desenvolvimento das outras regiões turísticas do Estado nos últimos cinco anos, e o desenvolvimento da região Uva e Vinho, a gente vai ver que a nossa ascendência é muito grande.