A somatória de fatores culturais e econômicos enfraqueceu o segmento do comércio voltado à venda de artigos tradicionalistas nos últimos cinco anos. Enquanto na primeira metade desta década Caxias do Sul contava com 11 lojas dedicadas à oferta de artigos gauchescos, atualmente restam sete estabelecimentos na cidade, conforme levantamento do Pioneiro. Muitos dos remanescentes, ainda assim, precisaram se adaptar ao mercado e oferecem, além de indumentária e acessórios tradicionalistas, outros tipos de vestuário, como roupas de passeio, uniformes escolares e até aulas de dança.
— Temos um espaço de 400 metros quadrados, com sobreloja, onde oferecemos aula de dança e promovemos shows nativistas para até 50 casais. Hoje em dia, não adianta só vender o produto. Quando conseguimos ter espaço para trazer mais opções aos clientes, só tem a agregar — comenta Luis Otávio Cavion Ribeiro, proprietário do Bolicho da Serra, há cerca de sete anos no mercado.
Datas comemorativas como Dia das Mães, dos Pais e Natal, geralmente geram uma maior demanda por produtos tradicionalistas por parte do consumidor à procura de presentes. Porém, a especificidade do público consumidor acaba tornando o mês farroupilha o alento para o segmento, que compensa a movimentação moderada da maior parte do ano em cerca de 20 dias, do início de setembro até o dia 20 do mesmo mês.
Dos quatro estabelecimentos consultados pelo Pioneiro, a maioria deles informou que, nesta época, as vendas têm incremento de no mínimo o dobro do restante do ano.
— Para nós, triplica, a loja não para nesses dias. Normalmente trabalhamos com quatro pessoas atendendo, mas, em setembro, aumentamos para oito — comenta Vilmar Luiz Bortolini, proprietário da Mundo em Dança.
— Aumenta pelo menos 50% em comparação aos demais meses do ano. É preciso reforçar o pessoal no atendimento — destaca Ribeiro, do Bolicho da Serra.
Para a proprietária da loja Sentinela da Tradição, Andréia Brisotto Ferreira, além do aumento natural do mês Farroupilha, 2019 tem sido um dos melhores em termos de venda no estabelecimento, existente há cinco anos no bairro Cruzeiro.
— Aumentamos cerca de 10% em relação ao ano passado, e temos pelo menos o dobro da movimentação em comparação aos demais meses — ressalta.
Conforme divulgado pelo Pioneiro nesta semana, não há números sobre movimentação financeira a partir do tradicionalismo em Caxias. Porém, no Estado, o volume gira em torno de R$ 12 bilhões ao ano.
"O ano não é feito só de setembros"
Numa localização privilegiada, trajeto para as principais atrações tradicionalistas remanescentes na cidade, a loja Mundo em Dança fica no caminho dos pavilhões da Festa da Uva, no bairro São José. Ainda assim, de acordo com o proprietário do estabelecimento, Vilmar Luis Bortolini, não é apenas do ponto favorável que o local se beneficia para ter grande movimento.
— Nosso diferencial é que funcionamos das 7h às 21h, sem fechar ao meio-dia, do dia 1º de janeiro a 31 de dezembro. Não fechamos nem domingos, nem feriados — explica.
Em funcionamento há cerca de 10 anos, ele destaca que, além dos horários acessíveis e ampliados, estratégias de venda também precisam ser adotadas para não depender apenas do mês de setembro como lucro de cada ano.
— Tentamos sempre manter preços acessíveis. Também vendemos para fora do Estado. Agora com essas opções tecnológicas, tudo ficou facilitado. O ano não é feito só de "setembros" — salienta.
Escolas estimulam, programação dificulta
Dos quatro estabelecimentos consultados pelo Pioneiro, houve unanimidade em afirmar que as instituições de ensino são atualmente os principais estimuladores indiretos do segmento.
— Em setembro, nossa loja tem acréscimo de 300% em relação aos demais meses. Devemos muito às escolas. A parte infantil é o que dá o sustento ao ano, pois promovem atividades e incentivam as crianças a irem pilchadas. É o que nos salva e ajuda muito. Devemos agradecimento grande às escolas — comenta o proprietário do Galpão do Tio Ci, Joacir Hilario Fontana, o Tio Ci.
— As escolas alavancam o tradicionalismo. (A escola) é a maior incentivadora da cultura gaúcha no Estado atualmente — reforça Vilmar Luiz Bortolini, da Mundo em Dança.
Outro aspecto que se apresenta como unanimidade entre o segmento é o impacto negativo que a redução da programação tradicionalista exerceu nas vendas.
— Há alguns anos, tínhamos uma semana grande, hoje se resume a três, quatro shows, as pessoas vão menos aos Pavilhões. Como enfraqueceu muito a programação, o consumo caiu — avalia Tio Ci.
Ele complementa:
— Se você não monta cavalo toda semana, um par de botas vai durar 20 anos, se não engordar, uma bombacha 10, 15 anos, chapéu toda vida. Agora, se tem evento mais recorrente, você acaba renovando não porque a indumentária fica velha, mas para variar.
— Hoje a gente não percebe nenhum incentivo ao tradicionalismo, a nada na verdade, as pessoas nem vão muito mais aos Pavilhões, por exemplo — lamenta Vilmar Luiz Bortolini.
ESTABELECIMENTOS DO SETOR
Bolicho da Serra
Rua Ludovico Cavinato, 2.606 _ Santa Catarina
3223-8117
Caldart Pilchas
Avenida Júlio de Castilhos, 91 _ Nossa Senhora de Lourdes
3228-4484
Ezequiel Artigos Gaúchos
BR-116, São Ciro (quase em frente à Agrale)
3229-4499
Galpão do Tio Ci
Avenida Itália, 50 _ São Pelegrino
3028-6964
Gaúcho Tchê Loja
Avenida Doutor Mário Lopes, 1.534 _ Centenário
3223-3840
Mundo em Dança
Rua Ludovico Cavinato, 2.118 _ São José
3211-0449
Sentinela da Tradição
Rua Luiz Michielon, 411 _ Cruzeiro
3538-8606