O turismo se caracteriza por ser um dos principais termômetros do peso da flutuação do dólar para o consumidor. Quando o câmbio se valoriza, a tendência é de que as pessoas pensem duas vezes antes de realizar um roteiro internacional. Por outro lado, quando a cotação da moeda norte-americana cai, o interesse por ultrapassar fronteiras aumenta. Neste sentido, empresas do segmento em Caxias do Sul têm adotado estratégias para amenizar o impacto da oscilação recente da moeda e atrair os clientes.
A diretora da agência Sonhe Mais Viagens e Turismo, Sabrina Antunes, aponta que a aposta da empresa foi por segurar a cotação do dólar turismo em torno de R$ 3,94 nos pacotes internacionais, em um momento no qual a divisa tem sido negociada na faixa dos R$ 4,10 nas casas de câmbio de Caxias do Sul. A estratégia é viabilizada a partir da renegociação de valores com os fornecedores.
– Procuramos fazer acordos com companhias aéreas e hotéis e, em alguns casos, conseguimos descontos de 10% a 15% nas tarifas – justifica Sabrina.
Por conta da incidência de impostos e do lucro dos intermediários na transação, a moeda turística costuma ser vendida em torno de R$ 0,10 a R$ 0,15 mais cara do que a comercial.
Apesar dos recentes altos e baixos do câmbio, com o dólar turismo passando os R$ 4,30 em maio, Sabrina enfatiza que, neste ano, um dos maiores problemas do setor está no mercado interno. Isso porque com o fim de diversas rotas da Avianca no país, devido às dificuldades financeiras da empresa, a disponibilidade de passagens aéreas para destinos nacionais caiu e, assim, o preço subiu. A dirigente cita que bilhetes para o Nordeste que custavam R$ 1,4 mil agora não saem abaixo de R$ 2 mil.
A cotação da moeda estrangeira sempre será um fator determinante para o consumidor decidir fazer uma viagem ao Exterior, aponta o diretor da agência Milletur Viagens e Turismo, Milton Corlatti. Mesmo assim, o dirigente considera que o cliente já começou a assimilar o dólar turístico acima de R$ 4,00 e tem se mostrado mais confiante do que em anos anteriores. Neste sentido, outra medida adotada pelos operadores do setor para atrair público é a realização de promoções.
– Temos trabalhado com promoções, do tipo se uma pessoa compra um pacote, viaja com outra junto. Ou damos um upgrade nas cabines de cruzeiros – relata Corlatti.
Para as férias de julho, mais de 70% dos negócios nas agências já foram concretizados. O recesso de meio de ano costuma ser a segunda data mais importante para os operadores do setor, ficando atrás somente das férias de verão. Cruzeiros na Europa, Bariloche (Argentina) e praias do Nordeste estão entre os roteiros favoritos caxienses.
Compra de moeda na última hora
Se nas agências de turismo a demanda voltada ao período das férias de julho já foi quase toda atendida, nas casas de câmbio de Caxias do Sul o cenário é o oposto. A constatação é de que o cliente está esperando até o último momento para comprar dólar ou euro para sua viagem. Essa compra tardia tem como intuito fugir da volatilidade da cotação das divisas internacionais e se tornou algo cada vez mais corriqueiro.
- Evidente que (a oscilação recente) afetou as vendas de moedas estrangeiras. O pessoal está esperando até o último momento para comprar e ver se melhora o preço - constata Javier Palleiro, gerente da unidade caxiense da casa de câmbio CTR.
Nas últimas duas semanas, quando a cotação do dólar iniciou uma trajetória de queda, Palleiro constata que o público voltou a comprar mais divisas estrangeiras. Porém, no primeiro semestre deste ano, ele constata que as negociações do estabelecimento acumulam uma queda de aproximadamente 30% frente ao mesmo período de 2018.
Em alguns casos, casas de câmbio da cidade tem oferecido um serviço de monitoramento do preço de dólar, euro, libra e outras divisas. Desta maneira, o comprador define o patamar que pretende pagar e é avisado, dias mais tarde, caso os operadores consigam a cotação desejada. Na Executive Câmbio, em Caxias, a procura por essa modalidade aumentou neste ano.
- É um reflexo do momento recente. Quando disparou (a cotação do dólar), o pessoal ficou assustado. Então, procuramos ser flexíveis na negociação – salienta Leandro Schmitz, operador de câmbio da Executive.
Schmitz ainda lembra que, quando o dólar turismo bateu na casa dos R$ 4,30, no final de maio, houve um leve aumento na procura de pessoas interessadas em vender o dinheiro estrangeiro que tinham em casa. Nos próximos meses, o operador acredita que a tendência é de que a moeda norte-americana consolide uma cotação na faixa de R$ 3,80, o que no dólar turismo significaria algo entre R$ 3,90 e R$ 4,00.